Suspensão das aulas alterou rotina alimentar de crianças das escolas de Arapiraca
Estudo do Lacaps também mostrou redução da atividade física e mais uso de eletrônicos
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Crianças cheias de energia dentro de casa, sem aulas e sem contato com os amigos da escola. O distanciamento social impôs uma rotina difícil para aqueles que estão vivendo a infância, uma fase da vida marcada pelo movimento, pela descoberta e pelo convívio.
No caso dos alunos da rede pública de ensino, um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) evidencia que a realidade de não frequentar o ambiente escolar resultou em mudanças preocupantes para o cotidiano dos pequenos, inclusive na alimentação.
Ao entrevistar 125 mães, pais ou responsáveis, no período de 27 de maio a 5 de junho, durante a distribuição do kit de alimentos realizada pela Prefeitura de Arapiraca em cinco escolas de tempo integral, a pesquisa obteve dados que indicam alterações significativas na rotina de crianças de 5 a 10 anos.
“A hipótese que levantamos é que a suspensão das aulas presenciais tenha alterado a estrutura do dia da criança, fato esse que pode provocar desfechos negativos a saúde dela”, explica o coordenador do estudo, Luís Carlos Barbosa, que integra o Laboratório de Cineantropometria, Atividade Física e Promoção da Saúde (Lacaps) do Campus Arapiraca da Ufal.
Pelos dados já analisados pela equipe de pesquisadores, a hipótese se confirmou. “De fato, a gente pôde perceber que a pandemia piorou a rotina das crianças no contexto da regulação do sono, da prática de atividade física, da exposição a tela e no controle da alimentação”, destaca o coordenador.
Sono desregulado e pouco movimento
De acordo com os dados da pesquisa, antes da pandemia, em dias de aula, as crianças iam dormir por volta de 20h48 e acordavam às 6h24. Durante a pandemia, passaram a dormir às 21h50 e a acordar às 8h29, em média.
Além do sono desregulado, os dados também revelaram a redução de 54% de atividade física. Já o uso de tela, como computador, celular e TV, aumentou em 36%. Os familiares entrevistados, no total de 53%, também afirmaram que os filhos estão mais ansiosos e 51% que estão mais estressados.
Outro dado preocupante mostrado pelo estudo é que, ao ficar fora da escola, houve uma redução no consumo de alimentos saudáveis e de uma dieta equilibrada.
“Tudo isso pode ser muito prejudicial à saúde das crianças. Vale destacar que a importância da escola vai além do ensino aprendizagem e, especialmente, o componente curricular Educação Física é fundamental no processo de se promover saúde na escola”, afirma Barroso.
Sobre o estudo
As entrevistas realizadas em escolas de tempo integral de Arapiraca fazem parte do projeto macro que tem como título Desenvolvimento, implementação e avaliação do eixo da atividade física na política municipal de educação integral de Arapiraca – AL.
A iniciativa é liderada pelo pesquisador Luís Carlos Barbosa, sob orientação do professor Rafael Tassitano (Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE), coorientação do professor Arnaldo Tenório (Campus Arapiraca Ufal) e colaboração do professor Leonardo Luz (Campus Arapiraca Ufal), tendo sua execução feita pelo Lacaps, com o apoio da Secretaria Municipal de Educação e Esporte de Arapiraca, da Ufal e a parceria da UFRPE.
O projeto macro, explica Barbosa, visa à elaboração e inserção do eixo da atividade física na Política Municipal de Educação Integral de Arapiraca, baseada nos mecanismos da Theory of Expanded, Extended and Enhanced Opportunities (TEO), de autoria do pesquisador americano Michael W. Beets e colaboradores. “Expandir, estender e aprimorar as oportunidades de atividade física para as crianças no ambiente escolar poderão ser um importante componente para a manutenção da saúde delas”, defende o pesquisador.