Lapis alerta que mais um satélite detectou grande vazamento de óleo

Imagens ratificam dados do primeiro satélite que identificou a mancha no mar, próximo ao RN

Por Ascom Ufal
- Atualizado em
Fonte: Lapis/Ufal
Fonte: Lapis/Ufal

O Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis) identificou uma nova “peça-chave” do “quebra-cabeça” sobre a origem do vazamento de óleo no Litoral do Nordeste.

A identificação do vazamento de óleo, na última terça-feira (12), na imagem de mais um satélite, o Aqua- Modis, além do registro já localizado do Sentinel-1A, reforça a hipótese de ter havido um grande vazamento de óleo no Litoral Norte do Nordeste, no dia 24 de julho.

De acordo com o professor Humebrto Barbosa, a mancha de óleo detectada, a 40 km de São Miguel do Gostoso (RN), possui, pelo menos, 85 km de extensão, por menos de um km de largura. Mas a hipótese do Laboratório é de que ela seja ainda maior.

No último sábado, dia 9 de novembro, o Lapis divulgou o resultado de mais uma etapa dos estudos para identificar a origem das manchas de óleo que poluem o Litoral do Nordeste. Leia mais aqui

De acordo com a análise, dados de inteligência marinha e de monitoramento por satélites permitiram descartar a relação entre a trajetória dos cinco navios gregos, investigados pela Marinha do Brasil e Polícia Federal, e o derramamento de óleo no Litoral do Nordeste.

As informações da trajetória dos navios foram correlacionadas com a imagem registrada pelo satélite Sentinel-1A, no Litoral Norte do Nordeste, no dia 24 de julho de 2019.

Em nota, no dia 10 de novembro, a Marinha do Brasil classificou a ocorrência como “falso positivo”, mas não explicou os fundamentos técnicos que levaram a essa conclusão.

Satélite Aqua-Modis também detecta mancha

Na última terça-feira, dia 12 de novembro, o Lapis identificou que o satélite Aqua-Modis também registrou uma grande mancha de óleo no Litoral Norte do Rio Grande do Norte, na mesma localização geográfica do vazamento detectado pelo Sentinel-1A.

A imagem foi localizada após mais de um mês em que o Lapis analisa imagens retroativas, do satélite Sentinel-1A, tecnologia mais avançada para detecção de desastre ambiental por vazamento de óleo.

De acordo com o pesquisador do Lapis, Humberto Barbosa, a imagem do Aqua-Modis veio reforçar, de forma ainda mais contundente, a ocorrência registrada pelo satélite Sentinel-1A, no dia 24 de julho, nas proximidades do Rio Grande do Norte.

Barbosa explica que o satélite Aqua-Modis é do programa de Observação da Terra (EOS), da Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço (Nasa), dos Estados Unidos. Ele tem uma missão totalmente independente, em relação ao Sentinel-1A, que pertence à Agência Espacial Europeia (ESA). Mesmo assim, ambos detectaram a mesma situação acontecendo ali.

“A imagem do Aqua-Modis reforça a continuidade da ação imageada naquele área, no dia 24 de julho. Já tínhamos detectado a mancha de óleo pelo Sentinel-1A e agora tivemos acesso a uma imagem mais ampliada, com o aumento da faixa detectada pelo satélite”, analisa Barbosa.

O pesquisador analisou que, como o satélite Aqua-Modis só capturou imagens daquela área no início da tarde, já verificou-se certa sinuosidade na mancha de óleo. Essa sinuosidade foi provocada pela força dos ventos e das marés.

A grande mancha já apresentava também algumas falhas. Diferentemente, o Sentinel-1A detectou aquela faixa às 8h, com a mancha ainda em sentido retilíneo, embora também apresentasse falhas.

Os dois satélites possuem sensores e resoluções distintas, além de passarem por ali em horários diferentes. Também diferem em relação às propriedades físicas analisadas.

O Aqua-Modis detecta a imagem mais escura da mancha de óleo, por meio de reflectância na banda dois do infravermelho próximo. Reflectância é o fluxo de radiação eletromagnética refletido para o sensor, a partir da superfície do mar.

Já o Sentinel-1A é um Satélite de Abertura Sintética (SAR), que emite energia em micro-ondas, e o sinal recebido não tem interferência da atmosfera. São metodologias diferentes, e uma imagem complementa a outra.

A hipótese do Lapis é que o vazamento de óleo pode ter partido de um navio-fantasma, que navegou pela Costa do Nordeste, sem identificação. Leia mais sobre o assunto aqui

Possivelmente, o navio que poluiu o Litoral do Nordeste navegou com o transponder desligado. Trata-se de um aparelho que registra, em detalhes, toda a trajetória do navio pelos oceanos, incluindo horários, paradas e possíveis eventualidades ocorridas ao longo do percurso.

Com relação aos cinco navios gregos investigados pela Marinha e Polícia Federal, sob suspeita de um deles ter cometido o desastre ambiental no Nordeste, o Lapis descartou qualquer relação das embarcações com o derramamento de óleo.

Chegou-se a essa conclusão, a partir da análise de dados de geointeligência marinha, fornecidos pela companhia inglesa Marine Traffic, que contêm toda a trajetória e localização dos navios, em horários e coordenadas geográficas específicas.

O percurso dos navios gregos não coincidiram com as imagens de satélites que detectaram vazamento de óleo no Litoral Norte do Nordeste, no período analisado.

Mancha detectada pelos satélites é de vazamento de óleo no mar

A partir de agora, com a detecção, por mais um satélite, da mancha de óleo no Litoral Norte do Nordeste, a hipótese do Lapis ganha força.

De acordo com Barbosa, a imagem do Aqua-Modis, mesmo não sendo específica para identificar esse tipo de desastre no mar, veio reforçar e ampliar a identificação feita pelo Sentinel-1A, que também detectou a presença de navios ao lado da mancha de óleo.

Com o avanço das investigações, todas as possibilidades de ter havido um ruído ou interferência no sinal recebido pelos satélites, ao capturar essas imagens, foram eliminadas.  São elas: correntes marítimas, nuvens, brisas, fitoplâncton, topografia do fundo do oceano ou mesmo o rastro de um navio.

"A única interferência possível seria a de o satélite Sentinel-1A ter registrado um rastro, deixado por um navio sobre a água. Porém, pela geometria, intensidade, espessura e tamanho da mancha, também eliminamos a possibilidade de ter havido esse ruído”, completa Humberto Barbosa. 

Diante dessas evidência, o Laboratório reforça que a mancha detectada pelo satélite Aqua-Modis e pelo Sentinel-1A, de fato, é de um grande vazamento de óleo naquela região.