Professores expõem o risco das alterações genômicas provocadas pelo ambiente
Convidados trouxeram dados importantes de pesquisas
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Para esclarecer como agentes tóxicos podem causar danos ao genoma humano, a SBPC Alagoas promoveu a mesa-redonda Os efeitos do ambiente sobre o genoma e possíveis consequências, organizada pela Associação Brasileira de Mutagênese e Genômica Ambiental (Mutagen BR). A mesa foi presidida pela professora Juliana da Silva, da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
Juliana falou sobre seu estudo nas alterações das células no uso de agroquímicos da produção agrícola, mais especificamente na produção de uva, soja e tabaco. “O Brasil está entre os Top 10 do mundo no uso dos agroquímicos. Mas isso acontece porque a área do Brasil é extensa, e a área plantada é maior que a de outros países”, informou.
De acordo com a professora, a pesquisa da ação desses agroquímicos no homem é afetada pelo fato de não se poder especificar o que cada elemento pode causar, dificultando o estudo da ação individual de cada um deles no homem. “Não se usa um único agroquímico, se usa uma combinação, os principais efeitos dessa mistura são carcinogênicos e danos genéticos [aberrações cromossômicas]”, explicou.
Juliana afirmou que na vinicultura do Rio Grande do Sul é comum o individuo não usar equipamento de proteção, o que expõe os trabalhadores agrícolas a um risco maior. Para medir os níveis de toxicidade provocada pelos agroquímicos, os pesquisadores viajavam ate os pontos onde estavam os indivíduos para fazer coleta de material de analise.
Outras culturas também fazem uso indiscriminado de herbicidas, como a soja e o tabaco, segundo a professora, há momentos na safra do grão que chega a usar mais de 110 tipos de agroquímicos. Já na cultura fumageira existe uma preocupação a mais com o não uso de equipamentos. “Além dos agroquímicos a que eles que estão expostos, ainda tem o contato com a nicotina da folha do tabaco. No final do dia é como se o individuo tivesse fumado 36 cigarros”, esclarece Silva.
A professora destaque a importância de ações conscientizadoras para promover a diminuição do uso de elementos tóxicos e a proteção contra os efeitos danosos desses materiais. “A população precisa saber que vai estar exposta a agentes químicos que vão causar alteração no seu genoma”, alertou.
Meio ambiente
O professor Cesar Koppe Grisolia, da UnB, reforçou que a falta de preocupação da população mundial com a preservação do planeta pode causar vários danos, como as alterações epigenômicas. Ele advertiu sobre a queima excessiva de combustíveis fósseis e o uso ou a produção de outras substâncias nocivas ao meio ambiente. “Nos últimos 100 anos determinados gases estão aumentando sua concentração e o aumento de suas concentrações causa maior retenção de calor o que leva ao aquecimento global”, disse Grisolia.
Segundo o professor, a produção agrícola é a maior responsável pelo consumo de água em larga escala e a contaminação dela pela pulverização dos agrotóxicos nas plantações. O que acaba contaminando o ser humano e os animais que vivem nos rios, açudes e lagos. “As pessoas não estão só se contaminando através da água que consomem, mas também através do peixe que comem”, afirmou.
Ele ainda alertou que o aquecimento global também influencia na situação de contaminação da água: “Quanto mais sol, mais calor, quanto mais calor, menos água, quanto menos água, maior proliferação das cianotoxinas através das cianobactérias”.
Impacto genético
A última palestrante da mesa foi Silvia Regina Batistuzzo de Medeiros, professora da UFRN, que iniciou sua fala contextualizando que “a estabilidade do DNA depende do meio ambiente. Através do estudo do DNA é possível antever um problema que poderá surgir”.
A pesquisadora relatou sobre o trabalho de pesquisa de sua equipe, realizado na cidade de Lucrecia, no Rio Grande do Norte, onde os índices de câncer são mais de três vezes superior ao da capital, Natal. Lá foi percebida uma grande concentração de radônio, um elemento carcinogênico do tipo 1, segundo a International Agency For Research On Cancer (IARC). “O radônio é um elemento consequente do decaimento do urânio, 89% dos casos de câncer provocados por radônio é de pulmão”, explicou a professora. Isso ocorre porque o radônio suspenso no ar é inalado. “A radiação ionizante causa morte celular, carcinogênese e envelhecimento” completou Medeiros.
O grupo de pesquisa mediu a contaminação da água e do ar e definiu ações para diminuir a concentração de substâncias danosas, que seriam: arejar as casas e deixar a água estocada em reservatório para que o radônio evaporasse. A professora explicou que realizou a pesquisa-ação, que é quando envolve a população, “busca a resolução de um problema real com a participação da população”.