Vulnerabilidade da saúde nas populações afro e indígena foi discutida na reunião da SBPC
Dentre as dificuldades, falta de humanização no atendimento, saber popular e racismo no tratamento com negros e índios foram apresentadas
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Durante a mesa-redonda "Vulnerabilidades da saúde das populações afro e indígena", na última sexta (27), em meio as atividades da 70ª Reunião Anual da SBPC, o destaque foram as causas e consequências das péssimas condições do serviço de saúde no Brasil e o que pode ser feito para mudar esse quadro. Estiveram presentes as palestrantes Meyre Xucuru Kariri, enfermeira, representando os indígenas Kariri; Michely Ribeiro da Silva, psicóloga pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e a médica Rosana Quintella Brandão Vilela, pesquisadora da Rede Lai Lai Apejo- Saúde da População Negra de Aids. A atividade foi coordenada pela professora Ângela Maria Benedita Bahia de Brito da Ufal, no auditório do CEDU, no Campus A.C. Simões.
Meyre Xucuru falou dos principais problemas que enfrentou quando atuou enquanto agente de saúde e membro do Conselho de Saúde do estado. Durante esse período, trabalhou para tirar mais de 700 indígenas do risco de morte por doenças. Em suas funções diárias, percebeu diversas irregularidades, tentou por várias vezes reverter esse problemas, que eram consequências de planejamentos mal sucedidos, onde os mais prejudicados eram os indígenas. Em decorrência disso, sofreu ameaças e perseguições. Hoje, Meyre trabalha apenas como enfermeira. Ela acredita que “embora os profissionais tenham formação para dar assistência ao povo indígena, falta qualificação humana para atendê-los” e completa: “esse profissional tem que ter uma visão ampla, que atenda, por exemplo, quais os benefícios naturais da casca e da sementes da abóbora e isso os médicos, normalmente, não explicam para eles, que são de maioria analfabetos.”
Já a psicóloga Michely Ribeiro falou sobre racismo no Brasil, citando o Programa de Combate ao Racismo Institucional no Brasil - PCRI. Segundo ela, o Racismo Institucional “é o fracasso das instituições e organizações em prover um serviço profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cultura, origem racial ou ética” e que se manifesta “por meio de normas, práticas e comportamentos, discriminatórios adotados no cotidiano de trabalho, resultantes da ignorância, preconceito ou de estereótipo racistas”
Mychely mostrou dados do ano 2000 que já dizia: “existe racismo no Brasil, mas não existe racista” isso porque, segundo ela “os brasileiros não se consideram racistas” e explicou que “não é por maldade que as pessoas são racistas, mas por falta de acesso ao conhecimento que o sistema não explica”. Por isso, sugere “pensar o sujeito em sua integralidade: cultura; condições de participação social; o lazer; orientação sexual; bem estar físico, mental e social; educação; transporte; segurança; saneamento básico; o trabalho, a renda; relações raciais; religiosidade e acesso aos bens e aos serviços essenciais”.
A médica Rosana Vilela apresentou os resultados de sua pesquisa “Negro em Alagoas: sobre a doença falciforme”. A doença Falciforme é uma alteração genética nos glóbulos vermelhos (sangue). As células morrem de forma prematura, resultando numa anemia, que é a falta de glóbulos vermelhos saudáveis, levando o acometido a sentir dores.
Em seus estudos ela analisou pessoas de baixa renda e negras, com o objetivo de propor a construção de ações preventivas com melhores respostas sociais. “Acredita-se que Alagoas possuía características genéticas semelhantes ao estado de Pernambuco. O Teste do Pezinho não só provou que há diferenças, como também, contribuiu no diagnóstico prematuro em crianças, para o tratamento”.