Conselho Universitário debate retorno presencial para março

Após muitas intervenções e intensa participação no chat, a decisão foi adiada para a próxima terça-feira,1º de fevereiro

Por Lenilda Luna - jornalista
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Na sessão ordinária do Conselho Universitário (Consuni), convocada para esse dia 25 de janeiro, quando a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) completa 61 anos de criação, a pauta sobre o retorno presencial mobilizou a comunidade universitária. A sala virtual ficou lotada e a audiência no canal do Youtube chegou a cerca de 500 participantes ao vivo. 

O reitor Josealdo Tonholo abriu a sessão parabenizando todas as pessoas que constroem a Ufal, na passagem de mais um aniversário, e destacou o papel que a universidade cumpriu no enfrentamento à pandemia de covid-19, não só em Alagoas, mas com estudos que foram referências para as tomadas de decisões em nível nacional. “Os pesquisadores da Ufal se desdobraram para contribuir com a superação dessa grave crise sanitária que custou tantas vidas”, ressaltou o reitor. 

Antes do início do debate, foram feitas algumas apresentações de estudos para fundamentar a discussão.  A professora Sarah Dominique Dellabianca Araújo, da Faculdade de Medicina da Ufal, médica infectologista e atuante na linha de frente do combate à covid-19 no Hospital da Mulher, apresentou uma análise do cenário da pandemia e elementos para avaliar a viabilidade de retorno presencial das atividades. 

Sarah destacou o problema das variantes do vírus Sars-cov 2, como a delta e a ômicron. “O mundo já esperava o surgimento de novas variantes, em virtude do atraso vacinal. No nosso caso, ainda tivemos o agravante do surto de Influenza, causando um cenário preocupante, e a demora das autoridades sanitárias do governo para deliberar que as duas vacinas poderiam ser aplicadas concomitantemente”, questionou a infectologista. 

A professora ressaltou ainda que os riscos são altos. “Hoje o cenário não é favorável para ambientes que promovam aglomeração. A ômicron é muito mais transmissível. Temos que ponderar com cuidado sobre o retorno das aulas presenciais e vamos precisar garantir os cuidados para isso. A máscara de pano, por exemplo, não é segura para a variante ômicron. Vamos precisar usar a cirúrgica, com troca a cada 4 horas, ou ainda melhor a N95”, informou Sarah. 

O geógrafo Esdras Andrade, do grupo de Trabalho sobre a Covid-19 do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente (Igdema) informou que no Brasil, um terço da população ainda não está imunizada. Ele apresentou os dados do documento sobre a sazonalidade de vírus respiratórios, coberturas vacinais contra a covid-19 e perspectivas da pandemia, produzido pelo Governo de Alagoas, no início de janeiro. “E ainda temos que considerar o apagão de dados no Ministério da Saúde, que prejudicou bastante a análise de dados”, ponderou o pesquisador. 

Ainda foram apresentadas informações das pró-reitorias sobre as ações nesse período de distanciamento social de todas as atividades que foram mantidas. O pró-reitor de Graduação,  Amauri Barros, colocou os dados levantados numa pesquisa realizada pelo Colégio de Pró-reitores de Graduação (Cograd). “Estamos com 73% das universidades ainda em ensino remoto, planejando a retomada das aulas presenciais para março e abril”, relatou o pró-reitor. 

A vice-reitora, Eliane Cavalcanti, que está à frente das testagens de covid-19 nos servidores que estão comparecendo aos setores, falou da preocupação com a retomada das aulas e a circulação dos estudantes. “Para vocês terem uma ideia, na Reitoria, numa bateria de testes, 70% dos resultados foram positivos. Queremos discutir uma perspectiva viável de retomada, mas com segurança. Mesmo que a mortalidade seja menor após a vacinação, é preciso ter cuidado”, ponderou Eliane. 

Uma das falas mais comentadas no chat, foi a do professor João Araújo, diretor da Faculdade de Nutrição (Fanut), que integrou o grupo de trabalho Observatório da Covid-19. "Precisamos relembrar os motivos que nos levaram a definir o distanciamento social e estarmos no ensino remoto que à época eram a ausência de vacinas, o crescimento descontrolado de casos e o possível colapso no sistema de saúde, chegamos a experimentar ocupação de leitos de UTI superior a 80% no passado, além de ser uma doença que não conhecíamos muita coisa. Hoje, já temos vacina e já conhecemos um pouco mais sobre a covid-19, o que nos daria mais segurança para o retorno. Entretanto, o número de casos está crescendo novamente e já temos pouco mais de 50% dos leitos de UTI ocupados e, neste momento, seria uma irresponsabilidade voltar. Mas o modelo de ensino remoto é exaustivo para todos, professores e estudantes, e já estamos há três períodos letivos nessas condições”, refletiu o professor.

João Araújo defendeu um cuidadoso planejamento para o retorno das aulas presenciais no semestre letivo 2021.2, em março. “Teremos que contar com testagens periódicas e para isso precisaremos estabelecer parcerias com as secretarias de Saúde. Seria uma boa medida montar uma unidade de vacinação dentro da Ufal, que atendesse à comunidade universitária e ao entorno”, propõe o professor. 

Falando em nome do Diretório Central dos Estudantes (DCE), a estudante Thatiana Machado destacou que foi importante suspender em março de 2020, assim que foram registradas mortes pela covid-19 no Brasil. “Mas os estudantes querem o retorno em março deste ano, de forma segura, com distanciamento e todos os protocolos sanitários. Já chegamos a uma saturação com o ensino remoto, com dificuldades de aprendizagem e até adoecimento psicológico”, ressaltou a líder estudantil. 

O presidente da Associação dos Docentes da Ufal (Adufal), Jailton Lira, ressaltou a necessidade de aprofundar o debate sobre o retorno. “É fundamental essa discussão no Consuni, mas também vamos convocar uma assembleia dos docentes para avaliar nossa posição. Podemos definir a possibilidade de retorno mediante os critérios sanitários, em março. Mas se próximo a essa data for registrada uma taxa alta de contaminação e risco de colapso da rede de saúde, precisaremos suspender”, ponderou Jailton. 

Victória Mecenas, estudante da Fanut e uma das representantes discente no Conselho Universitário, disse que durante a sessão estava acompanhando no chat o anseio dos estudantes de voltar ao ensino presencial. “Precisamos ter esse norte, com incentivo à vacinação no campus, protocolo de biossegurança, passaporte vacinal e muito planejamento. Mas fica evidente o esgotamento dos estudantes com as aulas online”, declarou a estudante. 

Após mais algumas falas ponderando todos os riscos e as probabilidades de retorno, a sessão ordinária foi suspensa. A continuidade deste debate está marcada para a próxima terça-feira, dia 1º de fevereiro, às 8h30, quando os conselheiros devem deliberar. “Estamos disponibilizando os documentos apresentados. No retorno desta sessão não faremos mais apresentações, precisaremos ser propositivos e tomar uma posição”, finalizou o reitor Josealdo Tonholo.