Aplicativo auxilia no planejamento do conforto ambiental de construções

Grupo de pesquisa da FAU é responsável pelo programa que ajuda na decisão de soluções arquitetônicas de proteção solar

Por Thâmara Gonzaga – jornalista
- Atualizado em
Aplicativo Arqsolar está disponível para aparelhos do sistema Android
Aplicativo Arqsolar está disponível para aparelhos do sistema Android

Planejar espaços que priorizem o conforto ambiental dos moradores é uma das principais orientações dos projetos arquitetônicos. Não à toa, o tema é matéria obrigatória em cursos de graduação e motiva a realização de vários trabalhos de pesquisa. Para auxiliar estudantes da Ufal durante as aulas sobre o assunto, o Grupo de Estudos em Conforto Ambiental (Geca) da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) desenvolveu o aplicativo Arqsolar, um software que já ganhou projeção pela funcionalidade e passou a ser utilizado também por alunos de outras instituições de ensino superior e profissionais de diversos estados brasileiros.

O desenvolvedor do programa é o professor e integrante do Geca, Fernando Sá Cavalcanti. O docente, que também é vice-diretor da FAU, relata que a motivação para desenvolver o aplicativo surgiu no período de distanciamento social e que os professores do Geca sentiram a urgência de inovar o processo de ensino-aprendizagem, diante da necessidade de planejamento das aulas presenciais ou virtuais seguras no pós-pandemia.

As aulas da disciplina, conta o pesquisador, em muitos momentos ocorrem em laboratórios fechados, por causa da necessidade de usar os softwares. “Possibilitar que o estudante tenha acesso a essas ferramentas diretamente no seu celular pode evitar o 'confinamento' em ambientes fechados”, ressalta.

Já pensando na nova rotina com o retorno das atividades, Cavalcanti afirma que os pesquisadores do Grupo apostaram na possibilidade de desenvolvimento de aplicações para dispositivos móveis. “Foi iniciada uma série de estudos para tornar os conhecimentos em Conforto Ambiental na Arquitetura e Urbanismo mais acessíveis e esta é a primeira ferramenta de uma série que está sendo desenvolvida pelo grupo”, destaca.

Funcionalidades do Arqsolar

O objetivo principal da ferramenta, explica o pesquisador, é analisar a influência da radiação solar nas edificações por meio das cartas solares. “Essas cartas são diagramas comumente utilizados por arquitetos e urbanistas para avaliar a insolação na envoltória das edificações, sejam paredes, aberturas ou coberturas e, consequentemente, propor elementos arquitetônicos de proteção solar”, esclarece.

Ele cita que com o aplicativo é possível obter a posição do sol em um determinado dia e hora preestabelecidos pelo usuário, o processo de cálculo para obtenção do azimute e da altura solar, parte da obtenção do ângulo formado entre os raios solares, além da latitude da cidade, dia e hora especificada.

“É possível também analisar os diagramas solares que foram inseridos na base de dados do aplicativo e, a partir da orientação da fachada informada no início do aplicativo, analisar os horários que o sol incide neste elemento e assim propor soluções para melhorar o desempenho térmico e lumínico das edificações”, disse.

O professor relata que tem se observado, ao longo dos anos, uma dificuldade inicial dos estudantes na área de conhecimento de conforto ambiental. “A dificuldade está na compreensão e interpretação do sistema de representação estereográfico, ortográfico e equidistante, utilizados para a confecção das cartas solares e do movimento aparente do sol ao longo do ano em uma determinada localidade”, explicou.

De acordo com o docente, o aplicativo se apresenta como uma importante ferramenta na análise e tomada de decisões projetuais que podem garantir à edificação uma melhor qualidade espacial e ambiental.

“Surge como uma alternativa para que todos possam utilizar em seu próprio dispositivo móvel e assim garantir maior autonomia. Essa ferramenta foi desenvolvida utilizando a linguagem de programação Java® com o auxílio da ferramenta AndroidStudio® para a elaboração da interface e foram inseridos dados e algoritmos que facilitem a sua utilização de forma rápida e dinâmica”, informou.

Aceitação do aplicativo e registro no INPI

Disponível no sistema Android, a proposta do Arqsolar seria atender estudantes e professores das disciplinas de Conforto Ambiental da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e do Centro de Tecnologia (Ctec) da Ufal, mas o professor Cavalcanti conta que, após o lançamento, os integrantes do Geca perceberam que professores e discentes de outras instituições de ensino públicas ou privadas, tanto de Alagoas quanto de outras partes do Brasil, além de profissionais atuantes no campo da Arquitetura Bioclimática, baixaram a ferramenta.

Em dois dias de divulgação, foram mais de 300 usuários. “Isso tem gerado um feedback positivo. Alguns profissionais relataram que o aplicativo têm auxiliado na decisão projetual para produção de uma arquitetura Bioclimática, fato que os pesquisadores do Geca entendem ser a forma mais 'responsável' e 'ética' de produzir o projeto de arquitetura, adaptada às condições climáticas locais e promovendo um bom desempenho no seu uso e ocupação”, afirma.

Diante da aceitação do aplicativo e para proteger a propriedade intelectual dos pesquisadores da Ufal, o Núcleo de Tecnologia da Informação (NTI) da Universidade já fez o pedido de registro do software no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e o processo está em análise.

Grupo de Pesquisa

O Grupo de Estudos em Conforto Ambiental (Geca) da FAU é liderado pela docente Juliana Batista e pelo professor aposentado Leonardo Bittencourt.

O Grupo possui uma publicação impressa sobre o tema que é bastante utilizada nas escolas de Arquitetura e Urbanismo do Brasil. A obra tem como título Uso das Cartas Solares – Diretrizes para arquitetos, de autoria do professor Leonardo Bittencourt e publicado pela Edufal. A última edição é do ano de 2015.

Por já possuir essa referência, os pesquisadores avaliaram que seria um auxílio importante desenvolver o aplicativo Arqsolar. “Daremos continuidade ao trabalho, só que pensando em um público maior e na possibilidade de produção também para o sistema IOS”, conclui Cavalcanti.