Mesas na SBPC Educação trataram sobre os caminhos do ensino em tempos de crise

Primeiro dia do evento ofereceu debates e reflexões sobre a educação

Por Eduardo Lira e João Paulo Rocha – estagiários de Relações Públicas
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Primeiro dia da SBPC Educação em Maceió
Primeiro dia da SBPC Educação em Maceió

A tarde da quinta-feira (19), primeiro dia da 70ª Reunião Anual da SBPC na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), esteve repleta de debates sobre a história política da educação no Brasil e os caminhos de desenvolvimento para o futuro no contexto das reformas e privatizações do ensino público. 

Entre as dez mesas dedicadas aos debates, a Escola sem Partido foi tema principal em duas delas. Na primeira, ocorrida no Auditório da Biblioteca, e composta por Iran Barbosa, professor da rede de educação estadual de Sergipe, o debate foi em torno dos fundamentos dos projetos de lei que visam neutralizar os métodos de ensino nas escolas públicas.   

Segundo Iran, os objetivos oferecem riscos à liberdade de expressão dos professores, e apontam para a abertura de um espaço de censura, em que sua aplicação prática pode levar a situações de confusão de valores. “O que existe nesses projetos é a descaracterização do ensino pedagógico como conhecemos atualmente, e que ultrapassa os limites entre a educação proveniente do ambiente familiar, daquela que é ensinada nas instituições públicas”, afirmou. 

A mesa 1968 faz 50 anos: história, memória e esquecimento, contou com a participação dos especialistas em estudos sobre a ditadura no Brasil, Pedro Ernesto, da Universidade Federal do Espírito Santo, e Lucileide Cardoso Costa, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), mediada por Anderson Almeida, professor da Ufal, com mestrado e doutorado sobre a temática. 

A mesa tinha objetivo discutir e refletir sobre o legado do movimento na história mundial, sobretudo em relação aos estudantes e jovens que agiam principalmente contra a ditadura militar, mostrando quais manifestações ocorreram, o que estavam reivindicando, e o contexto das universidades naquele ano. 

Anderson explicou sobre uma das razões de se debater o tema. “Nos deparamos com casos de autoritarismo, repressão, etc., todas estas questões não podem deixar de serem debatidas. Cada geração é marcada por acontecimentos e processos históricos, se não debatermos, poderemos passar por episódios parecidos”, afirmou. 

Reforma da educação básica 

A SBPC Educação também discutiu as problemáticas que a reforma da educação básica abrange e os significados do saber e das práticas de ensino frente às constantes derrotas no campo da docência. A professora Elione Diógenes (Ufal), uma das ministrantes do debate, destacou a importância da questão docente dentro da sociedade, pois a reforma implicaria na desvalorização do professor. “Está sendo proibida de exercer a educação enquanto ato político, e educação é um ato político e não neutro”, afirmou. 

A mesa Formação de professores, autonomia intelectual e formação de si, teve como intuito levar a uma reflexão sobre a formação, ensino e a representatividade do professor. Ocorrida no auditório da Reitoria, Ana Karoline Loula, da Universidade do Estado da Bahia, mediou o espaço em que Roseane Nascimento, do Centro Universitário Joaquim Nabuco, de Pernambuco, apresentou o cenário docente no país, considerando diversos pontos, como  a desvalorização através do capital ao docente e os números atuais das vagas preenchidas para os cursos das licenciaturas, fazendo um comparativo entre distintas conjunturas. 

Após a apresentação, Ciro Bezerra, Professor da Ufal, provocou para uma análise da formação do docente e dos estudantes, onde, segundo o estudioso, é ligada apenas à avaliação, indicadores e provas, deixando de lado a qualidade. “O que sempre me angustiou era ter somente em mim a responsabilidade de formar os estudantes, eles querem aprender, mas não sabem como aprender. Não se aprende só ouvindo, aprende escrevendo, produzindo, trocando conhecimento. Não se deve elevar um professor a um nível de autoridade, aprendemos uns com os outros”, explica Ciro. 

Caminhos para a educação brasileira 

No auditório do Centro de Interesse Comunitário (CIC), os palestrantes da mesa-redonda Educação em transformação apontaram as principais metas para a qualificação do ensino público em Alagoas, por meio de programas de educação integral, que acompanham o estudante de escola pública sob olhar humanizado, além de apresentarem quais os desafios a serem superados. Entre estes, a distorção entre idade-série, os altos índices de reprovação e abandono. 

A secretária de Educação do Estado, Laura Souza (Seduc-AL) explicou sobre função do Núcleo de Acompanhamento Pedagógico em aproximar gestores e estudantes a partir da compreensão de suas necessidades educacionais. “O dado mais preocupante é o da proficiência. Nosso aluno do ensino médio quando conclui esta fase, possui o mesmo conhecimento em matemática que um estudante do 5º ano. Se o aluno chega com essa deficiência escolar, é nosso dever corrigir isso”, declarou. 

Professoras da Ufal, mediadas por Maria Quinor da Silva, também da Universidade, levaram à comunidade a mesa Avaliação de aprendizagem em contextos híbridos de formação, ocorrida no CIC. 

No mesmo local, a mesa A educação infantil entre a prática pedagógica e a formação inicial, discutiu a formação inicial dos profissionais que atuam na educação infantil, onde foram expostos elementos em áreas que ainda existem carências, como a do trabalho educativo com bebês e a formação do professor para este público, pensando de forma mais integral, não se limitando à ideia de alfabetização ou de aquisição de números. 

Além do trabalho com os bebês, foi apresentada uma pesquisa sobre a percepção da educação infantil em outros países, provocando um choque cultural que pode ocasionar na busca por melhorias. “A mesa foi algo extremamente importante não só para nós professores, como para os acadêmicos da área da educação, pois através dela podemos interagir, conhecer um pouco mais da educação infantil, especialmente destes temas que são muito atuais, elevando o profissional a pensar sobre a forma da educação”, disse Janaila Silva, professora de pedagogia da Ufal em Arapiraca, mediadora da mesa.