Ufal e Sociedade entrevista Rafael Navas sobre agroecologia
Confira a transcrição da entrevista à Radioweb Ufal
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O programa Ufal e Sociedade, da Radioweb Ufal, aborda a questão da agroecologia e certificação orgânica dos produtos da agricultura familiar, com entrevista ao professor Rafael Navas.
Confira:
Lenilda Luna: estamos iniciando mais um programa Ufal e Sociedade e, hoje, nós recebemos o professor Rafael Navas do curso de Agroecologia do Centro de Ciências Agrárias da Ufal. Professor, muito prazer em recebê-lo aqui nesse programa. Nós queremos saber mais sobre a sua linha de pesquisa em Agroecologia, que inclui políticas públicas, território e certificação orgânica, o senhor pode explicar um pouco mais qual é a sua pesquisa e qual a relação dela com a sociedade de um modo geral?
Rafael Navas: bom dia, Lenilda. Prazer estar aqui. Então, a minha linha de pesquisa que é políticas públicas, certificação em comunidades rurais, ela vem pensando o meio rural a partir das questões sociais, então, por exemplo, o meio rural, ele é diverso, a gente tem agricultores familiares, comunidades tradicionais, comunidades quilombolas, por exemplo, e aí, uma das coisas que venho trabalhando é principalmente o impacto das políticas públicas e o acesso a políticas públicas por esses grupos que compõem o meio rural, então, por exemplo, em Alagoas tem agricultores familiares assentados da reforma agrária, crédito fundiário, comunidades quilombolas e indígenas, então a gente pensa como que está o acesso para essas políticas públicas dessas comunidades, qual o impacto dessas políticas para esse grupo desde a dinâmica do uso dos recursos naturais, a questão da produção e comercialização, a questão da renda, qualidade de vida, a própria questão da saúde dessas comunidades. Então, quando a gente fala na agricultura familiar, a gente sempre pensa numa produção de alimentos voltada para comercialização mas também tem uma importância para o consumo e isso reflete diretamente na saúde da população rural e também a questão da certificação orgânica que é uma das linhas que a gente vem com algumas iniciativas e projetos no Estado pela Ufal que busca facilitar esse processo junto ao agricultores familiares para obterem a certificação orgânica da produção, então, buscando aí um início específico para comercialização dos produtos, principalmente nas feiras agroecológicas e orgânicas que a gente tem aqui em Alagoas.
Lenilda Luna: Para essas comunidades da Agricultura Familiar, dos assentamentos, das Comunidades Quilombolas, é fundamental esse aporte científico, não é? Porque eles já vinham se organizando, resistindo, mas esse conhecimento faz com que eles tenham mais condições de levar os seus produtos, de divulgar o trabalho deles, de criar essa identidade.
Rafael Navas: com certeza. Hoje as agências de assistência técnica e extensão rural tem um número limitado de profissionais, não dão conta de toda a demanda que o meio rural precisa, de informações e tecnologias e até de articulação com outras esferas da sociedade. Então, os projetos que a gente tem, eles vem integrando essas atividades dos agricultores e levando também algumas tecnologias que a gente vem trabalhando na Universidade, é uma troca né, é um diálogo direto entre as comunidades e a própria Universidade. No caso da certificação orgânica, o processo para obtenção da certificação orgânica, ele não é tão simples para quem não está acostumado com as ferramentas, então, a gente vem trabalhando desde o entendimento das normas de produção orgânica com os agricultores e como obter esse processo, o que ele tem que fazer, como é o preenchimento dos documentos, como que tem que ser o controle da qualidade da produção, a questão da rastreabilidade até ele chegar com esse produto no local de comercialização que, normalmente aqui em Alagoas, vem se dando nas feiras livres, então, assim, quando a gente vê um um produto orgânico agroecológico nas feiras, ele tem todo um processo de produção, de manejo e de garantia que aquele produto realmente não utilizou produtos químicos para sua para sua produção.
