Andifes publica nota sobre autonomia universitária e ataques à área de humanas

Por Andifes
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Universidades conjugam múltiplos saberes

Universidades são projetos de Estado e não simplesmente desse ou daquele governo. São, portanto, projetos de longa duração, para os quais colaboram todas as áreas do saber. Por isso, suas medidas elevadas respondem a interesses imediatos, mas também a interesses estratégicos da humanidade. Para realizar essa missão elevada, elas contam com autonomia consagrada na constituição federal — em particular, para a definição dos cursos que ministram, das pesquisas que realizam e das relações diversas que estabelecem com a sociedade.

Tendo a prerrogativa de decidir quais cursos devem ser ministrados, levam em conta, para isso, a especificidade do campo do saber, sua qualidade científica e acadêmica, a composição qualificada de seu corpo docente e, certamente, o interesse da sociedade, tanto imediato, quanto de longo prazo. Da mesma forma, é da essência das universidades procurarem a colaboração entre saberes disciplinares distintos, pois a cooperação íntima entre as diversas áreas do conhecimento encontra-se entre os valores definidores que distinguem as universidades e lhes permitem dar conta dos desafios colocados pela realidade. Cercear ou agredir uma área do conhecimento equivale, assim, a amesquinhar a própria ideia de universidade e a comprometer sua finalidade institucional.

Cabe, pois, reagir às recentes notícias de que o governo federal pretende reduzir, com “medidas agressivas”, o financiamento para a área de humanas, nominando especificamente a filosofia e a sociologia. Ao tempo que reitera a necessidade de investimento adequado em todas as áreas do conhecimento, em conformidade com a história, a realidade e o plano de desenvolvimento de cada instituição universitária, a ANDIFES associa-se às manifestações de diversas associações científicas e de outros setores da sociedade civil que ora rejeitam com firmeza o anúncio de propósitos que antes denunciam desinformação, preconceito e estreita motivação ideológica, desconhecendo a autonomia universitária, a natureza da produção científica e a necessária colaboração entre as áreas do conhecimento.

As universidades públicas são reconhecidas como um lugar fundamental de combate ao preconceito, à ignorância, ao atraso, à violência, sendo, destarte, instituições exemplares da civilização. A agressão à universidade por visões imediatistas desconhece sua tarefa permanente de produção de conhecimento e de formação de profissionais de nível superior, podendo significar um atraso tecnológico, cultural e científico em relação aos outros países, com prejuízos para as condições de vida e o bem-estar de nosso povo.

Nesse sentido, cabe registrar que a ANDIFES tem empreendido ações diversas de esclarecimento sobre o sentido e a importância das universidades públicas — instituições nas quais se realiza a quase totalidade da pesquisa em nosso país, sendo elas expressão de um ensino de qualidade e de laços fundamentais com a sociedade. Enfim, a ANDIFES saúda, em particular, a recente criação da Frente Parlamentar de Valorização das Universidades Federais, ao tempo que convida a comunidade universitária e os diversos setores da sociedade para a reflexão sobre o papel da universidade, que é, afinal, um patrimônio de todos e um símbolo característico de países que não comungam com o atraso econômico nem com o atraso cultural.

Brasília, 29 de abril de 2019

Reinaldo Centoducatte

Presidente da Andifes