Pesquisa mostra influência do homem em mudanças micrometeorológicas
Resultados são importantes para planejamento de economia hídrica
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Diversos professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) têm destacado o nome da instituição por meio de pesquisas científicas com grande social. O professor Jório Cabral, do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente (Igdema), do Campus A.C. Simões, é um deles, que iniciou seu trabalho com o objetivo de analisar a tendência de uma série temporal de evapotranspiração de referência.
Jório explicou que a pesquisa teve início a partir da observação feita das áreas de estudo, os polos de irrigação localizados em Juazeiro, na Bahia e em Petrolina, Pernambuco. “Elas [as áreas de pesquisa] já vinham passando por algumas mudanças ambientais, principalmente no que se refere à questão de superfície por troca de mata nativa, que seria a caatinga, por produção agrícola”, explicou o professor. O docente ainda falou da influência da criação do Lago Sobradinho, na Bahia, na década de 70.
Segundo estudos, algumas variáveis micrometeorológicas, como a temperatura e a umidade, já vinham indicando a mudança em seu comportamento em função dessa mudança na superfície. Uma das variáveis que o professor teve curiosidade de analisar foi a chamada “evapotranspiração de referência”. “Nada mais é do que a demanda energética da atmosfera para a conversão da água do estado líquido para o estado de vapor, no sistema da superfície. Seja em superfície livre ou da própria planta”, explica. A evapotranspiração seria a soma da evaporação mais a transpiração das plantas, e isso vai depender da energia da atmosfera.
“O intuito dessa pesquisa foi de verificar o que estava acontecendo com a evapotranspiração numa série temporal de 39 anos, para apurar se estava havendo alguma tendência com o aumento da temperatura de ar, com um possível aquecimento global”, disse o professor. Na pesquisa em áreas irrigadas foi verificado se a evapotranspiração aumentava ou diminuía com o tempo.
Foi constatado que o homem, quando modifica a cobertura do solo com o aumento das áreas de cultivo, inclusive aplicando a irrigação, cria um ambiente mais úmido. Segundo o professor, a criação do Lago Sobradinho ajudou para o aumento na umidade, diminuindo, assim, a temperatura média. Dessa forma, houve a colaboração para a diminuição da evapotranspiração de referência.
Para realizar a pesquisa foram utilizados três testes, sendo eles os de Mann Kendall, para verificar se havia significância na tendência, o de Sen, para observar a magnitude dessa tendência e o teste de Pettitt, para saber quando ela iniciou.
Resultados do estudo
Após as pesquisas, o professor afirma que foi perceptível que o homem tem o poder de modificar as condições micrometeorológicas de um local, fazendo com que o ambiente que possui maior demanda energética para evapotranspirar tenha suas taxas diminuídas. Em Petrolina houve a diminuição de 7,5mm de evapotranspiração de referência por ano, enquanto em Juazeiro o decréscimo foi de 14,5mm por ano. Dessa forma, há uma contribuição de conhecimento para aqueles que lidam com recursos hídricos.
“Com esse conhecimento os gestores de maneira geral, mas principalmente os voltados para a questão dos recursos hídricos, na agricultura local, terão conhecimento de que a quantidade de água necessária para irrigação local tende a diminuir. Portanto, há uma economia hídrica, pois você diminui a quantidade de água necessária para repor no solo a quantidade que as plantas e as culturas de maneira geral necessitam para se manterem ativas”, disse Jório.
Além do Brasil
A pesquisaganhou reconhecimento internacional e foi publicada em uma revista de qualis A (sistema utilizado para classificar obras científicas), a Springer Link. Publicado em inglês, o artigo citou o professor Jório da Ufal, mas houve também a ajuda de professores de outras instituições, como Bergson Bezerra, Hermes Almeida e Cláudio Moisés.
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