Insegurança alimentar em comunidades rurais é foco de projeto da Ufal
Professores e alunos de diferentes áreas do conhecimento se uniram em pesquisa sobre saúde ambiental e biossegurança
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Projetos importantes não são novidade na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), professores e alunos da Ufal realizaram a pesquisa Saúde ambiental e biossegurança em comunidades rurais nas mesorregiões do estado de Alagoas. Concorrendo com cerca de 300 outros projetos, a pesquisa foi aprovada e ficou entre os 100 com Recursos, segundo o Programa Pesquisa para o Sus (PPSUS), do edital 06/2016 da Fapeal.
Segundo Wanda Griep Hirai, professora da Faculdade de Serviço Social (FSSO) e coordenadora do projeto, “a motivação para o desenvolvimento desta pesquisa nasceu do interesse em conhecer localmente os índices de insegurança alimentar e nutricional, dados demográficos que desvendassem aspectos socioeconômicos, participação em movimentos sociais, acesso à políticas públicas, uso e ocupação do solo, consumo alimentar, nível de escolaridade, acesso à água e demais fatores relacionados à saúde da população”.
Participaram da pesquisa não apenas integrantes da FSSO, mas também dos cursos de Nutrição e Agroecologia, com cerca de 10 alunos de cada curso, além dos docentes. Desta categoria, participaram a já mencionada professora Wanda Hirai, a professora colaboradora Telma Sasso, a co-coordenadora da pesquisa, Maria Alice Araújo, a professora Risia Meneses, a professora Leiko Akusara, da Faculdade de Nutrição (Fanult), o co-coordenador Rafael Navas e os professores Gabriel Maragon e Jonathan Gomes, do Centro de Ciências Agrárias (Ceca), curso de Agroecologia. A pesquisa contou também com o aluno bolsista do curso de Serviço Social, Thiago Marques.
Além dos mencionados, que pertencem à Ufal, também integraram a equipe de contribuição do trabalho docentes de outras universidades, como Rodrigo de Jesus Silva, da Universidade Federal do Acre (Ufac) e Maria Elisa Garavell, da Universidade de São Paulo (USP).
Sobre a pesquisa
O estudo da pesquisa foi realizado nos assentamentos rurais Zumbi dos Palmares, Dom Helder Câmara, Santa Maria, Pau Santo, Olga Benário e Genivaldo Moura. Todos localizados no Leste, Agreste e Sertão alagoano. O estudo consistiu na investigação da segurança alimentar e nutricional, assim como a sua relação com as formas de uso e ocupação do solo e variáveis ambientais em famílias residentes nos assentamentos mencionados. Após a investigação, os dados adquiridos foram relacionados ao acesso aos recursos naturais, desmatamento e ocorrência de monoculturas.
A coleta de dados abrangeu um total de 954 pessoas e para a execução da pesquisa foram adotadas técnicas como a entrevista, de onde foram adquiridas informações sobre o inquérito alimentar, a frequência de consumo semanal, a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) etc.
“A aplicação do Ebia, formulário que permite dimensionar os níveis de insegurança alimentar e nutricional, por exemplo, muitas vezes impactou os pesquisados e pesquisadores ao ver e sentir o intenso sofrimento causado pela dor da fome”, declarou Wanda Hirai. E continua dizendo que “essa experiência foi marcante, sendo invisível quando examinamos apenas os dados estatísticos”.
Além das entrevistas, também foi utilizada a metodologia de isótopos estáveis, onde é possível fazer uma avaliação dos aspectos de transição alimentar a partir da coleta de amostra de unhas do entrevistado. Veículos Aéreos não Tripulados (VANTs) foram usados para mapear o uso e a ocupação do solo.
Com os dados adquiridos foi possível concluir de que há uma predominância de insegurança alimentar em todos os locais estudados. Os resultados da última Pnad, realizada em 2013 apontam que em nível nacional a insegurança atinge 23%, no Nordeste, 38% e em Alagoas, 34,66%. Já nos assentamentos, tomando-se por base a média dos seis assentamentos, totalizou 66,80% no ano de 2018. Verificou-se também um alto índice de excesso de peso e anemia em mulheres em idade fértil e crianças com até cinco anos de idade. Já na questão da produção, a maior diversidade ocorre na mesorregião leste, com a produção de frutíferas e mandioca. No agreste alagoano a paisagem que predomina é composta por pastagens degradadas, que destoam do sertão, onde há mais vegetação nativa. Independente disso, os modelos que prevalecem são de produção agroecológica.
No meio do caminho haviam algumas pedras...
Analisando a conclusão inicial, foi possível detectar alguns problemas. Dentre eles, a falta de acesso a programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A falta de crédito e a infraestrutura deficiente também são um obstáculo, uma vez que impedem a irrigação e fazem com que a produção dependa das estações chuvosas. Um fator limitante à manutenção da produção e renda das famílias, é a falta de acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Tendo tudo isso em vista, é proposto que o Sistema Único de Saúde (SUS) reoriente suas ações para que haja uma abordagem mais integradora. As ações devem ser voltadas à promoção de saúde e à prevenção e tratamento de distúrbios nutricionais.
Lá e de volta outra vez
Após a pesquisa foi feito um relatório, que foi apresentado à Fapeal. Somente após a conclusão desse relatório é que foi iniciada uma nova fase do projeto, que seria a revisitação das comunidades pesquisadas para dar a elas um parecer sobre os dados. Foram feitas visitas para oferecer subsídios que estimulassem ações futuras por parte do poder público. Durante essa ações, os primeiros assentamentos revisitados foram os assentamentos Dom Helder Câmara e Zumbi dos Palmares, onde foram realizadas oficinas com o objetivo de melhorar o uso dos alimentos produzidos.
Depois das visitas às comunidades mencionadas, foi a vez do Pau Santo e Santa Maria, onde foi feita uma reunião para apresentar os dados coletados. A reunião contou com o apoio de representantes das Secretarias Municipais de Educação, Saúde e Assistência Social. Os assentamentos Olga Benário e Genivaldo Moura foram os últimos a serem visitados. Nestas comunidades as possíveis alternativas de mobilização deverão ser apresentadas aos gestores municipais locais, visando a superação de problemas. Ambas as comunidades foram convidadas para as Oficinas de preparos de alimentos e utilização de água através de técnicas agroecológicas, visando a melhoria na produção de alimentos saudáveis e nutritivos.
Segundo a professora Wanda, entretanto, “faz-se necessária a continuidade do estudo e seu aprofundamento, visando estabelecer conexões mais precisas entre as variáveis socioeconômicas, ambientais, de saúde e biossegurança previstas nos objetivos norteadores desta pesquisa”. A docente ainda disse que “andar pelo espaço rural, conviver e interagir com as dificuldades e conquistas das famílias, desvelar os números que buscaram apreender e compreender a vida de assentamentos e comunidades rurais, produziu profundas transformações na Equipe de Pesquisadores e Pesquisados”.