Lenilda Luna: e isso é muito importante para a questão da confiabilidade, porque esse público que procura os produtos orgânicos, que muitas vezes até está disposto a pagar um preço diferenciado por eles, querem isso, garantir produtos saudáveis na mesa da família. É um público, professor, que vem crescendo dentro do Brasil.
Rafael Navas: sim, tem bastante. A cada dia está crescendo mais a procura da sociedade por esses produtos. É importante também a gente frisar que nem sempre o produto orgânico, ele é mais caro. A gente já fez um trabalho na feiras aqui em Alagoas, em algumas feiras, principalmente as de Maceió, e a gente constata que os preços dos produtos orgânicos são praticamente o mesmo dos produtos convencionais encontrados na cidade, e porque que é o mesmo preço e praticamente não tem diferença? Porque a venda é direta do produtor com o consumidor, então, o agricultor tem uma vantagem porque elimina os atravessadores, intermediários que normalmente ficam com a maior parte do lucro e esse produto chega também para o consumidor com preço mais baixo, então, aqui em Alagoas, a gente pode pode falar que é um caso bem particular que a sociedade tem acesso a esses alimentos sem ter um custo mais alto, isso principalmente nas feiras agroecológicas e orgânicas. Em outros locais, principalmente em rede de supermercado, normalmente esses produtos têm um preço mais elevado.
Lenilda Luna: a gente tem uma feira aqui na Ufal, toda quarta-feira pela manhã, que é agroecológica. O senhor conhece outras feiras livres para as pessoas que querem comprar produtos orgânicos?
Rafael Navas: isso, a gente tem a feira da Ufal que ocorre todas às quartas-feiras, é uma feira agroecológica e orgânica, tem a feira da Centenário que ocorre aos domingos na praça da Centenário e a gente também tem uma outra feira que é às sextas-feiras que ocorrem no Jaraguá. Essas são as semanais mas a gente tem outras iniciativas que ocorrem a cada 15 dias em Jacarecica, na Ponta Verde que ocorre aos domingos em um domingo por mês. As principais ocorrem semanalmente na UFAL, Centenário e em Jaraguá.
Lenilda Luna: professor, a gente tem visto ultimamente algumas medidas governamentais que liberam assustadoramente agrotóxicos que não eram mais usados. Isso vai fazer com que as pessoas se preocupem mais com agroecologia, com essa produção orgânica?
Rafael Navas: com certeza. É até difícil a gente contar quantos agrotóxicos foram liberados, a cada semana a gente tem o número maior. Até recentemente, a gente teve quase 300 agrotóxicos liberados somente esse ano, esse é um número maior do que todo o registro do ano passado inteiro, isso tem um impacto ambiental e também para a saúde da população porque muitos desses produtos, desses agrotóxicos já são proibidos em outros países, cerca de 30% desses produtos liberados são proibidos na Europa e nos Estados Unidos e aí numa contramão, nessa procura da sociedade para um estilo de vida mais saudável, uma alimentação mais saudável, a gente tem esse processo do aumento do número de agrotóxicos. É importante citar que a maior parte desses produtos é utilizado para grandes culturas, principalmente para soja, mas a gente tem que ficar muito atento porque essa contaminação ela pode ocorrer se não for utilizado com todos os cuidados e mesmo com todos os cuidados, existe um impacto ambiental, a gente não pode negar que qualquer produto químico vai ter um impacto ambiental e aí tem um risco de contaminação. Por exemplo, nas águas, esse ano, no início do ano, saiu um relatório aqui no Brasil de contaminação na água de consumo humano por agrotóxicos e aí foi bem assustador, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, quase 100% das amostras de água tinham um resíduo de agrotóxicos, isso na água de consumo humano, a gente não está falando na água que é captada no curso da água, é água que chega para a população beber e já está apresentando esses índices de contaminação aqui no Brasil.
