Ufal investe em ensino para incentivar cultura empreendedora

Desempenho em ranking nacional vai de encontro às ações realizadas há décadas

Por Manuella Soares - jornalista
- Atualizado em
Presidente da Fejea, Ítala Lessa
Presidente da Fejea, Ítala Lessa

Programas, disciplinas regulares e apoio à inovação fazem parte do incentivo da Universidade Federal de Alagoas para semear a cultura do empreendedorismo. O Ranking das Universidades Empreendedoras (RUE), divulgado neste mês de dezembro, classificou a Ufal com a nota 4,26, mas a gestão da Ufal observa uma realidade em constante ascensão na área.

“Na nossa percepção, o resultado apresentado para a Universidade destoa frontalmente das ações que nós observamos no nosso dia a dia. A começar da oferta permanente de disciplinas de empreendedorismo na graduação e na pós-graduação. Em algumas áreas, como Química e Materiais, essa disciplina é obrigatória há mais de 20 anos”, destacou o reitor Josealdo Tonholo sobre a queda da nota em relação ao último ranking (2019), quando ficou com 4,30.

A tradição em atividades voltadas para o empreendedorismo destaca constantemente a Ufal entre as universidades que mais envolvem os estudantes. Para ratificar essa informação, um relatório da Federação de Empresas Juniores do Estado de Alagoas (Fejea) mostra que a Ufal é a instituição de ensino superior com a maior quantidade de empresas federadas no Estado. Já são 18 ligadas à Fejea e outras sete com documentação em processo de regulamentação para federar junto ao órgão.

Atualmente, cerca de 200 estudantes da Ufal fazem parte do Movimento Empresa Júnior. “Apenas em 2021, as empresas juniores da Ufal movimentaram aproximadamente R$ 1 milhão por meio da venda de seus serviços”, ressaltou a presidente da Fejea, Ítala Lessa. Ela explica que o dinheiro é reinvestido na educação empreendedora dos membros das empresas e na manutenção delas. E acrescenta:

“Foram realizados 630 projetos e serviços para o mercado até então, os quais possuem um NPS médio de 91% [métrica relacionada à satisfação dos clientes]. Desses, 338 foram projetos de Alto Impacto, ou seja, atingiram um ou mais ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] da ONU [Organização das Nações Unidas] e tiveram um NPS promotor”.

Dimensões avaliadas

As edições bianuais do Ranking de Universidades Empreendedoras (RUE) propõem medir a cultura empreendedora, a inovação e a extensão das instituições de ensino superior do Brasil. Os dados são coletados e analisados a partir da percepção dos alunos, posicionamento oficial das instituições e fontes secundárias que validam os esforços internos.

Essas dimensões tendem a mensurar o que substancialmente influencia no grau de empreendedorismo de uma instituição de ensino. O pilar de extensão da Ufal é levado a sério e regulamentado como componente curricular desde 2018. Os projetos realizados além muros contribuem para o desenvolvimento social e científico.

A Universidade tem importantes programas de extensão, como o Paespe, que trabalha na área de tecnologias sociais; a Incubadora de Tecnologias Sociais, sediada no Centro de Educação; as empresas juniores, e o Enactus, que teve um projeto finalista na edição 2020 do Prêmio Sumitomo Chemical, realizado em parceria com a Enactus Brasil.

O projeto Ortu tem como objetivo melhorar a qualidade de vida de grupos que se encontram em vulnerabilidade social. A ideia é a geração de renda proporcionada pela construção e venda de módulos hidropônicos domésticos, um produto inovador com tecnologia desenvolvida pelos próprios alunos em parceria com conselheiros de negócios.

“Estas são algumas das atividades que evidenciam que a Ufal tem um forte comprometimento com a cultura empreendedora, da inovação e, particularmente, com relação à utilização social dessas tecnologias, seja para conseguir competitividade das empresas locais, melhorar a competitividade para aumentar o mercado e também contribuindo com tecnologias que permitam a apropriação social por meio de organizações de associações de assentados, por exemplo”, frisou o reitor.

