Mulheres pesquisadoras são destaque na ciência e na SBPC

Grandes nomes compuseram a programação do evento em Alagoas

Por Thamires Ribeiro – estagiária de Jornalismo
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Durante o debate grandes mulheres foram citadas, como a alquimista Maria the jewess; a aristocrata Margaret Cavendish; e a primeira cientista mulher a ganhar os prêmios Nobel de Física e de Química, Marie Curie (Fotos: Thamires Ribeiro)
Durante o debate grandes mulheres foram citadas, como a alquimista Maria the jewess; a aristocrata Margaret Cavendish; e a primeira cientista mulher a ganhar os prêmios Nobel de Física e de Química, Marie Curie (Fotos: Thamires Ribeiro)

“... De árvores tortuosas e exóticas, o cerrado feito mulher, cheio de mistério é enigmática! E o coração não se revela! Lá do pantanal, como as ararinhas azuis, mulheres de todos os cantos e recantos voam livres e formosas, em busca das nuvens num céu de anil! E se lhes cortam as asas, sonham! E vão se arrastando, toando o canto triste de uma jaçanã!”. Esse trecho é do poema que a cientista, professora, 1ª presidente da Sociedade Brasileira de Química e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Vanderlan Bolzani, escreveu para homenagear e encorajar as mulheres brasileiras.

Mulheres como ela, pesquisadoras, vêm se destacando em diversos segmentos do mundo da ciência e são os grandes destaques da 70ª Reunião Anual da SBPC. A programação do evento está recheada de exposições, ações educativas, feiras, conferências, seminários, mesas-redondas, debates, sessão de pôsteres e minicursos, e em todas as atividades o público feminino está ativamente presente.

Grandes mulheres cederam seus conhecimentos e pesquisas para compor a programação da SBPC em Alagoas. Dentre elas, está a professora e cientista física Marcia Barbosa, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), vencedora do prêmio internacional L'Oréal-Unesco destinado às mulheres de destaque na ciência. Para ela, o mundo científico ainda é muito masculino e precisa abrir mais espaço e visibilidade para público feminino.

“A ciência é parecida com uma empresa, foram pegas as 500 maiores empresas do mundo e ordenaram por diversidade [de gênero] e descobriram que as empresas com menos diversidade ganhavam menos dinheiro do que as com mais diversidade. Se tem mais mulher, você ganha mais dinheiro, ou seja, diversidade significa eficiência. Tem áreas que é uma engenheira, um par de matemática, quatro físicas, os números são muito pequenos ainda”, afirmou a docente.

Segundo a professora Lídia Baumgarten, do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte (Ichca) e pesquisadora da Cultura, Memória, Processos Migratórios e Ensino de História, apesar de ainda ser pouco, as mulheres vêm ganhando espaço e entrando com propriedade no mundo da ciência.

“Eu venho de uma tradição, dentro da família, de mulheres que não tem o ensino superior e que mal se formaram, então eu sou uma exceção na minha família por ter chegado ao doutorado. Eu vejo o espaço que nós mulheres temos e estamos conquistando como muito positivo, devemos incentivá-las a crescer e ser sujeito da própria história”, disse a docente.

Assim como Baumgarten, a vice-presidente da SBPC também destaca as posições importantes que as mulheres vêm alcançando: “Eu fui a única presidente da Sociedade Brasileira de Química ao longo de 40 anos. Ao longo de 70 anos tivemos três mulheres na presidência na SBPC, mas nós estamos melhorando, na diretoria atual nós somos maioria”, afirmou. E conclui: “Eu sou de uma geração onde os livros não contavam histórias femininas, então vocês vão mudar essa história, nós estamos vivenciando uma mudança crescente, lenta, mas crescente, então neste momento é extremamente importante um debate”.

Cientistas em debate

Mulheres na Ciência foi o tema de uma mesa-redonda, realizada na quinta-feira (26), no auditório da Biblioteca Central da Universidade Federal de Alagoas, durante a Reunião Anual da SBPC 2018. O debate foi coordenado pela vice-presidente da SBPC e contou com a participação do chanceler da Estácio do Rio de Janeiro, Ronaldo Mota, e das professoras Marcia Barbosa e Vera Almeida e Val, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).

Durante o debate grandes mulheres foram citadas, como a alquimista Maria the jewess; a aristocrata Margaret Cavendish; e a primeira cientista mulher a ganhar os prêmios Nobel de Física e de Química, Marie Curie.

O professor Márcio Barbosa relembrou também a contribuição da monja beneditina Hildegard Von Bingen, não só para a ciência, mas para a arte, política e oratória. “Ela foi tudo o que vocês imaginarem. Ela foi uma médica fantástica, pouca gente conheceu profundamente cada uma das plantas e das ervas como ela, ela falou sobre coisas incríveis, ela é considerada por muitos a percursora da ópera, ela era dramaturga e ao mesmo tempo fazia as músicas, encenou 73 peças da mais alta qualidade”, afirmou Barbosa.

De acordo com a docente Vera Almeida e Val, há um decréscimo de mulheres com bolsas de produtividade 1B, que são menos da metade das ofertadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “As mulheres na ciência não sumiram, elas só não foram estimuladas, não foram incentivadas, elas optaram por ter filhos e atrasaram suas carreiras. Elas continuam lá, mas não na estatística da dominância, das que estão em cargos públicos, das que conseguem produzir cientificamente o mesmo que os homens, elas então em outro patamar”, afirmou.

Os casos de assédio sexual sofrido por mulheres dentro da academia também foram discutidos na mesa. Para a professora do Inpa, muitas delas ainda escondem e não denunciam os por medo. “No Brasil há muitos casos e a maioria não é denunciada porque as mulheres, moças e meninas temem por suas carreiras, elas não querem que isso as atrapalhe. Elas são ameaçadas. O assédio moral e sexual é muito comum através da hierarquia estabelecida”, acrescentou.

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