Pesquisadores apresentam trabalho em evento latino-americano de Cronobiologia
Estudo mostra evidências de associação entre alterações do relógio biológico e a predisposição ao suicídio
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Uma pesquisa desenvolvida por docentes e alunos, intitulada In vivo modeling of seasonal variations in suicidal behavior [Modelagem in vivo de variações sazonais no comportamento suicida], mostra evidências de associação entre alterações do relógio biológico e a predisposição ao suicídio. Coordenado pelo professor Tiago Gomes, da Faculdade de Medicina (Famed) da Ufal, o trabalho verificou, em ratos, que o desalinhamento do relógio biológico induzido por um aumento da duração da luz pode ser um desencadeador do comportamento suicida.
Os resultados da pesquisa, que teve financiamento da Fapeal, Capes e CNPq, foram apresentados no 16º Congreso Colombiano y 10º Congreso Internacional de Genetica Humana. A conferência abordou o suicídio e as disrupções do ritmo circadiano.
O professor Tiago explica que o principal objetivo da pesquisa é avaliar aspectos fisiológicos e comportamentais de animais expostos a condições ambientais similares àquelas observadas em estudos epidemiológicos que mostram um aumento da taxa de suicídio no final da primavera e começo do verão. “Esses animais podem ajudar a constituir um modelo de investigação das bases neurobiológicas associadas ao comportamento suicida”, afirmou.
Na pesquisa, realizada com animais de laboratório obtidos do Biotério Central da Ufal e conduzida nos laboratórios do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), Famed e Unidade Docente Assistencial (UDA), vinculados ao Centro de Medicina Circadiana, foram feitos testes comportamentais, farmacológicos e moleculares. Dentre as análises, foi feito um estudo do transcriptoma do córtex pré-frontal de camundongos para identificar alterações na expressão de genes induzida por variações de fotoperíodo.
“Os animais apresentaram comportamentos que são similares a alguns endofenótipos [características comportamentais e fisiológicas] observados em pacientes psiquiátricos com risco de suicídio. Esses comportamentos são prevenidos com lítio, similarmente ao que se observa com o risco de suicídio em populações humanas. Além disso, observamos variações no ritmo circadiano e na expressão de alguns genes importantes para o funcionamento do cérebro e que estão alterados em distúrbios neuropsiquiátricos”, avaliou.
“As evidências da literatura mostram que a privação do sono pode evocar a crise suicida. Além disso, outros fatores ambientais que sabidamente modulam o ritmo circadiano, como a exposição à luz noturna, alimentação e atividade física em horários inadequados ao cronotipo da pessoa, podem provocar um desalinhamento do relógio biológico e em indivíduos susceptíveis, eventualmente predispor ao suicídio”, afirmou o professor.
Outro estudo foi selecionado no Lasc 2021 – 16º Latin American Symposium on Chronobiology, que aconteceu também no início de outubro e é o evento mais importante da área na América Latina, reunindo pesquisadores de diversos países, incluindo EUA e Europa. A equipe liderada pelo professor Tiago Gomes de Andrade foi selecionada para uma apresentação oral no evento.
Na ocasião foram apresentados os resultados das pesquisas realizadas pelo Centro de Medicina Circadiana, da Famed, com o título: RNAseq analysis of the prefrontal cortex of mice exposed to a daylength transition model. A equipe é formada por Vinícius Tenório Braga Cavalcante Pinto, aluno de Medicina e apresentador da palestra; Mayara Rodrigues Barbosa, aluna do doutorado em Ciências da Saúde na Ufal; Daniel Gomes Coimbra, servidor técnico da Ufal. O grupo também conta com colaboradores do ICBS da Ufal e da Universidad Nacional de Quilmes, na Argentina.