Sistema desenvolvido na Ufal auxilia prefeitos a monitorar crise da covid-19

Programa reúne informações para planejar área da saúde; prefeituras interessadas podem entrar em contato com pesquisadores

Por Thâmara Gonzaga – jornalista
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Dos 102 municípios alagoanos, 100 registram casos confirmados de covid-19. A informação é da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) e acende um sinal alerta, pois são cidades que, em sua maioria, apresentam estrutura de saúde insuficiente.

Diante dessa realidade, o esforço se volta para frear a disseminação do vírus. Além das medidas de distanciamento social e higiene que devem ser seguidas por todos, o uso da tecnologia ajuda prefeitos a conter o avanço da doença.

Gestores municipais de Maragogi, no Litoral Norte de Alagoas, estão utilizando o Sistema de Monitoramento da Covid-19 (SMC), um software desenvolvido pela equipe do Laboratório de Estatística e Ciência de Dados (LED), do Instituto de Matemática (IM) da Ufal, e que possibilita acompanhar a evolução da crise sanitária causada pelo novo coronavírus.

“Nossos estudos mostram que, do modo que a doença está se alastrando, não há possibilidade de atender toda a população que precisa de cuidados médicos. Nossa única alternativa é prevenir novos casos. E a melhor forma de fazer isso é monitorar todos os atendimentos realizados nas unidades de saúde, para que os agentes possam aprofundar a coleta e construir estratégias de combate ao espalhamento do vírus”, explica o pesquisador do LED, Krerley Oliveira.

Na proposta de uso do SMC, servidores que estão na linha de frente das unidades de saúde registram no software uma série de informações sobre casos confirmados e suspeitos. O programa também orienta a complementação dos dados com o apoio dos 'detetives covid', que são agentes capacitados para rastrear, realizar validações durante o atendimento presencial, por contato telefônico ou mensagens.

O sistema gera um boletim epidemiológico automático. Ele é público e, no caso de Maragogi, pode ser acessado neste link. Também já foi entregue ao município um mapa com a distribuição de casos suspeitos e confirmados. Em breve, tornaremos público um mapa de calor que revela as zonas de maior incidência de covid-19 na cidade”, detalha Sérgio Lira, professor do Instituto de Física (IF) e um dos integrantes da equipe.

Lira esclarece que, comparando os dados do SMC com os dos boletins publicados pela Sesau, são apresentadas divergências nos números, uma vez que no sistema desenvolvido na Ufal só constam as informações captadas nas frentes de atendimento. Ele afirma que já estão sendo adotadas medidas para conseguir a permissão de incluir os demais casos registrados e, assim, ter uma base completa. “Mas já temos dados que não estão disponíveis nos boletins estaduais, como suspeitos classificados por sintomas e a geolocalização deles no município”, destaca o docente.

Uso de dados para combater pandemia

No enfrentamento de uma doença nova sobre a qual ainda se tem mais dúvidas do que certezas, os pesquisadores ressaltam que os panoramas fornecidos pela ciência dos dados se tornam fundamentais para auxiliar a gestão pública durante a pandemia.

Eles explicam que o SMC fornece ao gestor municipal um painel de visualização sobre casos e capacidade de atendimento disponível na cidade, informando sobre predição de ocupação de leitos de curto, médio e longo prazo, previsão de ocupação para os próximos quatro dias, porcentagens de casos por sexo, comorbidades e faixa etária.

“Como a demanda de leitos acaba sendo grande, toda informação possível que possa ajudar ao gestor é importante. Previsões de curto prazo da demanda, bem como a gestão dos leitos disponíveis entre as unidades do sistema de saúde são tarefas críticas que incorporamos ao nosso software”, destaca Oliveira.

O programa também permite o monitoramento com geolocalização de doentes, rastreamento de potenciais infectados, gestão otimizada de suprimentos hospitalares visando o compartilhamento de itens, mapeamento da cadeia de contágio e isolamento de infectados antes que propaguem a doença.

“Saber em quais locais temos maior incidência da doença, assim como onde está somente começando, é muito importante para que as pessoas possam tomar os cuidados necessários. Nossos algoritmos de geolocalização de pacientes da frente de atendimento oferecem essa informação de modo visual para todos com mapas de calor, preservando as informações pessoais”, afirma o professor do IM.

O SMC ainda indica como aplicar ações efetivas para frear o avanço do novo coronavírus com base nas informações registradas pelos municípios. Reconstrução da cadeia de contágio, testagem inteligente, envio de agentes da atenção básica de saúde para áreas afetadas, isolamento domiciliar ou em alojamentos temporários são algumas das indicações.

Sistema disponível aos gestores municipais

O Sistema de Monitoramento da Covid-19 (SMC) foi desenvolvido para atender a realidade das cidades alagoanas. Além de Lira e Oliveira, também integram a equipe do projeto os professores Adriano Barbosa, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), e Thales Vieira (IC/Ufal).

Atualmente, apenas Maragogi utiliza o programa, mas, de acordo com os pesquisadores, a expectativa é estender o acesso do software a todas as prefeituras por meio de um convênio com a Associação dos Municípios Alagoanos (AMA).

É importante também frisar que não pararemos por aí e nossa pesquisa está só começando. Hoje, integramos um projeto com mais três equipes da USP [Universidade de São Paulo], Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] e Impa [Instituto de Matemática Pura e Aplicada] financiados pelo Instituto Serrapilheira, que é o maior instituto privado de apoio à ciência no país, para trazer respostas e soluções para os gestores públicos de Alagoas, afirma Krerley.

Além da capacidade de monitoramento ampliado, o pesquisador ressalta que a utilização do SMC é feita de modo que o gestor consiga exportar as informações para os softwares do Sistema Único de Saúde (SUS), reduzindo o trabalho e acessando informações em tempo real. “Todo esse resultado foi possível graças ao trabalho árduo da equipe de pesquisadores e alunos do Laboratório de Estatística e Ciência de Dados da Ufal, desde o início da pandemia no mês de março. Hoje, graças a Deus e ao trabalho da equipe, podemos dar soluções para ajudar os municípios de Alagoas no enfrentamento desse desafio”, afirma.

Prefeituras interessadas pelo sistema podem entrar em contato pelo e-mail ledimufal@gmail.com. Mais informações sobre o programa podem ser obtidas neste link.