Lenilda Luna: isso não é um contrassenso, professor? Mesmo do ponto de vista do mercado. Vamos avaliar com a mentalidade do capitalista: ele quer lucro, então, o agrotóxico ajuda na produtividade. Mas se o produto dele começar a sofrer sanções no exterior, se o público interno começar a desconfiar também da produção, da grande produção, o que que ele vai ganhar com isso?
Rafael Navas: é bem isso, Lenilda. Hoje a gente já vem encontrando alguns países que vem impondo a redução dos resíduos de agrotóxicos dos produtos do Brasil e aí acaba sendo um contrassenso realmente, ao mesmo tempo que a gente tem uma liberação, de uma flexibilização dessa liberação dos agrotóxicos e não só isso, a gente tem também a própria mudança na nomenclatura, hoje a proposta é que a gente não chame mais de agrotóxico mas de produtos fitossanitários e a própria questão também da toxicidade. Então, existe uma proposta que considera o agrotóxico como extremamente tóxico, aquele que pode causar a morte do indivíduo e assim, desconsidera o efeito cumulativo desses produtos no organismo, isso é muito sério, se a gente for pensar na saúde da população não só brasileira e aí, tem que ter uma pressão da própria sociedade, do próprio mercado, a sociedade entendendo que esses produtos causam impacto negativo para a saúde ou o ambiente, pode começar a fazer escolhas por produtos que não usam essa tecnologia para produção. É importante a gente colocar isso também que o pensamento no agronegócio, ele vem colocando que precisa desses produtos para garantir a produtividade, para aumentar a produtividade, porém a gente também tem que investir em novas tecnologias para reduzir o uso desses produtos, isso é muito importante a gente colocar, tem tecnologias que buscam esse aumento de produtividade sem utilizar os agrotóxicos, a própria produção orgânica, ela já é um exemplo disso, você consegue produzir sem utilizar os produtos químicos. Só puxando também uma outra linha importante para a sociedade, hoje a produção mundial de alimentos, ela é maior do que a demanda do mundo inteiro. Segundo os dados da FAU que é uma instituição que pertence a ONU, eles apontam que atualmente, a produção de alimentos no planeta é para quase 25% maior do que toda necessidade de consumo de alimentos, incluindo a população mundial que não têm acesso regular a comida, então, quando a gente fala que precisa utilizar o produto para aumentar a produtividade, na verdade, hoje a gente já produz mais alimentos do que se precisa, então, a questão é a gente pensar no acesso e na redução do custo e principalmente na redução do desperdício. Esse esse relatório da FAU aponta que se a gente pegasse 25% do desperdício já seria suficiente para alimentar toda a população no planeta.
Lenilda Luna: isso é importante porque tem algumas linhas que gostam de colocar de forma assustadora que a superpopulação é que causa esse colapso no planeta mas a gente vê que não é a quantidade de pessoas, é a concentração de renda e essa necessidade de superprodução sem planejamento, sem necessidade.
Rafael Navas: isso e aqui a própria crítica que a gente não pode deixar de fazer que é esse lucro acima de tudo, quando a gente tem essa produção que busca somente aumentar o lucro e você está tendo prejuízo ambiental e social em função desse lucro de poucas empresas. A agroecologia, ela justamente coloca a vida como prioridade, por isso que determinadas práticas na agroecologia não são utilizadas, ver a vida como um todo é o ponto principal do trabalho da produção agroecológica.
Lenilda Luna: agora professor, a gente vê então a necessidade de fortalecer pesquisas na agroecologia, porque nós vamos ter que saber dessa liberação de agrotóxicos, quais os efeitos cumulativos, efeitos que vão ser percebidos só ao longo dos anos, e também para definir políticas de valorização da agricultura familiar, dessa produção agroecológica. Como é que a gente faz isso no momento em que justamente a pesquisa está tendo cortes, os pesquisadores estão perdendo bolsas? Quer dizer, quando mais se precisa da pesquisa, nós não vamos poder contar com ela.
