Complexo Esportivo da Ufal vai abrigar projeto que alia matemática à natação
Alunos do ensino fundamental da rede pública de Maceió serão contemplados com o projeto Esporte sem Fronteiras
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Noções de geometria, volume, tempo, escala e distância vão se misturar com braçadas, respirações e pernadas nos quatro estilos. Assim que o ano letivo presencial tiver início em Maceió, aulas de natação acompanhadas de noções de matemática serão ministradas a 360 alunos do 1º ao 9º ano do ensino fundamental da rede pública na capital alagoana. A iniciativa vai envolver adolescentes de 10 a 14 anos, que farão as atividades no complexo esportivo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). A parceria envolve a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (Snelis) do Ministério da Cidadania e o Instituto de Educação Física e Esporte (Iefe) da Ufal.
O objetivo é unir o ensino da natação com a linguagem da matemática, tornando a disciplina mais palpável ao cotidiano. A parceria oficializada em novembro de 2020, com validade de 24 meses está pronta para ser iniciada e o repasse para a execução é de R$ 495 mil, garantidos pelo projeto Esporte Sem Fronteiras, via Ministério da Cidadania.
“Esse projeto é diferenciado porque atua em uma região de muitas crianças em condição de vulnerabilidade. E esse link da parte esportiva com a educação é ímpar, porque cria duas paixões, tanto pelo esporte quanto pela matemática”, afirmou Fabíola Molina, secretária nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
As aulas de natação ministradas com o reforço na matemática pretendem promover o desenvolvimento integral dos alunos, tanto em sua formação acadêmica quanto cidadã, além de permitir inclusão social e gerar qualidade de vida. “A intenção do projeto é formar cidadãos, para que possam ter mais possibilidades e oportunidades no futuro”, disse Molina.
Dar significado
A cada 50 alunos, um professor, dois monitores e dois pesquisadores irão acompanhar as aulas, que serão sempre no contraturno escolar. Enquanto um grupo de alunos está na piscina, aprendendo a natação, o outro trabalha a matemática como linguagem.
“Muitos alunos nos perguntam: onde vou usar isso? Por que estudar matemática? Esse projeto vem para dar significado ao que é trabalhado em sala, trazendo a matemática como linguagem para a vida das crianças”, explicou Isnaldo Barbosa, professor e diretor do Instituto de Matemática da Ufal e um dos pesquisadores que vão acompanhar os alunos.
Segundo ele, a matemática será ministrada respeitando a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ministério da Educação para cada grupo de alunos. “A depender do nível escolar dos meninos e meninas, serão trabalhadas noções de geometria, perímetro, distância percorrida e o tempo dos alunos na natação, além de conceitos como volume da piscina, o porquê de flutuarmos na água, profundidade, entre outros”, exemplificou.
“Temos um projeto de reaproveitamento dessa água, então, quantas caixas d’água daria para encher com a água da piscina. E mais: dentro de casa, qual o volume da descarga do banheiro, da torneira”, completou.
Uma das ferramentas que será usada no projeto é a abordagem pedagógica STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), focada em aprendizagem criativa nas disciplinas de exatas e em modelos práticos de aprendizagem, com o objetivo de, no futuro, formar profissionais qualificados para o mercado de trabalho nas áreas das ciências e tecnologia.
“A ideia é fechar uma coletânea de publicações ao longo do projeto e que a gente consiga agregar outras áreas do conhecimento. Ao fim, os alunos da Universidade vão fazer relatórios sobre os grupos e atividades realizadas, e analisaremos o impacto na saúde deles, no rendimento escolar. A abordagem STEM é muito utilizada em países em desenvolvimento”, ressaltou Isnaldo.
A iniciativa também tem gerado expectativa na Ufal pelo caráter interdisciplinar. O professor Pedro Balikian Junior é coordenador do projeto no Iefe e acredita na promoção do conhecimento e na mudança de vida.
“O primeiro ponto está no acesso à universidade dessas crianças que vivem em situação de extrema pobreza, fato que, até então, era algo distante para elas. Elas vão desenvolver um sentimento de pertencimento social. Segundo, elas passam a ter acesso a uma modalidade que há até pouco tempo era taxada como de classe social elevada, a natação. Isso sem falar que a atividade física vai gerar bons índices de indicadores de saúde nas crianças -elas vão deixar o celular para ir nadar. O exercício vai interferir positivamente no desempenho escolar, pois ela passa a ter mais empenho na matriz curricular, passa mais tempo na escola e isso reduz evasão escolar”, completou.
“A parceria com o Ministério da Cidadania possibilitou ao Instituto de Educação Física e Esporte da Ufal cumprir parte do tripé fundamental de uma instituição de ensino pública: ensino, pesquisa e extensão. Com o Esporte sem Fronteiras abriremos pela via da extensão universitária as portas da universidade para a comunidade. E, assim, com a prática esportiva orientada, contribuímos para a melhoria da condição de vida dos jovens mais carentes”, concluiu a diretora do Iefe, Leonéa Vitória Santiago.