FAU apresenta situações que podem potencializar contágio de Covid-19 em AL
Contágio no estado se deu a partir da capital. Os corredores rodoviários figuram como uma das hipóteses para a expansão territorial do vírus.
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Uma análise preliminar feita por pesquisadores do Centro Integrado de Estudos Georeferenciados (CIEG) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Pernambuco, e da Faculdade de Arquitetura (FAU) da Universidade Federal de Alagoas, aponta que a pandemia do coronavírus em Alagoas começou a se instalar no território alagoano a partir do contágio por difusão, que se dá em seu epicentro, a capital Maceió. Segundo a nota, a partir daí o vírus se espalhou territorialmente, em contágio hierárquico, para o interior do Estado. O documento também apresenta como uma das hipóteses, para a expansão territorial do vírus, os corredores rodoviários.
A Nota Técnica foi elaborada pelo pesquisador Neison Freire, da Fundaj e coordenador do Cieg, e pelas pesquisadoras Deborah Cavalcanti e Regina Dulce Lins, da FAU/Ufal. Deborah coordena o Núcleo de Estudo de Estatuto da Cidade (NEST) e a parceria com a Fundaj tem rendido importantes pesquisas na área, voltadas ao desenvolvimento social, econômico e cultural dos estados vizinhos.
Arquiteta e urbanista, Regina Dulce, já aposentada pela Ufal, está na vice-coordenação do NEST, onde desempenha um trabalho de colaboração. Referência em sua área de atuação, segue desenvolvendo estudos científicos no Estado e em instituições de ensino superior, a exemplo da Universidade de São Paulo (USP), onde concluiu em 2019 pós-doutoramento, voltando recentemente a Alagoas.
A nota teve como base informações de ocorrências de coronavírus registradas nas duas últimas semanas de abril em Alagoas. Mesmo com dados com pouca capilaridade, apresentaram informações para uma hipótese preliminar sobre contágio e riscos de potencialização da contaminação da covid-19.
Os pesquisadores enfatizam que no contexto da pandemia, Alagoas apresenta ainda duas situações emergenciais que podem se somar às dificuldades de combate à doença: os riscos de rompimento da barragem de Águas Belas, em Pernambuco, com impacto em vários municípios da bacia do Rio Ipanema, localizados na região do semiárido, onde vivem cerca de 80 mil pessoas em cidades às suas margens. A outra situação refere-se aos bairros da capital com riscos de afundamento, Pinheiro, Bom Parto, Bebedouro e Mutange, onde já houve a remoção de mais de duas mil famílias.
“O vírus já é uma catástrofe para qual não restam dúvidas, embora não se saiba ainda como e com que velocidade ele se move nos territórios de Alagoas e Maceió. As duas emergências listadas são públicas e, caso transformem-se em catástrofes, podem potencializar aquela já em curso, a covid -19. Considerando-se a gestão de risco, por exemplo, onde abrigar possíveis atingidos pelos desastres, populações com alta vulnerabilidade social?"
A Nota Técnica também destaca que o contágio do vírus por hierarquia tem se dado, em outros estados, via corredores rodoviários. “Trabalha-se com a hipótese de que o mesmo pode ocorrer em Alagoas. Somente análises posteriores e a partir de dados consistentes e comparativos poderiam vir a confirmar ou refutar a hipótese”.
Conforme o documento, o vírus, ao se distribuir a partir da capital, em contágio por hierarquia, pela rede de cidades e pelos corredores rodoviários, tende a evoluir por dois eixos em Alagoas. O primeiro deles abrange as cidades ao longo da rodovia federal BR -101 Norte, em direção à Palmares-PE, o que pode caracterizar uma expansão em duplo sentido já que o estado vizinho é um difusor importante da doença. O segundo eixo de interiorização do coronavírus segue pelos corredores rodoviários alagoanos indo em direção à sua segunda maior cidade, Arapiraca.
Para o acompanhamento da pandemia no Estado, voltado ao desenvolvimento de estratégias, a equipe responsável pela Nota Técnica, elaborada em 27 de abril destaca que os “Bancos de dados públicos são importantes, assim como seu acesso transparente e facilitado à sociedade e a pesquisadores. Faz-se necessário urgentemente um esforço institucional que permitam a cooperação para juntar inteligências, saberes, recursos em prol do desenvolvimento de Alagoas”.
Debate e publicação
Com foco na temática, os pesquisadores escreveram o artigo denominado de Novas emergências no território de Alagoas: difusão da epidemia covid-19, rompimento de barragem e afundamento dos bairros, aceito recentemente para publicação Qualis B1, na Hygeia - Revista Brasileira de Geografia Médica e da Saúde - periódicos de Minas. O artigo também fundamentou o debate online que abordou o tema Pensando a pandemia nas cidades: da escala regional à escala da casa. A live ocorreu dentro da programação de atividades da FAU, que vem realizando encontros semanais, às segundas-feiras, às 18h, e contou com participação de Regina Dulce e das professores Diana Helene, da FAU, e Raquel Rolnik, da USP.