Atividade no Pinheiro ouve relatos de moradores sobre situação

Trabalho realizado por estudantes de Geografia focou no lado social do problema; moradores precisaram deixar suas casas

Por Renata Morais - estagiária de Jornalismo
- Atualizado em
Moradores do PInheiro relatam problemas para estudantes de Geografia
Moradores do PInheiro relatam problemas para estudantes de Geografia

A situação vivida pelo bairro do Pinheiro com o aparecimento de rachaduras e buracos na região tem gerado inúmeras discussões na sociedade, especialmente entre  a comunidade universitária. Não foi diferente com as turmas da professora do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente (Igdema) Paula Stroh. O tema trazido pela docente da Ufal para sala de aula culminou numa atividade desenvolvida por alunos na disciplina de Sociologia Ambiental do curso de Geografia, que encerrou em abril. A iniciativa objetivou realizar entrevistas por estudantes com moradores do Pinheiro, para ouvir suas queixas e a visão deles sobre a responsabilidade do problema. 

A professora Paula tem acompanhado as notícias referentes às práticas de extração de minérios no país, e Maceió passa a fazer parte desse contexto com o problema sofrido pelo Pinheiro. A ideia para o trabalho com os alunos logo entrou nas discussões em aula. “Desde o desastre de Mariana, tem chamado muito a minha atenção o grau de insustentabilidade das práticas da mineração no Brasil. O bairro do Pinheiro sempre emergia dos debates teóricos apoiados na bibliografia do curso. Assim, o último módulo da matéria Sociologia Ambiental foi substituído por uma expedição de campo na localidade, concentradamente na zona definida como de risco [vermelha]”, expõe. 

Para a execução do projeto pedagógico foi necessária uma preparação especial das duas turmas orientadas por Stroh para a aplicação do questionário aos residentes da área do Pinheiro. “Elaboramos um roteiro de perguntas, os estudantes receberam um treinamento instantâneo em metodologia de pesquisa social qualitativa, focalizado na ferramenta de entrevista e foram a campo. A produção foi concluída em 45 dias aproximadamente”, explica a docente. 

“É importante ressaltar que o relato que apresentamos não é resultado de pesquisa, no estrito sentido acadêmico. Falta muito para isso. Pode vir a ser, mas ainda não é. Objetivamos conferir visibilidade aos dramas humanos impostos por uma atividade econômica que concentra os seus benefícios e distribui amplamente os prejuízos”, esclarece a orientadora do projeto. Ela acredita que a iniciativa, apesar de não ser fruto de estudo científico, possibilita a notoriedade das histórias dos moradores pelo contexto sofrido na região. 

Experiência adquirida 

Diversas ramificações profissionais puderam ser notadas pelos discentes durante a atividade, tanto quanto seu uso como possibilidade para auxiliar no caso. “Podemos compreender a importância do Planejamento Urbano para evitar casos como esse, por exemplo, com a presença de geólogos e outros profissionais da área, antes e durante construções, sejam de condomínios ou residências. Assim, há uma análise da área e do solo onde serão construídos. Também observamos como engenheiros podem contribuir com sua atenção e cautela durante explorações, podendo evitar situações como essa, e futuras”, reflete a estudante de Geografia, Izabelle Matos. 

Para um dos estudantes participantes da ação, Daffylo Almeida, enxergar as dificuldades passadas pelos habitantes do bairro despertou um olhar mais humanizado diante da adversidade vivida. Além disso, manifesta a pluralidade dos aspectos científicos que envolvem o caso. “O problema do bairro é muito maior que físico, geomorfológico ou geológico, é social! As pessoas estão afetadas porque tiveram o seu lugar atingido, a relação com ele. Na vida do ser humano, o lar  é muito mais que apenas um teto, é um afeto, uma ligação harmoniosa. O desenvolvimento desse trabalho nos levou a ter uma visão diferente, a nos sentimos mais humanos ao dar oportunidade para pessoas se expressarem!”, sintetiza. 

A idealizadora da atividade, Paula Stroh, analisa que a aproximação com a realidade do Pinheiro trouxe benefícios singulares aos discentes e potencializa a percepção sobre as relações humanas entre os sujeitos envolvidos. “A abordagem de campo do estudo socioambiental permite a apreensão da realidade com todos os sentidos, o aguçamento da sensibilidade e do sentimento de solidariedade. Isso é enriquecedor para a elaboração racional com base no raciocínio compreensivo”, finaliza a professora do Igdema.