Lacos 21 alerta sobre desmatamento de áreas da Amazônia
Publicado na revista Ecography, o estudo aponta que até 12% da Amazônia brasileira foi desmatada sem ter sua flora adequadamente documentada
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O Laboratório de Conservação no Século 21 (Lacos 21) da Universidade Federal de Alagoas ganha novamente destaque internacional por meio da publicação de um artigo que quantifica a perda do conhecimento botânico em virtude do desmatamento histórico e futuro na Amazônia brasileira. O estudo intitulado “The ghosts of forests past and future: deforestation and botanical sampling in the Brazilian Amazon” liderado por Juliana Stropp e Bruno Umbelino está disponível na revista internacional Ecography.
A pesquisa aponta que até 12% da Amazônia brasileira (aproximadamente 300 mil km²), foi desmatada sem ter sua flora arbórea adequadamente documentada, uma área semelhante ao do país Reino Unido. "É como queimar uma vasta biblioteca sem ninguém nunca ter lido um único livro", comenta a autora Juliana Stropp, do Museo Nacional de Ciencias Naturales de Madri.
De acordo com o professor e coordenador do Lacos 21, Richard Ladle, apesar de ser impossível saber o que os estudos científicos encontrarão, as florestas tropicais são como um tesouro poderoso e, por exemplo, um grande número de remédios é derivado destas florestas. "A pandemia do novo Coronavirus nos mostra o quão importante é para a humanidade explorar essa riqueza de diversidade biológica", acrescentou o professor Ladle.
Dados do estudo científico alegam que se as taxas de desmatamento persistirem, outros 250 mil km² a 900 mil km² de floresta ainda não documentada provavelmente serão destruídos nos próximos 30 anos. Para acompanhar o ritmo do desmatamento na Amazônia brasileira, os botânicos precisariam duplicar ou aumentar seis vezes a amostragem de árvores.
O artigo sugere que uma estratégia de amostragem direcionada, idealmente por meio de “Projetos Flora”, poderiam expandir consideravelmente o conhecimento da flora arbórea da Amazônia brasileira antes da destruição. “Nosso estudo mostra que os picos históricos da coleção botânica coincidem com projetos como Flora Amazônica na década de 1980, Flora da Reserva Ducke ou Flora do Cristalino nas décadas de 1990 e 2000”, declara o co-autor Bruno Umbelino, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
A falta de dados históricos acerca das espécies que ocuparam áreas desmatadas é um problema gravíssimo pois esse tipo de informação é impossível de se recuperar. “Se os cientistas não têm informações históricas sobre comunidades ecológicas, torna-se quase impossível planejar bons programas de restauração ou estimar o número de espécies presentes em um ecossistema” acrescentou a co-autora professora Ana Malhado, também da Ufal.
Segundo Stropp, caso os esforços para documentar a biodiversidade que ainda existe não sejam aumentados atualmente, o desmatamento destruirá qualquer oportunidade de gerar novos conhecimentos sobre a floresta Amazônica.