Rafael Navas: é, isso é um ponto importante, a gente tem sim esses cortes dos investimentos para pesquisa e de bolsas mas é importante também a gente colocar aqui que existem muitas iniciativas da sociedade civil organizada. A agroecologia, resgatando um pouco da história, surge a partir da iniciativa de agricultores, de organizações e da própria sociedade que buscavam uma forma de desenvolvimento e produção que não eram pautadas pelas técnicas que a gente tem hoje da agricultura convencional, então, a própria sociedade civil organizada tem muitas iniciativas, como exemplo, aqui em Alagoas, a gente já tem associações e cooperativas trabalhando com produção e comercialização de sementes crioulas para não depender das sementes transgênicas que o agricultor tem que comprar todo ano, a própria questão de projetos de melhoria da comercialização e da certificação orgânica, do fortalecimento de cadeias produtivas, acesso a políticas públicas. A gente tem várias iniciativas também da sociedade e hoje a gente vem integrando essas iniciativas com iniciativas da Universidade, é um processo que todos ganham, principalmente no momento em que a gente tem uma redução dos cortes, esse trabalho com a sociedade civil é de extrema importância não só porque a gente está respondendo às necessidades práticas da sociedade mas também, a gente otimiza todo o trabalho que vem sendo feito e principalmente no momento que não a gente não tem recursos. E aí tem outras iniciativas também aqui na Universidade, a gente vem trabalhando com a própria questão das sementes crioulas com outros professores, trabalhando com as PANCS, plantas alimentícias não-convencionais que são plantas de maneira geral que não são comumente encontradas nas locais de comercialização, mas, por uma questão de adaptação e de evolução dessas espécies, elas são mais adaptadas às condições locais por exemplo, se a gente tiver um período de seca, essas plantas são mais adaptadas a sobreviver do que uma outras que a gente cultiva e que é melhorada para atender uma demanda da sociedade. É uma forma também de contornar esses problemas ambientais que a gente vem observando a cada dia, a gente tem essas iniciativas que vem valorizando a agroecologia e as próprias iniciativas dos Agricultores. E aí, nesse momento que a gente tem redução dos recursos, essas parcerias também são de extrema importância, fortalece não só as universidades mas a sociedade e o consumidor aqui no meio urbano e os agricultores também, que estão lá na ponta produzindo esse alimento que a gente consome.
Lenilda Luna: quer dizer, a sociedade sempre cria uma alternativa. Se o governo começa a fazer políticas oficiais que vão contra a saúde da população, então, se fortalecem esses grupos de agroecologia que são formados por organizações não governamentais como aconteceu na década de 90, que teve grandes movimentos agroecológicos que estavam em uma política paralela, não era uma política governamental, era uma política da sociedade civil.
Rafael Navas: isso mesmo, a sociedade começa a entender e começa a visualizar esses impactos e começa a se organizar até no processo de cobrar políticas públicas de uma outra linha né. Então, é uma pressão da sociedade também e é importante que a sociedade tenha esse entendimento e que cobre dos governantes essas políticas que favoreçam a produção mais saudável de alimentos, é importante colocar que a gente tem políticas públicas no Brasil e no estado de Alagoas que favorecem a produção agroecológica e a produção orgânica, nós temos uma lei federal que é de 2012 e nós temos uma lei estadual de incentivo à produção orgânica e agroecológica que é de 2018, então, no final de 2018, o estado de Alagoas promulga uma lei para favorecer esse tipo de produção e com isso a sociedade tem um ganho muito grande com todo esse processo.
Lenilda Luna: é importante que se defendam essas políticas para que não aconteçam mudanças contrárias aos anseios da sociedade. Há a necessidade de bem-estar e de ter uma alimentação saudável. É bom destacar também que os restaurantes universitários da Ufal compram da Agricultura Familiar produtos saudáveis, tudo isso, professor, precisa ser defendido e mantido.
