Palestrantes discutem o direito à saúde e justiça social

Mesa proposta pela Associação Brasileira de Enfermagem abordou o tema acerca das Doenças Negligenciadas

Por Thamires Ribeiro – estagiária de Jornalismo
- Atualizado em
Debate sobre Doenças Negligenciadas na SBPC Alagoas
Debate sobre Doenças Negligenciadas na SBPC Alagoas

Doenças negligenciadas: o direito à saúde e justiça social foi o tema do debate realizado nesta quarta-feira (25) na Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Alagoas, durante a 70ª edição da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A mesa-redonda foi coordenada por James Farley Estevam dos Santos, da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben), e contou com a participação da professora da Ufal Clódis Tavares; da enfermeira Ednalva de Araújo Silva, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau); e de Francisco Faustino, representante do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).

De acordo com a professora Clódis Tavares, as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) são aquelas associadas à situação da pobreza, que atingem as pessoas com menores condições sociais e financeira. Alguns exemplos são a hanseníase, doença de chagas, arboviroses, esquistossomose, malária, tuberculose e leishmanioses.

“As pessoas falam muito que a negligência vem pela falta de recursos e de interesse da indústria farmacêutica, mas tem pontos muito sérios que a gente precisa discutir, porque enquanto a indústria farmacêutica não tem interesse, porque não traz lucros, nós, como profissionais, também estamos negligenciando e temos que repensar o nosso posicionamento. Os fatores político, econômico e social pesam muito historicamente, mas antes disso existe a relação entre as pessoas”, explicou a enfermeira Ednalva Silva.

Segundo os índices apontados pela professora Tavares, em 2015 Alagoas era o estado com a maior taxa de casos de doenças desse tipo, sendo 256,10 para cada cem mil habitantes. Com índice de mortalidade de 5,69%. Para os palestrantes, o fator que mais contribui para o crescimento dessas taxas é a falta de interesse tanto do poder público, quanto dos profissionais da saúde. “Na Universidade nós estudamos muito pouco as doenças prevalentes da população mais carente do país, então os pacientes passam por nós nas formas iniciais e nós não detectamos. Então, o paciente é detectado tardiamente e muitas vezes com complicações sérias”, disse.

“Para quem acompanha esses pacientes sabe o sofrimento causado pelo estigma, porque além do paciente ter estigma, os familiares têm e a população em geral também. Mas o mais grave é o profissional ter esse estigma, e é nessa área que está a maior dificuldade, porque a porta de entrada, que é a atenção básica, não tem o acolhimento que deveria ter com esses pacientes”, ressaltou a enfermeira Ednalva Silva.

Para o palestrante Francisco Faustino, a população também precisa estar bem informada para conhecer os problemas antes que eles se desenvolvam. “Uma população bem informada é o maior aliado da saúde pública, porque a comunidade vai falar de forma precisa e objetiva sobre a sua doença e as pessoas vão entender. Ficar achando que o paciente não tem capacidade de entender é uma grande ignorância”, afirmou.