Cientistas chamam atenção sobre pressões políticas para abertura econômica
Análise de pesquisadores da Ufal reforça a necessidade de rigor nas medidas de controle
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A terceira edição do especial Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia no Brasil, organizado pela professora Luciana Santana traz nova análise sobre as medidas dos gestores de Alagoas. Para a pesquisadora, flexibilizar medidas de controle alinha-se à pressão dos grupos econômicos locais. A série de textos feita em parceria com a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) faz um panorama sobre a situação de todos os estados e o Distrito Federal.
A análise da situação de Alagoas foi realizada pelos professores Emerson do Nascimento e Luciana Santana, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Ufal e reitera a necessidade de manter o rigor nas medidas de controle, para priorizar a saúde da população.
No documento publicado no site da ABCP no último dia 17 de julho, os pesquisadores destacam que o alinhamento do governador do Estado e o prefeito da capital Maceió e a busca de diálogo com os municípios foram importantes para o planejamento de ações e estratégias de combate ao novo coronavírus. Mas eles ressaltam que essas ações não foram suficientes para conter a alta explosiva dos números de contaminados e de óbitos observada entre a segunda quinzena do mês de abril e a segunda quinzena de junho, já que a população não colaborou para aumentar a taxa de isolamento social. De acordo com o Portal Inloco, a média de isolamento em Alagoas ficou em torno de 42%.
Emerson e Luciana também chamam atenção para o alastramento da covid-19 nos municípios do interior. “A expansão da pandemia para o interior do Estado tornou-se particularmente preocupante, primeiro, em função da rede de interdependência econômica e social que liga os municípios e, depois, pelas próprias limitações estruturais destes municípios”, comentaram ao destacar: “A expansão do vírus no interior acaba por impactar diretamente o sistema de saúde da capital”.
Na análise feita no último relatório do especial foram incluídos os dados da Secretaria de Estado de Saúde que apontavam, em 16 de julho, 48.734 casos confirmados e 1.348 óbitos, indicando uma taxa de letalidade de 2,8%. “A análise dos registros diários na última semana não nos permite afirmar que Alagoas esteja registrando qualquer sinal de redução de casos, todavia, o cenário geral parece apontar para uma relativa estabilização dos números no Estado”, salientaram os pesquisadores.
Medidas sob pressão
O documento da ABCP mostra que os gestores de Alagoas realizaram mais testagens e ampliaram a rede hospitalar, o que garantiu uma folga no número de leitos para tratamento de covid. De acordo com os pesquisadores, os indicativos de desafogamento do sistema de saúde estimularam o governo do estado a dar início a um processo de implantação de medidas de isolamento controlado e flexibilização das condições de segurança.
No mês de junho o governo emitiu decreto aprovando o Plano de Distanciamento Controlado com a definição de cinco fases, diferenciadas por cores. Uma matriz de risco foi publicada no dia 26 de junho, para contemplar as diretrizes apresentadas e, mesmo ainda na fase vermelha, um novo decreto dividiu o Estado, passando Maceió para a fase laranja.
“A flexibilização das medidas de controle desses municípios alinha-se à pressão dos grupos econômicos locais. Será uma nova fase para a retomada das atividades no setor em municípios litorâneos e a expectativa de arrecadação dos estados e municípios. A decisão do governador por acompanhar prognósticos diferentes para cada região é consoante à avaliação das especificidades locais no tratamento das condições de isolamento e de segurança, todavia, a decisão amplia a pressão por uma retomada em grande escala por todo o Estado”, avaliaram Emerson e Luciana no documento.
Para eles, a proximidade das eleições municipais influencia na tomada de decisões: “Esta medida continua imprimindo custos políticos que têm se avolumado junto ao tabuleiro político das eleições municipais que se avizinham. A falta de diretrizes mais objetivas do governo federal também não ajuda ao longo desse processo, visto que amplia sensivelmente a visibilidade do governador frente à gestão da pandemia”.
E num reforço sobre o momento para cautela e rigor, os cientistas da ABCP alertam que as pressões pela abertura econômica podem ameaçar estados pequenos, como Alagoas. “A principal crítica a essas decisões é a falta de orientações objetivas que possam amparar e nortear essas medidas. O período de controle da avaliação da propagação do coronavírus é demasiado restrito, como tem ponderado muitos epidemiologistas, e, portanto, mostra-se ainda insuficiente para amparar previsões seguras que garantam, de fato, a involução da pandemia”, destacaram ao concluir: “Faz-se cada vez mais importante que priorizem a saúde da população em detrimento de qualquer abertura precipitada que possa provocar efeitos deletérios a posteriori”.