Ufal tem a primeira mulher surda a defender mestrado em Alagoas
Anne Karine defendeu dissertação pelo Programa de Linguística e Literatura
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Neste mês de março, a Ufal teve mais um importante registro em sua história institucional com a primeira mulher surda de Alagoas a defender uma dissertação de mestrado em território alagoano. A data foi marcada para 8 de março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, como forma de marcar esse ponto na memória da Universidade.
Anne Karine Silva de Goes defendeu o trabalho Marcadores prosódicos da Libras: o papel das expressões corporais, pelo Programa de Pós-graduação em Linguística e Literatura (PPGLL) da Ufal, sob orientação do professor e doutor em Linguística, Jair Barbosa. “O trabalho é voltado para a descrição dos marcadores prosódicos da Libras, língua de modalidade visuogestual”, explica a nova mestra.
Fluente em Língua Brasileira de Sinais (Libras), Anne teve que superar o desafio da escrita científica em língua portuguesa, uma vez que a gramática e a construção argumentativa das duas línguas são diferentes. Dificuldade que teve de ser enfrentada já durante a graduação em Letras Espanhol, a qual foi realizada numa instituição privada.
“O momento de fato foi de inclusão. Surda, numa sala de aula com intérprete de Libras. Porém, tive dificuldade na área de linguística. Foi um desafio estudar análise teórica e linguística”, relembra. “Pensei em mudança para outras áreas, a exemplo da biologia ou pedagogia, mas decidi continuar com a graduação. Para mim, todo desafio é razão para desenvolver a vida”, diz ela que, atualmente, faz o curso de Letras Libras pela Faculdade de Letras (Fale) da Ufal.
Seguir os estudos na pós-graduação, conta Anne, foi a realização de um sonho. “Fiquei curiosa com as áreas de mestrado e dourado no PGGLL. Perguntei a uma amiga que já estudava e ela me explicou como participar da seleção”, relembra. “Conversei com o professor Jair, demonstrei meu interesse e ele aceitou ser orientador”, afirma.
Feliz com a conquista, Anne ficou surpresa quando soube que era a primeira surda alagoana a ter o título acadêmico de mestra realizado no Estado. “Fiquei confusa, sem saber explicar. Estou muito feliz e minha família também. Recebi muitas mensagens”, diz ao comentar a repercussão. O docente responsável pela orientação do trabalho também comemora: “A formação da Anne Karine é um marco histórico para a Ufal e para a Comunidade Surda alagoana, que a terá como referência. Enquanto orientador, fico bastante feliz por esse momento que é, a um só tempo, de comemoração e de superações de diversos obstáculos sociais e acadêmicos”, afirma.
Acessibilidade no PPGLL
Orientador de Anne Karine durante o mestrado, o professor Jair Barbosa informa que “desde 2016, por meio de políticas linguísticas e de acessibilidade, o PPGLL começou a receber pessoas surdas na Ufal, sendo o primeiro programa a adotar tal medida. Isso atesta a contribuição social e acadêmica do PPGLL”.
“A Anne Karine fez parte desse grupo de pessoas surdas do PPGLL. Agora, mestra em Linguística, destaco o fato de ela ser a primeira mulher, negra e surda formada em nível de pós-graduação stricto senso em território alagoano”, comemora o docente. “Temos também a surda Érika Silva, que, em busca de oportunidade para estudar, foi para o Sul do país, onde fez mestrado e hoje é aluna de doutorado na UFRGS, onde também é professora.
Ainda de acordo com o docente, “dos 12 surdos matriculados no Programa, nove deles são professores de instituições federais (UFCG, IFPE, UFRPE, UFC, UFS, UFPB e Univasf) e os demais em instituições privadas”.