Encerramento da SBPC Afro e Indígena recebe professora colombiana

Docente da Universidade Cooperativa da Colômbia, Liliana Parra Valencia falou sobre saberes populares na América Latina

Por Renata Menezes – jornalista colaboradora
- Atualizado em
Liliana Parra Valencia fala sobre as práticas intelectuais afro-indígenas na América Latina
Liliana Parra Valencia fala sobre as práticas intelectuais afro-indígenas na América Latina

A SBPC Afro e Indígena encerrou suas atividades no campus Arapiraca com a mesa-redonda As práticas intelectuais afro-indígenas na América Latina, que contou com a presença da professora e pesquisadora Liliana Parra Valencia, da Universidade Cooperativa da Colômbia. Na atividade, foi discutida a necessidade de reconhecer os saberes populares como legítimos, articulando-os às práticas médicas hegemônicas.

A professora iniciou sua fala citando a pesquisa do palestino Edward Said, que realizou um trabalho sobre a representação do Oriente nas produções culturais e midiáticas. Segundo Said, o Oriente é entendido de forma mítica porque o que se conhece sobre ele é produzido pela visão do Ocidente. Liliana fez uma ponte com a tese de Said e o saber popular da América Latina, que ainda é visto como folclore por parte da comunidade científica.

Para a pesquisadora, o saber popular é muitas vezes silenciado devido ao preconceito, por ser praticado principalmente por grupos estigmatizados, como os indígenas e afrodescendentes. Por exemplo, ela conta que na Colômbia são poucos os profissionais da saúde que fazem a integração entre o conhecimento legitimado e as práticas populares. Esses costumam dar mais importância aos saberes reconhecidos pela academia.

O Estado também se impõe como obstáculo, por não reconhecer o suporte prestado pelos curandeiros às comunidades que têm dificuldade de acesso aos serviços de saúde, seja pela distância das áreas urbanas ou por questões financeiras. Apesar disso, esse conhecimento continua vivo e em atividade, especialmente nas localidades rurais.

Quando questionada sobre as relações estabelecidas entre o Brasil e o restante da América Latina, a pesquisadora colombiana destacou que as raízes coloniais são responsáveis pela afinidade entre os países e suas tradições. “A diferença do idioma dificulta o diálogo, mas compartilhamos os mesmos problemas decorrentes do sistema colonial, como a desigualdade, a corrupção, a pobreza, a violência e a má distribuição de terras”, explicou.

Sabendo disso, ela destaca a necessidade de aproximação entre os pesquisadores de toda a América para fortalecer a compreensão sobre as práticas de cura populares existentes no continente. “Nós pesquisadores temos a necessidade de superar as barreiras do idioma para dialogar, pois quando me aproximei do Brasil percebi que todos concordamos em relação aos nossos problemas e trabalhamos do mesmo lado para encontrar soluções”, concluiu.