Ufal integra ações para salvar choquinha-de-alagoas da extinção
Desde 2010, ave é monitorada por pesquisadores da Universidade; atualmente, segundo os estudiosos, restam menos de 30 indivíduos da espécie
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Dados do monitoramento realizado por estudantes de Biologia da Ufal na Estação Ecológica (Esec) de Murici, sob coordenação do professor Márcio Efe, subsidiaram a elaboração de um plano emergencial para salvar a choquinha-de-alagoas. A ave, exclusiva da parte norte da Mata Atlântica no Nordeste do Brasil, localizada entre os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte, é uma das espécies em perigo crítico de extinção, um estágio antes de ser considerada extinta na natureza, de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
“Atualmente, restam menos de 30 indivíduos restritos a um dos fragmentos de floresta da Esec de Murici, em Alagoas”, informa Efe, responsável pelo Laboratório de Bioecologia e Conservação de Aves Neotropicais (Labecan), do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS/Ufal). O acompanhamento da ave é feito desde 2010 com o objetivo de levantar informações que possam contribuir para aumentar a população.
“Nesse trabalho realizado na estação ecológica, a equipe de estudantes vai a campo, mensalmente, coletar dados sobre ocorrência, deslocamento e aspectos reprodutivos, com captura e marcação de diversas espécies endêmicas e ameaçadas”, relata o docente. “Também buscamos identificar, descrever e quantificar ninhos, ovos e filhotes, bem como identificar os predadores que existem na área”, acrescenta. “Ultimamente, alguns alunos têm focado suas pesquisas na choquinha avaliando seus territórios, tamanhos populacionais e sucesso reprodutivo. Após nove anos de busca, finalmente, em 2019, foi encontrado o primeiro ninho conhecido da choquinha-de-alagoas que está sendo descrito e será publicado em breve”, destaca.
Sobre o que tem ocasionado a extinção, o professor que é doutor em Zoologia esclarece que “a espécie, assim como várias outras endêmicas e ameaçadas que vivem na região setentrional da Mata Atlântica, vem sofrendo os efeitos da fragmentação florestal provocada pela derrubada da mata para o plantio da cana e expansão da pecuária”. De acordo com o docente, “os registros de extinção nesta região começaram a ser conhecidos a partir do desaparecimento na natureza do mutum-de-alagoas, na década de 80”. E destaca: “Nos últimos anos, outras espécies desapareceram. Mais recentemente, foram consideradas extintas a caburé-de-pernambuco, em 2001, o trepador-do-nordeste, em 2007, e o limpa-folha-do-nordeste, em 2011, o qual vivia na mesma área da choquinha-de-alagoas”.
Efe relata que a ave “foi descoberta em Murici no final da década de 70 e já foi considerada ameaçada”. Ainda segundo o professor, “posteriormente, foi registrada em mais três locais em Pernambuco, mas, atualmente só é encontrada em um fragmento florestal da Estação Ecológica de Murici, uma unidade de conservação federal sob responsabilidade do ICMBio que protege 6.116 hectares de Mata Atlântica nos municípios de Murici, Flexeiras e Messias, com população estimada em menos de 30 indivíduos”, reforça.
Plano de emergência para salvar a choquinha-de-alagoas
No mês de agosto, o professor Márcio Efe representou a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) em uma reunião com especialistas, em Foz do Iguaçu, para criar um plano de emergência para salvar a choquinha-de-alagoas da ameaça de extinção. “Após extensas deliberações, foi desenvolvido um plano de ação para construir conhecimento e protegê-la em seu habitat. E como parte disso, o grupo discutiu métodos para criar em cativeiro e construir uma população maior que possa ser devolvida à natureza e, simultaneamente, as equipes no campo trabalharão para reduzir as ameaças”, explica o docente.
Segundo Efe, “a equipe de estudantes que monitora a ave, e outras endêmicas e ameaçadas na Esec de Murici, vem produzindo conhecimentos importantes que estão sendo úteis agora para a construção desse plano de emergência”. E o professor destaca: “Pelo fato da equipe estudar desde 2010, ano que cheguei na Ufal, nosso conhecimento sobre distribuição da espécie, número de indivíduos, aspectos comportamentais e reprodutivos foram extremamente úteis no embasamento da construção do plano emergencial”.
O encontro foi organizado pela Organização Não Governamental (ONG) Save Brasil, pelo Parque das Aves e pelo Conservation Planning Specialist Group, com apoio da American Bird Conservancy. O workshop reuniu especialistas da Birdlife International, do Chester Zoo, do Toledo Zoo, da Durrell Wildlife, da Vogelpark Marlow, da Universidade de São Paulo, das universidades federais da Paraíba (UFPB) e de Roraima(UFRR), da Universidade Estadual do Norte-Fluminense e do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres [Cemave] do ICMbio.
O docente conta que o plano de emergência criado pelos especialistas para aumentar a população da ave “prevê ações de pesquisa e manejo na natureza e em cativeiro”. No entanto, diz Efe, “como não se tem ainda conhecimento suficiente para sua reprodução em cativeiro, pesquisas e testes com outras espécies semelhantes, a exemplo de estratégias de reprodução e adequação de recintos, serão realizados”.
Entre as ações na natureza, cita o docente, “estão previstas buscas pela espécie em outros fragmentos florestais da Área de Proteção Ambiental de Murici, desenvolvimento de estratégias de proteção de ninhos contra predadores, pesquisas sobre comportamento alimentar, itens alimentares, tamanho de território e aspectos reprodutivos”. O professor projeta que, “no futuro, após todo o conhecimento necessário ter sido construído, espera-se coletar ovos da choquinha em Murici, levar para cativeiro, produzir filhotes e devolvê-los mais tarde na Estação Ecológica de Murici e em outros fragmentos florestais maiores”.
Sobre a importância de preservar a choquinha-de-alagoas para biodiversidade, o professor Márcio explica que é uma ave que se alimenta de insetos, controlando assim suas populações. “Atualmente, existem vários exemplos de problemas enfrentados pelos humanos relacionados ao crescimento populacional de insetos, tais como doenças transmitidas por mosquitos, moscas, pulgas, piolhos e baratas, além da diminuição de produtividade em lavoura provocada por gafanhotos, grilos, pulgões, e, na pecuária, em virtude do ataque de carrapatos”, conta.
Ele ressalta que “todos esses exemplos estão diretamente relacionados à quebra da cadeia de funcionamento dos ecossistemas, ocasionado pelo desaparecimento de diversas espécies”. O professor alerta que “a conservação da choquinha, assim como qualquer elemento da biodiversidade, é de extrema importância para a continuidade do funcionamento dos ecossistemas e, assim, mantermos nossa condição de sobrevivência e qualidade de vida”.