Pedagogia defendida por Paulo Freire é tema de conferência na SBPC Alagoas
Com sala lotada, conferencista fala sobre a atualidade da pedagogia do oprimido e como a resistência é necessária
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A 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que este ano acontece na Ufal, contou com a conferência Paulo Freire: um outro paradigma é possível? A atividade foi apresentada pelo professor Luciano Mendes (UFMG) e teve como conferencista o professor Miguel Arroyo (UFMG), que é doutor em Educação pela Stanford University, nos EUA.
Mendes fez um resumo histórico de como a educação é tratada ao longo dos anos pelo governo e pela sociedade. Ele deu destaque à importância da educação para a construção do sujeito e do trabalho desenvolvido pelo palestrante sobre essa questão. "O Miguel é um dos que, em torno da educação, mais afirmam a ideia de que os movimentos sociais são lugares e templos de educação. Eles nos educam! É impossível pensar uma educação para a democracia sem que seja uma educação participada fortemente pelos movimentos sociais. Nessa perspectiva, já no final dos anos 70 início dos anos 80 a questão do sujeito na educação se impõe a reflexão do Miguel", destacou.
Na sequência, Miguel Arroyo começou sua fala fazendo um levantamento da educação no Brasil, desde a colonização, com enfoque no livro A pedagogia do oprimido, de Paulo Freire, que serviu de base para toda a palestra. Nessa parte ele justifica que embora o livro tenha sido escrito há 50 anos, ele continua muito atual. E pontua que os oprimidos continuam existindo e resistindo.
"'Os oprimidos resistem! Se afirmam humanos. Se afirmam sujeitos de direitos humanos. Essa me parece ser a solução que Paulo Freire retratava. Paulo insistia muito nos oprimidos. Ele insistia sempre na resistência, nos movimentos de cultura popular de libertação", ressaltou.
Para Arroyo a pedagogia precisa ser vista como educadora e não apenas como uma profissão de sala de aula para alfabetizar as crianças. Ele deixa claro que a área precisa ser agente de humanização, pois do contrário, se torna a “pedagogia do oprimido e da desumanização”.
“[A conferência] Foi enriquecedora para mim. Enquanto futuro docente, negro e gay sinto a desumanização acontecendo a todo o momento. E escutar dentro do espaço da universidade que por muitas vezes, também é um espaço de desumanização, um professor falando sobre dar a voz, dar o espaço, ceder lugar ao sujeito para que ele construa o seu processo de humanização através da educação é libertador, e esse é o caminho para uma educação mais humanizadora", relata o graduando em Pedagogia pela Ufal, Matheus Ivan.
Arroyo faz uma última declaração ainda com foco na resistência dos oprimidos. "Os oprimidos não ficam quietos. Incomodam quando resistem. Porque resistindo mostram que têm saberes e consciência da capacidade que possuem para lutar por uma outra escola e sociedade. É hora de vermos os oprimidos como resistentes! Como produtores de saberes e valores", sugeriu.