SBBq apresenta progressos de pesquisas em endemias e epidemias
Pesquisadores apresentam novas técnicas e medicamentos de controle das doenças
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Promovida pela Sociedade Brasileira de Bioquímica (SBBq) a mesa-redonda realizada na tarde da segunda-feira (23) trouxe novidades de pesquisas realizadas no controle de três patologias no Brasil. A mesa presidida pela professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e presidente da SBBq, Selma Jeronimo, teve a participação dos médicos Paulo Roberto Machado, professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia(Ufba), Maurício Nobre, da Secretária Estadual de Saúde (Sesap) do Rio Grande do Norte, e de Sinval Brandão, diretor do Instituto Aggeu Magalhães/FioCruz.
O tema foi selecionado para apresentar os resultados de estudos recentes envolvendo novas substâncias para o desenvolvimento de medicamentos e técnicas mais eficazes no controle de duas endemias que há muito atingem a população brasileira, Leishmaniose e Hanseníase, como também expor a complicação causada pelo Zika Vírus e sua relação com a microcefalia. “A compreensão desses mecanismos moleculares envolvidos na infecção por esses patógenos são pontos importantes na compreensão de doenças, mas também com possíveis vias de intervenção”, afirmou Jeronimo.
O primeiro a apresentar seus estudos foi o professor Mauricio Nobre, que tem larga experiência no diagnóstico e tratamento da hanseníase no estado do Rio Grande do Norte. Segundo o médico, a marca da doença é a deformidade física, mas esse estágio só é atingido quando a identificação é negligenciada. “A deformidade é o retrato da negligência com o diagnóstico da doença”, afirmou.
Seu trabalho foi pioneiro no uso de mapeamento por GPS de casos de hanseníase, assim como a realização de uma busca ativa na rede de convívio de pacientes portadores da doença. De acordo com o médico, o Brasil ocupa a segunda posição no mundo em casos de hanseníase, com 25 mil novos casos em 2016. A doença não possui vetores nem vacinação específica e o seu hospedeiro é o ser humano.
A pesquisa de Nobre destacou que no caso da hanseníase multibacilar, há uma relação do número de casos e o sexo e idade dos pacientes, dos portadores a quantidade de homens idosos é maior. A importância de seu estudo promoveu a publicação de uma Nota Técnica por parte do Ministério da Saúde acrescentando dados da sua pesquisa.
Em seguida, o médico e professor da Universidade Federal da Bahia, Paulo Machado, abordou sua pesquisa no tratamento e cura da Leishmaniose. Machado informou que o Brasil tem o maior número de casos da endemia na América do Sul. O trabalho utilizou miltefosina, substância que apresentou uma taxa de cura de 75% quando aplicada em pacientes de Corte de Pedra, povoado de Presidente Tancredo Neves, no interior da Bahia, local que possui cerca de 50 % dos casos de Leishmaniose no estado baiano.
De acordo com Machado, o uso da miltefosina em humanos ainda não foi aprovado pelo Ministério da Saúde, mesmo com a baixa eficácia e a toxidade dos medicamentos usados atualmente, a droga só foi liberada para o uso veterinário. O médico ressalta que a pesquisa em novos e mais eficazes tratamentos é negligenciada, e que a falta de investimento é causada pelo baixo poder socioeconômico dos portadores da doença.
Para finalizar, Sinval Brandão apresentou o trabalho de seu grupo de pesquisa no início da epidemia do Zika Vírus no Brasil, de janeiro a dezembro de 2016. O estudo foi um dos primeiros a associar a doença à microcefalia. Brandão já possuía experiência em arboviroses “Foi graças a essa experiência que conseguimos articular de forma rápida projetos interinstitucionais para iniciar de imediato estudos que tentassem contribuir para o esclarecimento da epidemia de Zika com os casos de microcefalia”, explicou.
Selma Jeronimo concluiu a agradecendo a participação de todos e destacou que é necessário haver mais investimentos em educação para que haja uma mudança na estrutura da vida da população.