Ufal participa de maior estudo sobre epidemiologia do coronavírus

Epicovid19-BR testou 89 mil pessoas em 133 cidades e mostra crescimento da doença em Alagoas

Por Manuella Soares - jornalista
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O estudo epidemiológico com o maior número de indivíduos testados do mundo para o coronavírus teve participação da Universidade Federal de Alagoas. Denominado Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional (Epicovid19-BR ), financiado pelo Ministério da Saúde e coordenado pelo Centro de Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), concluiu as três fases previstas no cronograma original. Foram mais de 89 mil entrevistas e testes realizados em 133 cidades de todas as regiões do país, no período entre maio e junho.

A professora do curso de Enfermagem em Arapiraca, Karol Fireman, participou do estudo na parte de coleta de dados com apoio de profissionais do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Numa análise geral, a pesquisa mapeou a epidemiologia da doença no Brasil e mostrou resultados para questões como proporção da população com anticorpos e velocidade de expansão do novo coronavírus.

Considerando a taxa de falsos positivos e negativos do teste rápido, o percentual da população que já teve contato com o vírus nas cidades pesquisadas foi de 1,9% na primeira fase, 3,1% na segunda e 3,8% na última fase da pesquisa. O que mais chamou atenção da pesquisadora sobre os resultados específicos de Alagoas, nas amostras de Maceió e Arapiraca, foi o crescimento da prevalência entre as coletas. “A cada intervalo, cerca de 15 dias, os percentuais praticamente dobraram. Em Maceió saímos de 1,3% para 13,6%. Um crescimento alarmante, similar a Fortaleza- CE. Arapiraca saiu de 0% para 4,4%, ente a primeira coleta e a última, demonstrando que está em crescimento de casos”, destacou Fireman.

Outros aspectos como apresentação de sintomas em quem já teve contato com o vírus também foi alvo da pesquisa. Das 2.064 pessoas com anticorpos, apenas 9% não relataram qualquer sintoma, sendo classificadas como assintomáticas. E entre as que tiveram sintomas, os cinco mais citados foram alteração de olfato/paladar (62,9), dor de cabeça (62,2), febre (56,2), tosse (53,1) e dor no corpo (52,3).

O resultado do estudo foi apresentado pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, que parabenizou os pesquisadores pela contribuição do Brasil para a comunidade científica internacional. Ele analisou os dados e destacou outras comparações importantes para compreender a manifestação da doença.

“A diferença entre o número de pessoas infectadas é seis vezes maior do o número de casos notificados. Trata-se de algo esperado, quando a maior parcela dos casos é leve ou assintomática, o que deve ser ainda confrontado com outros estudos disponíveis visto que outras estimativas apontaram um número maior para essa chamada subnotificação. Da mesma forma, a taxa de mortalidade do estudo está próxima de 1%. O valor é 75% menor do que obtemos com a notificação oficial, que chega a mais de 4%, mas acima de taxas apontadas em outras literaturas científicas. Assim, contribuiremos para melhor entender o enfrentamento da doença com esses novos dados”, ressaltou.

Confira o estudo completo, disponível aqui, onde também é possível observar dados sobre proporção de pessoas com anticorpos em subgrupos de sexo, idade, cor da pele e nível socioeconômico; grau de adesão ao distanciamento social e percentual de coabitantes que também tiveram resultado positivo para o coronavírus no mesmo domicílio de alguém infectado.  

Alagoas na pesquisa

A primeira fase da pesquisa foi realizada de entre os dias 14 e 21 de maio, totalizando 223 entrevistas e testes rápidos em Arapiraca e 234 em Maceió. Na segunda etapa cada uma das cidades testou 250 pessoas de 4 a 7 de junho. E a última fase, realizada entre os dias 21 e 24 de junho coletou mais 250 testes e entrevistas em Maceió e 250 em Arapiraca.

A professora Karol Fireman destaca a importância da Ufal ser representada numa pesquisa como essa, que contribui de forma direta com a sociedade. Ela também fez uma reflexão sobre o momento da pandemia vivido no Estado:

“Acredito que seja o momento de uma testagem em massa, para que se tenha dados que retratem ainda mais a transmissão e como isso funciona entre os bairros, especialmente na capital. As medidas nos fazem refletir mais sobre a dinâmica da pandemia, visto o crescimento contínuo dos casos. Os profissionais que estão no enfrentamento direto como profissionais da saúde, policiais e parte da comunidade atuando nos serviços essenciais precisam ter testagem disponível e monitoramento contínuo. Eles precisam ser vistos com um olhar diferenciado e cuidadoso, pois necessitam se sentir seguros para realizar seu trabalho com o mínimo de tranquilidade e segurança”.

É o mesmo pensamento compartilhado pela infectologista do Hospital Universitário, Raquel Guimarães, que vê com preocupação os números de Alagoas. “Devemos investir no rastreamento precoce dos casos, manutenção da quarentena em suspeitos e uso maciço de máscaras por toda a população. Pois o tempo de replicação viral é muito mais veloz do que o impacto das medidas que possamos tomar.

De acordo com a médica, as coletas em Arapiraca que fizeram parte do relatório é mais um documento que reforça o avanço da doença no interior. “Continuamos com uma curva de casos crescente, assim como o número de óbitos. Como não temos leitos de UTI no interior do Estado, termina que os casos sendo encaminhados já vão em estado grave para Maceió, onde a infraestrutura hospitalar funciona de forma mais adequada. Nesse cenário, em que a taxa de transmissão parece ter melhorado na capital, é necessário incluir o controle de carros e ônibus do interior para a capital, funcionando como barreira sanitária.  Há uma tendência pequena de estabilização dos casos na capital, mas pela demora nos resultados de exames de RT PCR , estamos visualizando o que ocorre duas semanas atrás”.