Pesquisa sobre apicultura no Sertão de Alagoas gera 1º artigo científico
Geração de renda, desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente são o foco do estudo
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A publicação recente de um artigo sobre a importância da apicultura como atividade econômica e de preservação ao bioma da caatinga, no periódico Campo-Território: Revista de Geografia Agrária, de circulação nacional, demonstra a atuação da Universidade Federal de Alagoas em prol do desenvolvimento do Estado. O artigo é fruto da pesquisa Apicultura como atividade de desenvolvimento e conservação do Bioma da Caatinga: um estudo de caso no Sertão de Alagoas que contempla três comunidades rurais dos municípios de Inhapi, Piranhas e Olho D´água do Casado, participantes do Projeto Arajuba que visa o fortalecimento da atividade na região sertaneja.
A pesquisa, que já resultou na publicação de um primeiro artigo, configura-se como um dos resultados da 2ª Expedição Científica do Baixo São Francisco, liderada pela Ufal que, este ano realiza a 4ª edição. Dotada de etapas, a parte social do estudo estava sob a coordenação do professor Rafael Navas, falecido em dezembro, logo após a realização da terceira edição do evento.
“O professor Rafael Navas não chegou a concluir outras etapas, a exemplo da certificação dos produtos apícolas que ainda não foi realizada. As pesquisas com a parte social, realizadas com as populações do Baixo São Francisco estavam sob a sua coordenação. Ele finalizou e submeteu o artigo para publicação, mas a revisão foi feita pela professora Themis Silva”, frisou Emerson Soares que, junto com a pesquisadora, é também autor do artigo.
O professor Rafael Navas tinha uma vida acadêmica dinâmica como docente e pesquisador na área agroecológica, considerado uma liderança na era da agroecologia. Segundo o professor Emerson, coordenador geral da Expedição Científica, o papel de Rafael foi fundamental nas ações e práticas sociais nas expedições científicas e era reconhecido por muitos movimentos sociais. Sobre a atuação dele na parte social junto às comunidades, Emerson e Themis dizem que Navas continuaria, neste ano de 2021 e no próximo, os trabalhos com certificação orgânica de, pelo menos, duas associações. Uma delas seria a Associação de Apicultores, que resultou no artigo científico.
“Ele dava uma visão humanista aos trabalhos dos pesquisadores e incentivava a adoção de práticas agroecológicas, com culturas livres de agroquímicos, valorizando a produção local. Por meio das expedições, começou uma série de pesquisas na região do Baixo São Francisco, como o artigo publicado sobre a atividade apícola, mas podemos mencionar trabalhos com as comunidades de agricultores familiares e de pescadores”, afirmaram Emerson e Themis.
Projeto Arajuba
A pesquisa com apicultores do projeto Arajuba conta com a participação de alunos do curso de Agroecologia do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal e tem a parceria da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural Brasileira (Emater). O estudo visa conhecer a atividade apícola na região do Sertão, saber como a atividade está organizada e entender a atuação e a importância do projeto. Além de incentivar a atividade apícola e mostrar como é uma excelente fonte de renda para as populações locais. Objetiva tornar a Apicultura uma atividade rentável, como meio de subsistência de trabalhadores rurais que participam do projeto.
De acordo com os autores do artigo científico publicado, a apicultura é uma atividade econômica capaz de causar impactos positivos nos aspectos social, ambiental e econômico. No Nordeste brasileiro é desenvolvida, principalmente, pela agricultura familiar, contribuindo para a renda das famílias e a permanência da população no campo, além de preservar o bioma da caatinga. Estudos mostram que, onde se desenvolve a apicultura, em média 2,5 pessoas por família se envolvem na atividade, o que comprova que esse tipo de trabalho na região nordestina é predominantemente familiar.
A pesquisa em desenvolvimento no Sertão de Alagoas tem como objetivo avaliar o impacto da apicultura entre agricultores familiares dos municípios alvos do Projeto Arajuba, desenvolvido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Constatou-se que, a maioria dos agricultores entrevistados tem na produção de mel sua principal fonte de renda, principalmente pela limitação no acesso à água que restringe os plantios. Tem o objetivo de autoconsumo e venda do excedente, associada à criação de pequenos animais.
O levantamento de dados foi realizado com 14 famílias de três comunidades de Inhapi, Piranhas e Olho D’Água do Casado, participantes do projeto e enfocou questões socioeconômicas, ambientais, acesso a políticas públicas e aspectos produtivos. Verificou-se que o número de colmeias por família, entre os integrantes, varia de quatro a 25, com média de 15 unidades. O que influencia, segundo a pesquisa, na renda mensal, que é heterogênea entre o grupo, com algumas famílias recebendo entre meio a um salário mínimo e outras com renda de 1,7 salários, somando o recebimento de aposentadoria e bolsa família.