Pesquisadores da Ufal investigam potencial antiviral contra o vírus Chikungunya

Trabalho alagoano recebeu premiação internacional na categoria “keynote speaker”

Por Jacqueline Freire - jornalista
- Atualizado em
Pesquisadores envolvidos na pesquisa
Pesquisadores envolvidos na pesquisa

O composto codificado por GP-07 apresentou “baixa toxicidade em ensaios de viabilidade celular e diminuição significativa na percentagem de células infectadas com o vírus Chikungunya”. Isso quer dizer que este composto pode se revelar um potencial antiviral frente ao vírus Chikungunya. Esse estudo está senso realizado na Universidade Federal de Alagoas, por pesquisadores do Laboratório de Química Medicinal e do Grupo de Pesquisa em Regulação da Resposta Imune (Imunoreg), ligado ao Laboratório de Pesquisas em Virologia e Imunologia (Lapevi).

Segundo o professor Edeildo Ferreira, bolsista de pós-doutorado PNPD do Instituto de Ciências Farmacêuticas da Ufal e coordenador da pesquisa, os estudos relacionados ao planejamento e desenvolvimento de compostos anti-Chikungunya ainda estão em andamento, mas já se pode destacar o GP-07 como um possível inibidor do mecanismo de entrada do vírus Chikungunya na célula.

“Neste momento, estamos direcionando nossos esforços na obtenção de derivados estruturalmente análogos ao GP-07 com maior atividade antiviral e menor citotoxicidade. Atualmente, testes in vitro estão sendo realizados e nós almejamos desenvolver potentes e seletivos antivirais com a capacidade de inibir a entrada do vírus em células do hospedeiro, uma vez que não há nenhum medicamento ou vacina aprovada para o tratamento dessa infecção viral, contribuindo assim para o surgimento de novas estratégias terapêuticas”, explicou o pesquisador.

O professor, que aguarda nomeação para docente efetivo do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal, conta ainda que os resultados da pesquisa foram premiados no 5th International Electronic Conference on Medicinal Chemistry, evento realizado pela Universidade Mons (Bélgica) com mais de cem trabalhos de química medicinal envolvendo mais de 450 autores de várias partes do mundo. “Nós fomos o único grupo de pesquisa com um trabalho envolvendo Chikungunya e ganhamos na categoria de keynote speaker [destinada aos trabalhos de maior destaque no evento], dentre os 16 trabalhos de maior destaque que foram selecionados para concorrer a esta premiação”, comemorou.

Mais promissoras

Inicialmente, técnicas de modelagem molecular são aplicadas para a geração de um banco virtual de moléculas potencialmente ativas frente ao vírus. Entretanto, somente as moléculas que se mostram mais promissoras nas simulações virtuais são, de fato, sintetizadas em laboratório, caracterizando assim este processo como um planejamento racional de fármacos. “Após a purificação e caracterização estrutural dos compostos sintetizados, estes são avaliados quanto ao grau de pureza, onde apenas aqueles com pureza superior a 95% são enviados para os ensaios antivirais”, esclareceu Ferreira.

Em seguida, o professor e pesquisador Ênio José Bassi [Imunoreg/Lapevi/Ufal], com sua equipe, fica responsável pela realização das avaliações citotóxicas e antivirais desses novos compostos. O professor Bassi explica que, com relação ao ensaio de citotoxicidade, apenas compostos que não sejam tóxicos em uma determinada concentração testada são considerados aptos a prosseguir para os ensaios antivirais. “Assim, os compostos são avaliados quanto ao seu potencial anti-Chikungunya ‘in vitro’ utilizando-se células infectadas com o vírus”, diz

Laboratório de Química Medicinal

O grupo de pesquisadores que desenvolve os compostos ativos contra o vírus Chikungunya no LQM da Ufal é composto pelos professores Edeildo Ferreira, idealizador do projeto e responsável pela execução das atividades relacionadas ao planejamento dos compostos e supervisão das atividades de síntese dos mesmos; João Xavier de Araújo, colaborador do projeto e diretor do laboratório onde as atividades são desenvolvidas; Thiago Mendonça, colaborador do projeto e responsável pela execução de métodos de caracterização estrutural dos compostos; e dos estudantes Gabriel Felipe Silva Passos e Matheus Gabriel Moura Gomes, membros executores das atividades de síntese dos compostos.

O LQM conta ainda com vários estudantes de graduação e pós-graduação que desenvolvem outros projetos de pesquisa voltados para o desenvolvimento de compostos ativos contra Trypanosoma cruzi [doença de Chagas], Leishmania chagasi [leishmaniose visceral], câncer, bactérias resistentes, bem como, compostos anti-obesidade.

Laboratório de Pesquisas em Virologia e Imunologia

O grupo de pesquisadores que desenvolve as atividades relacionadas à citotoxicidade e avaliação da atividade antiviral dos compostos no Imunoreg/Lapevi é composto pelo professor Ênio José Bassi, coordenador dos ensaios biológicos dos compostos in vitro e seus alunos de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Ufal: João Pedro Monteiro Cavalcante e Stephannie Janaína Maia Souza, bolsistas da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal), e Elane Conceição dos Santos, bolsista da Capes.

O Imunoreg/Lapevi conta, atualmente, com vários estudantes de graduação e pós-graduação [mestrado e doutorado] que desenvolvem outros projetos de pesquisa relacionados à atividade imunomoduladora e antiviral de compostos de origem natural e sintética, regulação da resposta imune e mecanismos de interação vírus-hospedeiro.