Orquestra Pedagógica lança Acordes em Cordel

Projeto de extensão quer promover nas escolas a união da literatura de cordel com a música

Por Simoneide Araújo - jornalista colaboradora
- Atualizado em
Músicos da Opufal colocaram a mão na massa e ajudaram a construir o texto do espetáculo
Músicos da Opufal colocaram a mão na massa e ajudaram a construir o texto do espetáculo

Um novo projeto da Orquestra Pedagógica da Universidade Federal de Alagoas (Opufal) quer unir literatura de cordel e música. O que se pretende é levar às escolas concertos didáticos, para despertar em crianças e adolescentes o gosto pelo universo musical erudito, só que de uma maneira bem simples, numa linguagem que faça parte do cotidiano desse público.

Coordenado pela professora da Escola Técnica de Artes da Ufal, Miran Abs, que também é regente da Opufal, este projeto pretende apresentar, para crianças e adolescentes, tudo que envolve uma orquestra, música erudita e seus compositores, utilizando linguagem simples e lúdica da literatura de cordel. “Pensei muito sobre qual a melhor forma de despertar nas crianças e adolescentes o gosto pela música erudita. E de tanto pensar até me inspirei [rsrs]: Boa noite meus senhores! /Uma história vou contar /de grande compositores / que talvez vocês nem tenham ouvido falar / É Mozart? É Beethoven? É Bach?... Esses versos me levaram a acreditar que música e cordel podem ser a chave para trabalharmos nas escolas”, disse Miran, entusiasmada.

Além de unir a linguagem popular do cordel com a música orquestral, Miran colocou mais um instrumento para atrair o público escolar: o teatro. “Vamos apresentar o concerto didático de forma simples e por meio de rimas, elementos característicos da Literatura de Cordel. Para isso, criamos a personagem Maria Cordelina, que irá entrelaçar todo o enredo dos nossos encontros com as escolas”, reforçou.

A personagem Maria Cordelina., segundo Miran, vai quebrar a barreira que há entre o popular e o erudito. “Nosso concerto didático será um grande espetáculo, uma mistura de teatro de rua e música erudita. Já convidei David [Farias, diretor da ETA] para dirigir a parte cênica e ele topou. Queremos não só ir às escolas, mas, também, levar as escolas ao teatro para nos assistir e aprender sobre os grandes compositores”, completou.

Para garantir a participação das escolas, Miran se reuniu com Edna dos Santos Cabral, técnica representante do setor de Ação Cultural da Coordenadoria Geral de Programas Suplementares da Secretaria Municipal de Educação (Semed). “A reunião foi para firmar a parceria para realizarmos os concertos didáticos nas escolas municipais de Maceió. Agora, a Semed vai encaminhar a solicitação para a Ufal e, em breve, teremos como concretizar esse projeto nas escolas”, anunciou.

Construção do texto

A novidade não para por aí. Miran também teve a ideia de os próprios integrantes da Opufal participarem da construção do texto em formato de cordel que vai fazer parte do concerto didático. “No texto pretendemos contar um pouco da vida dos compositores, apresentar os instrumentos da orquestra e seu regente. Foi aí que surgiu a ideia de fazermos uma oficina para construirmos o cordel”, revelou a regente.

Miran convidou o professor, poeta e artista visual Cristiano Kriko para ministrar a oficina. “Conseguimos desenvolver atividades paralelas às oficinas: além da produção em sextilha de cordel, definimos como seria o espetáculo, de que forma

essas artes se entrelaçariam no palco até chegarem ao espectador. Miran tem

um olhar delicado para trabalhar música, poesia e prosa. Discutimos também sobre a parte teatral, o figurino, enfim, o cenário como um todo. O cordel sempre me dá essas oportunidades para alcançar novos horizontes e abraçar novos projetos”, contou Kriko.

De acordo com o professor, foram duas oficinas realizadas, importantes para aproximar os integrantes da Opufal do universo da Literatura de Cordel, com suas histórias de heróis, valentia, cangaço, política. “Compartilhamos as várias formas de escrever o Cordel [sextilha, septilha e décimas] e, ao mesmo tempo, confeccionamos em sextilha [estrofe de seis versos], que é considerado o texto clássico desse estilo rimado. É um projeto desafiador para Miran e as pessoas que integram a Orquestra: unir a cultura popular e a clássica. O Cordel como sendo o fio condutor para aproximar o público [escolas públicas] dessas duas vertentes. Será um encontro de duas artes mágicas que tem o poder de emocionar”, destacou.

As duas oficinas com a Opufal aconteceram em junho passado e Kriko explica que ambas foram uma experiência gratificante. “No primeiro momento foi uma surpresa porque a maioria dos integrantes nunca tinha participado de uma Oficina de Cordel, principalmente como essa que têm objetivos específicos. A produção foi intensa e com alguns detalhes: tinham que relacionar com os instrumentos que cada um toca, bem como alguns músicos: Mozart e Beethoven, por exemplo”, justificou.. 

O segundo encontro, Kriko classificou como mais espontâneo. “Digo isso porque os integrantes da orquestra vieram com os cordéis prontos. Aquela velha história: dever de casa. Sempre no final de cada momento socializamos as produções, agora é aguardar pra ver o resultado final. Acredito que vai tocar a nossa alma”, finalizou.