Rafael Navas: a própria produção da Universidade compra hoje da agricultura familiar é existe todo esse cuidado e a prioridade por produtos agroecológicos e inclusive, durante esse período, esse ano, não só a proest mas outros setores da Universidade fizeram visitas a todos os fornecedores de alimentos aqui para Universidade conhecendo essa realidade e até aproximando a Universidade também desse segmento da sociedade, para a gente também poder pensar em um diálogo e observar qual é a demanda de tecnologia, de pesquisa desse setor para a gente trazer isso para Universidade também e desenvolver novas tecnologias. A compra institucional é um exemplo de incentivo à agricultura familiar e a produção agroecológica, a gente sabe de onde que vem a comida que nós estamos comendo aqui dentro da Universidade. Isso é uma iniciativa exemplar não só dentro do Estado de Alagoas mas hoje, dentro do Brasil, porque são poucas universidades que vem realizando essa compra até o momento.
Lenilda Luna: inclusive achei muito bonito quando eu fui fazer a matéria da inauguração do restaurante universitário do Campus Sertão que estava lá um representante da agricultura familiar, que era fornecedor do restaurante, e na fila lá da bandeja estava um estudante que é de uma comunidade de pequenos agricultores, filho de um dos agricultores que forneceu o alimento. Ele estava lá estudando e o pai dele falou: eu fico muito orgulhoso de fornecer para Universidade e de ter meu filho estudando nessa Universidade. Tudo isso faz a gente perceber na prática o que é uma universidade socialmente referenciada.
Rafael Navas: sim, é o que você acabou de falar, essa própria relação, a gente tem hoje na Universidade, o filho do agricultor estudando mas também podendo ter acesso a um alimento saudável e seguro e acho que a sociedade tem que ter um olhar para essas iniciativas das Universidades principalmente para essa demanda de pesquisas, de produção de novos conhecimentos, novas tecnologias para garantir essa produção de alimentos, a produção agroecológica requer muitas tecnologias, ela requer manejo e a gente precisa desenvolver essas técnicas na Universidade tanto que a gente tem hoje o curso de Agroecologia e isso é justamente para formar profissionais para trabalhar com esse setor, esse segmento garantindo essa produção de alimentos saudáveis para a sociedade.
Lenilda Luna: professor, para finalizar, vamos falar um pouco sobre o Pronera, porque é outra linha importante, saber que os assentados podem vir para a universidade, tem acesso à sala de aula, ao conhecimento.
Rafael Navas: isso, o pronera é uma iniciativa, na verdade, uma política pública que completou 21 anos e ela é uma política pública que nasce por uma demanda das próprias instituições dos agricultores familiares há mais de 20 anos atrás, depois do Massacre de Eldorado dos Carajás e que se transformou em uma política pública buscando melhorar os índices de educação da população do campo, é uma política pública que ela é coordenada pelo incra, então, as instituições de ensino elas demandam, elas enviam propostas de cursos de todas as modalidades pro incra, normalmente elas vão para o estado, sendo aprovado no estado, essas propostas vão para Brasília onde tem uma coordenação pedagógica nacional do pronera, eles avaliam essas propostas e aprovam. É importante também colocar que as propostas são construídas conjuntamente pelo pronera, então, como política pública, ele é específico para a população da reforma agrária. Aqui na Ufal, nós temos o curso de agroecologia pelo pronera, é o primeiro curso superior em agroecologia bacharelado do Brasil pelo pronera e é o primeiro curso superior pelo pronera no estado de Alagoas, ele também tem uma importância muito grande aqui para Ufal e essa política pública entende que as demandas da população do campo são diferentes. Por exemplo, as aulas não são ao longo do ano, elas são em etapas, os alunos quando vem aqui para Universidade, eles ficam cerca de 30 a 40 dias, tem aula de manhã e a tarde, de segunda a sábado e aí mais ou menos esses 40 dias, 45 dias equivalem a um período, a um semestre letivo dos demais cursos da Universidade e depois desse período, ele volta para sua comunidade com uma atividade para ser feita que faz parte da carga horária do curso, então, aqueles conteúdos que ele discutiu nessa etapa, que a gente chama de tempo Universidade, ele volta e aplica diretamente na comunidade dele e depois ele retorna para Universidade trazendo essa experiência e tendo outros conteúdos que a gente vem discutindo, isso ao longo de quatro anos e meio, que é o tempo de duração. Uma característica, por exemplo, quando a gente pensa nessas etapas, quando a gente tá no período de plantio, a gente não pode ter atividade de aulas, então justamente porque é uma política que ela tem que garantir que essa população do campo não saia do campo para poder ter acesso à educação, essas pessoas ficam no campo e conseguem se manter da propriedade e ainda tem acesso à educação, a educação formal e as novas tecnologias que a Universidade vem desenvolvendo junto com os segmentos também.
