Pesquisador da Ufal integra trabalho sobre análise ambiental do Brasil

Artigo escrito por nove pesquisadores, entre eles, João Campos Silva, do ICBS, foi publicado na Revista Nature Ecology and Evolution

Por Thâmara Gonzaga - jornalista
- Atualizado em
João Campos Silva, pesquisador da Ufal, durante trabalho na Amazônia
João Campos Silva, pesquisador da Ufal, durante trabalho na Amazônia

A preocupação com as questões socioambientais no Brasil é o foco do artigo publicado, nessa terça-feira (3), na Nature Ecology and Evolution, uma das principais revistas científicas da atualidade. Um dos autores do artigo é o pesquisador associado ao programa de Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (Dibict), do Instituto de Ciências Biológicas (ICBS) da Ufal, João Vitor Campos Silva. Ele explica que o trabalho teve como objetivo “desmembrar os retrocessos ambientais que estão em curso no Brasil, mostrando que seus impactos podem prejudicar não somente a sociedade brasileira, mas também muitos outros países que dependem dos serviços ecossistêmicos e culturais gerados pelas florestas brasileiras”.

Escrito coletivamente por nove pesquisadores, contando com o apoio de 1.230 estudiosos de diversas áreas, o trabalho tem como título Ajudar a restaurar a governança brasileira de serviços ecossistêmicos de importância global (em inglês, Help restore Brazil’s governance of globally important ecosystem services). Os demais autores são das instituições Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. “Nosso intuito não é gerar um alarme pessimista, mas sim discutir possíveis eixos que devem ser priorizados para que o Brasil volte a assumir uma posição de destaque rumo a um futuro mais justo, equitativo e sustentável”, esclarece.

De forma geral, afirma o pesquisador da Ufal, o propósito do artigo foi chamar atenção para a “crise ambiental” que o país está passando. “Estamos vivendo tempos acirrados politicamente, contudo, independentemente do posicionamento político, alguns fatos atuais precisam ser destacados: vivemos uma crise ambiental sem precedentes, cujos impactos estão começando a ser sentido por todas as classes sociais”, informa.

O Brasil, aponta Campos Silva, "vem implementando políticas socioambientais desastrosas, o que prejudica muito a imagem do país, os investimentos externos e a sociedade como um todo, seja de um grupo político ou de outro”. Ele defende a importância da publicação do artigo ao destacar que “é preciso que a sociedade brasileira compreenda que a preocupação ambiental é um fator decisivo mundo afora e é inconcebível que, em pleno século 21, ela não faça parte da espinha dorsal dos modelos de desenvolvimento. É muito importante ter temas como esses publicados nas melhores revistas do mundo para que a discussão ambiental não seja tratada como algo ideológico”.

O pesquisador ainda relata que “a negligência ambiental observada, ultimamente, amplifica de forma substancial os desastres ambientais, como temos percebido nos últimos anos”. Ele cita que as “queimadas na Amazônia, o óleo atingindo a costa brasileira, as represas de lama vazando, destruindo cidades e rios inteiros, são alguns exemplos de desastres que impactam todo a sociedade, independentemente de seu credo, cor, religião ou orientação política”.

De acordo com o teor do artigo, ele explica que a proposta dos especialistas “é que o Brasil priorize três linhas que conciliam conservação da biodiversidade e bem-estar da população, são elas: desenvolvimento de agroindústria sustentável, proteção e restauração dos ecossistemas, além de fortalecimento dos direitos dos povos indígenas e tradicionais”. E esclarece: “Temos que agregar valor à biodiversidade brasileira, criando novas indústrias que possam explorar sustentavelmente os recursos naturais. Precisamos proteger os serviços ecossistêmicos gerados pelos sistemas naturais brasileiros, como, por exemplo, provisão de água, regulação do clima, sequestro de carbono. Além de proteger as populações tradicionais originárias. Ninguém protege melhor a floresta do que os povos que dependem dela para sua sobrevivência. E eles têm direitos constitucionais sobre seus territórios para sua reprodução social”, justifica.

Consciente das críticas, sobretudo, daqueles que questionam que as propostas ambientais acabam impedindo o desenvolvimento, o pesquisador defende a importância da preservação e do crescimento sustentável, no caso específico do Brasil. Ele conta que “por muito tempo, a ecologia e a biologia foram dominadas por preservacionistas, cuja visão era a de que é impossível conciliar desenvolvimento econômico com conservação da biodiversidade”. E ressalta: “Hoje sabemos que essa visão é ultrapassada. Há muitos bons exemplos pelo mundo onde o uso de determinado recurso é justamente o que garante sua conservação”. Campos Silva afirma que “precisamos reconhecer, como sociedade, a necessidade de desenvolvermos um outro conceito de progresso, onde o bem-estar humano seja o carro-chefe e os benefícios sociais e econômicos sejam compartilhados pelo maior número possível de pessoas”. E declara: “O Brasil tem uma responsabilidade muito grande nas mãos, pois é um dos únicos países que ainda tem a chance de mostrar ao mundo que é possível colocar conservação e desenvolvimento no mesmo pacote. Mas para isso é preciso investimento massivo em novas tecnologias, para que novas indústrias sejam criadas para extrair valor da floresta viva, em pé”.

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