Experiência em Inovação

Outro dado do Ranking contestado pelos gestores da Ufal é relativo às patentes. Apesar de Universidade aparecer numa baixa posição no RUE, no último ano a Ufal celebrou a melhor marca da história, ficando na 16ª posição do TOP 50 do Brasil em patentes de invenção, e alcançou o 5º lugar em registros de programas de computador. A lista foi divulgada pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Leia matéria aqui

A equipe da Coordenação de Inovação e Empreendedorismo (CIE) já estava na expectativa de superar as marcas anteriores e um dos motivos para isso é atribuído ao desempenho das pesquisas realizadas na unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Industrial para Inovação (Embrapii), localizada no Instituto de Computação (IC), por meio do grupo Edge, que com dois anos de existência, já gerencia 27 projetos, envolvendo 156 bolsistas contratados e mais de R$ 55 milhões em investimentos.

Solidez e referência da maior instituição do Estado

Outras dimensões avaliadas pelo RUE mensuram as capacidades de internacionalização, infraestrutura e atração de capital financeiro das universidades. O objetivo é medir os meios que proporcionam as melhores condições para o desenvolvimento do protagonismo acadêmico. Estes quesitos o reitor Josealdo Tonholo contextualiza entre os investimentos em ações de maior orgulho para a Ufal.

“A Universidade Federal de Alagoas tem alguns programas de destaque nacional, a exemplo dos desenvolvidos pelo Laboratório de Computação Científica e Visualização (LCCV) que foi fundamental para trazer competência para o país na área da prospecção e exploração do Pré-Sal, além do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar, que é um modelo de referência para a produção de cultivares e, hoje, aproximadamente 70% de toda a cana plantada no Brasil passou pelas mãos da nossa Universidade”, enalteceu Tonholo, lembrando ainda que “desde 2020, está funcionando a nossa unidade Embrapii, que tem tratado com as empresas de grande porte, mundialmente falando, nos quesitos relacionados à Inteligência Artificial para automação industrial”.

Reforçando o posicionamento do reitor, o professor Pierre Escodro, coordenador de Inovação e Empreendedorismo da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propep), ratifica que as ações têm crescido nos últimos anos, com captação de recursos público-privados aumentado exponencialmente na instituição, demonstrados pelos números de projetos via Fundepes, depósitos de patentes e registros de softwares.

Degraus a subir

A nota geral da Ufal no Ranking das Universidades Empreendedoras foi recebida pelos gestores como um quesito a observar de perto. “Eu acredito que deve ter tido algum problema de captação de dados de alimentação, o que vai ser apurado pelo Núcleo de Inovação Tecnológica para saber de que forma nós poderíamos ter respondido adequadamente esse formulário ou de que forma esses dados foram captados, mas, certamente, não foram captados na essência do que hoje a Universidade representa não só para Alagoas como para toda a região Nordeste”, afirmou Tonholo.

“Desenvolver uma cultura empreendedora dentro de uma universidade demanda ações constantes de fomento e estímulo ao empreendedorismo dentro do meio acadêmico. Acreditamos que agora é hora de focar em construir objetivos estratégicos que possam ser trabalhados a curto, médio e longo prazo pela Ufal para que ela ganhe o destaque que merece”, reforçou a presidente da Fejea, Ítala Lessa.

Pierre destaca que a avaliação é restrita a alguns indicadores com maior percepção de alunos, o que pode ter deixado a nota no mesmo patamar, porém com queda de posições no ranking geral. Ele reforça: “A construção de objetivos estratégicos já é realizada há anos em nossa instituição, porém ainda não atingindo a totalidade dos cursos e da comunidade acadêmica. Assim, temos atividades extremamente produtivas no quesito empreendedorismo e inovação em algumas áreas, mas em outras ainda de forma embrionária”.

O coordenador tem ciência do grande desafio imposto para os próximos anos: “Trabalhar com muito afinco para que nossa cultura empreendedora cresça e que os resultados possam ser apresentados por mais áreas de conhecimento”. E finaliza: “Imaginem onde podemos chegar se tivermos disciplinas e atividades de empreendedorismo em todos os cursos? Mesmo com queda do ranking, nossos resultados são relevantes, considerando a cultura empreendedora do Estado e certa resistência de boa parte da comunidade acadêmica pela temática. A coordenação de Inovação e Empreendedorismo da Propep Ufal está à disposição para apoio, planejamento de disciplinas de PI e Empreendedorismo aos cursos de graduação e pós-graduação da instituição! Esse trabalho vai crescer muito em 2022 com apoio das entidades empreendedoras e dos discentes que semeiam nas áreas. A mudança já está acontecendo!”.