Lenilda Luna: a metodologia bastante inovadora de aliar conteúdo e prática é para permitir que eles estudem sem se afastar das suas comunidades.
Rafael Navas: sim e é importante colocar isso que na verdade, a agroecologia tem na sua matriz né Essa troca então esses conhecimentos que esses agricultores têm eles trazem esses conhecimentos para a universidade e aqui a gente constrói esse processo de desenvolvimento né então a gente finalizou agora essa semana segunda etapa do curso né O curso tem duração de 4 anos e meio né Ele é todo pensado de maneira coletiva A gente tem uma grade curricular os alunos têm todas as atribuições dos demais estudantes da Universidade também né mas as aulas elas são em etapas né mas os alunos têm os trabalhos de conclusão de curso tem as atividades complementares mas existe essa particularidade né que respeita essa questões esse calendário do Meio Rural também né esses estudantes eles trazem também toda sua experiência esse conhecimento para a gente né então isso é de extrema relevância né é enriquecedor para Universidade para pensar né esses cursos para a população rural
Lenilda Luna: muito importante a Ufal ser pioneira nesse projeto da educação superior para essa comunidade. Quantos alunos têm hoje e quais são as regiões que estão representadas?
Rafael Navas: nós começamos com 50 estudantes que foi a proposta. A gente tem 50 estudantes. Do Estado de Alagoas, nós temos 40/42 que são aqui do Estado de todas as regiões, a gente tem 10 estudantes do litoral norte, São Miguel dos Milagres, Baixo São Francisco, Penedo e Piaçabuçu. Aqui da Zona da Mata, a gente tem estudantes na cidade de União dos Palmares, Branquinha, São José da Laje, estudantes de Taquarana, Girau do Ponciano, estudantes do Sertão em Inhapi, Água Branca. Eu não consigo lembrar todos mas a gente tem essa diversidade das diferentes regiões aqui do Estado e a gente tem 10 estudantes que são de outros estados do Nordeste, então, a gente tem estudante de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A gente tem esses estudante também de outros Estados que vem aqui participado dessa iniciativa da Ufal.
Lenilda Luna: professor, muito obrigada por esses conhecimentos que o senhor trouxe hoje e que a sociedade possa perceber o quanto nós temos que defender essas políticas, esses projetos que garantem igualdade social e saúde para toda a população.
Rafael Navas: não, com certeza. Eu que agradeço o convite e acho que a sociedade tem que entender que ela tem um papel fundamental na garantia não só desses direitos à educação mas principalmente a um alimento saudável e quando a sociedade entende que ela tem o papel e um compromisso com esse processo, a gente pode ter aí sim incentivo e uma valorização dessas práticas e até de incentivar políticas públicas que garantam essa produção sustentável, essa produção sadia de alimentos para a gente colocar na mesa.
Lenilda Luna: obrigada professor. O programa Ufal e Sociedade fica por aqui. Nós temos reprise às 17 horas e você pode conferir a transcrição dessa entrevista no site ufal.br. Até a próxima.
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