Cardápio de shoppings de Maceió tem excesso de sal, açúcar e gordura
Dados são de pesquisa da Faculdade de Nutrição que avaliou menus para crianças dos principais centros de compras da capital
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Seja pela correria do dia a dia ou para se ter um momento de lazer, comer no shopping é um dos principais programas feito com crianças. Na hora de escolher, pais ou responsáveis recorrem a estabelecimentos que oferecem no cardápio opção específica para o público infantil, normalmente chamado de ‘menu kids’, acreditando que seja a escolha mais adequada para os pequenos.
Mas na realidade não é bem assim. Uma pesquisa feita por estudantes da Faculdade de Nutrição (Fanut) da Ufal revelou que as opções dos menus infantis dos centros de compra de Maceió estão repletas de sal, açúcar e industrializados (hambúrguer, por exemplo) e com poucas opções que contribuam para um hábito alimentar saudável.
“Ao analisarmos os alimentos que compunham os cardápios, identificamos uma grande monotonia, com sabores neutros ou doces, fáceis de aceitar, com texturas que exigem pouca mastigação e ausência ou baixa oferta de frutas, legumes e verduras. No geral, há uma abundância de frituras e alimentos ultraprocessados, com excesso de gorduras, açúcares e sódio”, afirma a coordenadora da pesquisa e professora da Fanut, Giovana Longo-Silva.
Para chegar aos dados, a equipe de pesquisadores coletou e analisou, no início deste ano, todos os cardápios kids disponibilizados pelos estabelecimentos dos três principais shoppings da capital. No total, o levantamento identificou 74 restaurantes nos locais visitados. Desses, 30 (40,5%) possuíam ‘menu kids’, ou seja, um prato ou preparação específico voltado para o público infantil.
Sem opção “realmente saudável”
De acordo com as informações da pesquisa, em relação à composição dos pratos ofertados nos menus para crianças, legumes e verduras integraram apenas 40% e frutas, 6%. Na maioria dos restaurantes tradicionais, eram integrados por arroz, feijão e carnes fritas, empanadas ou grelhadas. Nos restaurantes tipo fast-food, a refeição era composta por sanduíches de hambúrguer, sendo que em 87% dos locais pesquisados havia batata frita na composição do prato.
A coordenadora do estudo afirma que, mesmo nos restaurantes tradicionais que ofertavam no menu kids arroz com feijão ou macarrão com molho, as opções, em sua maioria, vinham acompanhadas de batata frita e carnes gordurosas, especialmente nuggets e hambúrguer. “A presença do arroz e feijão no prato pode transmitir aos pais a falsa impressão de que a refeição é saudável, pois, de fato, ambos são alimentos bons, minimamente processados e típicos da nossa cultura alimentar. No entanto, a carne e batata frita apresentam excesso de gorduras e sódio”, explica.
Já nos estabelecimentos que vendem fast-food, relata Longo-Silva, os cardápios eram compostos por lanches preparados com alimentos ultraprocessados, com pães feitos com farinha branca, hambúrguer e batata frita. Gêneros alimentícios conhecidos pela presença de gordura trans, muito sal e componentes cancerígenos.
A falta de informação nutricional também foi apontada pela pesquisa: apenas 14% dispunham desse tipo de dado e 30% informavam sobre alergênicos. Essa ausência, destaca a docente, impossibilita os pais de saberem o que está sendo ofertado aos seus filhos e torna muitas vezes inviável a ida a restaurantes.
“Concluímos que em nenhum restaurante analisado o menu kids pode ser considerado realmente saudável. São opções que acabam contribuindo para formação de hábitos alimentares inadequados, para o incremento precoce de excesso de peso e doenças crônicas que vêm se tornando cada vez mais frequente entre as crianças, como diabetes, hipertensão e colesterol alto. E isso tem se tornado um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e no mundo”, alerta a pesquisadora.
Comida sem brindes
Outro ponto preocupante apontado pelos pesquisadores da Fanut é que em metade dos locais o cardápio kids era associado a um brinquedo colecionável ou brinde. Embora não seja proibido no Brasil, a pesquisadora adverte que acrescentar qualquer tipo de recompensa a produtos alimentícios voltados ao público infantil é “uma prática de caráter nocivo segundo o Código de Defesa do Consumidor e também considerada abusiva pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ)”.
“O fato de esses brinquedos serem exclusivos, efêmeros e colecionáveis faz com que a criança seja incentivada a consumir uma grande quantidade de ‘promoções’ num curto espaço de tempo. Sendo, portanto, induzida ao consumo frequente e continuado de alimentos com altos teores de sódio, açúcar e gorduras e aos efeitos nocivos que podem proporcionar a sua saúde”, afirma.
Evitar a obesidade na infância
No mês em que se recorda o Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil, marcado no dia 3 de junho, os dados da pesquisa reforçam a importância da informação para se ter um hábito alimentar saudável e do envolvimento de toda a família.
“A alimentação costuma ser o ponto central dos encontros sociais e familiares. Portanto, conhecer o que está sendo ofertado por esses restaurantes merece especial atenção. Atualmente, muitas crianças comem fora do lar com frequência e estes cardápios podem influenciar os pais, que podem se inspirar em sua composição para a oferta desse tipo de refeições também em casa”, ressalta a coordenadora do estudo.
Apesar dos dados revelados, a pesquisadora da Fanut garante que é possível sim comer saudável fora de casa e aproveitar os passeios com as crianças. “Desde que os pais analisem bem a composição dos menus kids nos restaurantes tradicionais para ver se de fato vale a pena optar por eles”.
Ela recomenda que o importante é escolher opções com presença de legumes, verduras, frutas, preparações integrais e carnes ou ovos feitos com pouca gordura, evitando todos os tipos de frituras. “O ideal é optar por restaurantes com comidas preparadas no estabelecimento, que podemos chamar de 'caseiras'. Além disso, se houver consumo de bebida, o ideal é optar pelos locais que possuam sucos de frutas natural. É importante ressaltar também que todos os integrantes da família devem buscar por uma alimentação mais saudável”, orienta.
Sobre a pesquisa
O projeto de pesquisa Caracterização de Menus Infantis em Restaurantes, integrado por estudantes da Fanut Ufal, foi idealizado pela professora Ada Margarida Rocha (Universidade do Porto, Portugal) e também envolve pesquisadores de Lisboa, Coimbra, Hungria, Croácia e outras instituições de ensino brasileiras (Universidade Federal de São Paulo, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Presbiteriana Mackenzie).
Ao justificar a necessidade de identificar os cardápios elaborados para esse público, Giovana Longo-Silva afirma que a obesidade infantil e as doenças crônicas associadas se tornaram um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. “Ao optar por um local que oferece um cardápio para criança, os pais acabam depositando maior confiança, acreditando que seja uma opção mais saudável, por isso a importância de se conhecer o que é ofertado nesses locais”, diz.