Ufal vai criar centro de diagnóstico precoce para doenças crônicas
Proposta vai utilizar metabolômica e inteligência artificial no combate às pandemias
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Manter-se saudável é a meta de muitas pessoas desde o início da pandemia da covid-19. Mas os efeitos devastadores do coronavírus não são a única preocupação da sociedade médica e científica no último ano. É que cardiopatias e hipertensão, por exemplo, figuram como responsáveis por 51% dos óbitos da população entre 30 e 69 anos no Brasil, como apontam estudos da área. Essas patologias estão entre as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) e são objetos de análises teóricas e práticas na Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
“A propagação das DCNT em um grande número de indivíduos também pode ser caracterizada como pandemia de difícil enfrentamento, uma vez que os casos são crescentes ao redor do mundo há décadas. Apesar das diferenças etiológicas, o SARS-CoV-2 e as DCNT necessitam de medidas precisas de combate que perpassam do diagnóstico mais preciso e antecipado até o processo de recuperação”, ressaltou o professor Pedro Balikian, do Instituto de Educação Física e Esporte (Iefe).
Balikian e um grupo de pesquisadores do Iefe, do Hospital Universitário e dos institutos de Química e Biotecnologia (IQB), Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), e Ciências Farmacêuticas (ICF) propõem criar um Centro de Ciência e Tecnologia no estado de Alagoas, vinculado à Ufal para inovar na área de diagnóstico. Será possível fornecer produtos voltados à previsibilidade das DCNT e ao tratamento dos pacientes acometidos pela covid-19, combinando métodos científicos de última geração que envolvem a Inteligência Artificial e a metabolômica, que é o estudo para identificar e quantificar o conjunto de metabólitos produzidos ou modificados pelo organismo.
O professor explica que, geralmente, as doenças não transmissíveis são detectadas por sinais dos pacientes, sintomas e análises quando a patologia já está estabelecida no organismo. Os exames bioquímicos estão defasados em relação ao potencial revelado por pesquisas científicas e, segundo ele, detectam as doenças de maneira tardia. A proposta dos pesquisadores da Ufal é mudar o paradigma existente nos sistemas público e privado de saúde e introduzir o diagnóstico preventivo, ou seja, antes que a doença se desenvolva.
“A inserção de um único exame, capaz de detectar aproximadamente 4.240 metabólitos provenientes de amostras não invasivas de urina e da Inteligência Artificial, será capaz de viabilizar um sistema de descoberta de padrões associados às doenças, bem como, implementar técnicas ao prontuário médico para auxílio na tomada de decisão”, detalhou Balikian.
O projeto de criação do Centro de Ciência e Tecnologia já conseguiu apoio de emenda parlamentar e pode ser uma realidade em breve no Estado. Um dos objetivos é explorar descobertas inéditas em modelos preditivos de Inteligência Artificial e de fenotipagem metabólica para um diagnóstico mais preciso, além de auxiliar a intervenção clínica.
Em consequência a isso, os novos biomarcadores e a inovação por testes em massa não-invasivos podem otimizar e reduzir custos das políticas públicas e privadas voltadas à prevenção de doenças crônicas.
Sequelas da covid-19 tratadas em centro de referência
Diferentes tipos de sequelas acometem alguns dos pacientes infectados pela covid-19, tais como problemas respiratórios, neurológicos, cognitivos, cardíacos e renais. Uma das propostas do Centro de Ciência e Tecnologia é direcionar pesquisa científica e suporte técnico visando estabelecer uma rede de apoio para esses pacientes.
Segundo o professor Pedro Balikian, os pesquisadores vão desenvolver produtos que auxiliem na identificação de possíveis alterações do quadro de pós-covid. A princípio, dois produtos serão oferecidos à sociedade. Um deles é o prognóstico por biomarcadores que mostram alterações neurológicas ou metabólitos relacionados com falência renal. “Tal ferramenta tem como ponto principal a rapidez na análise – cerca de 15 minutos – e o valor agregado, em torno de 120 reais por análise”, destacou.
O outro produto que o Centro vai ofertar é um dispositivo portátil capaz de detectar modificações celulares específicas oriundas da covid-19, com base no biossensoriamento e aplicações no diagnóstico. “Tudo isso permite o estudo de fenômenos em sistemas biológicos mimetizados que são elusivos para equipamentos em macroescala”, ressaltou o professor sobre o potencial de beneficiar grande número de pessoas.
Visão de mercado
Os métodos que serão utilizados se baseiam na microfluídica, que é a ciência e a tecnologia de sistemas capazes de processar quantidades muito pequenas de líquidos em canais minúsculos. De acordo com Balikian, esta área integrada a biossensores ainda é nova no Brasil, mas é bastante promissora no enfrentamento aos desafios atuais e futuros da saúde.
Da mesma forma, ele avalia que existe um nicho de mercado a ser desenvolvido por empresas e startups em sistemas de laboratórios que utilizam chip para biotecnologia. Assim, a partir da infraestrutura, do parque de equipamentos e da capacidade técnica de execução da Ufal, em rede nacional de colaboração e parcerias internacionais, o Centro pode colocar Alagoas no mapa de referência do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (MCTI), um dos únicos estados que ainda não possui.
“Propõe-se consolidar um Centro de Ciência e Tecnologia no estado de Alagoas de modo a promover a pesquisa, o desenvolvimento, a inovação, startups, novas soluções e produtos, fomentando o empreendedorismo e amenizando as desigualdades sociais primariamente para o estado de Alagoas e, posteriormente, beneficiando pessoas para toda nação”, finalizou o professor da Ufal.