Laboratório de DNA Forense vai adquirir Sequenciador Genético

Equipamento permitirá a retomada de atividades de identificação humana  e, possivelmente, as relacionadas ao Banco de Dados de Pessoas Desaparecidas

Por Diana Monteiro - jornalista
- Atualizado em
Coordenador Dalmo Azevedo durante atividades científicas
Coordenador Dalmo Azevedo durante atividades científicas

O Laboratório de DNA Forense da Universidade Federal de Alagoa (Ufal) pode ganhar um reforço determinante para a realização de suas atividades científicas, com a possibilidade de adquirir o equipamento denominado de Sequenciador Genético, fruto de emenda parlamentar do deputado federal alagoano Paulo Fernandes dos Santos, o “Paulão” (PT), que será aprovada para essa finalidade. 

Fundado em 1997, pelo professor Luiz Antônio Ferreira,  o laboratório alcançou projeção nacional pelos relevantes trabalhos de contribuição à ciência e de impacto social, mas está há mais de dois anos com a área de identificação humana parada. Essa realidade pode mudar com a aquisição do novo equipamento: “ A aquisição vai permitir a retomada das atividades de identificação humana e, possivelmente, das atividades do Banco de Dados de Pessoas Desaparecidas”, explica Ferreira, que continua engajado nas atividades científicas e otimização do laboratórios, mesmo após sua aposentadoria em 2021. Desde setembro do ano passado, o laboratório passou a ser coordenado pelo professor Dalmo Azevedo, também pertencente ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Ufal. 

Ao destacar a importância do equipamento para a realização e andamento dos projetos, Azevedo cita o Programa de Estudo de Marcadores Genéticos para Identificação Humana e Diagnóstico Molecular, em fase de análise na Pró-reitoria de Gestão Institucional  (Proginst), uma das ações científicas a ser implantadas no Laboratório de DNA Forense da Ufal. Segundo ele, nesse Programa estão previstas linhas de pesquisa voltadas para a análise de poliformismos do DNA, para a determinação de vínculo genético, diagnóstico molecular de doenças genéticas e construção de dados. 

“O equipamento para sequenciamento de DNA tem importância vital para a execução dos projetos que temos proposto no programa. Pode-se afirmar que, sem o sequenciador, não conseguiremos tirar esses projetos do papel. A  aquisição do equipamento dependerá da liberação da verba da emenda parlamentar, com possibilidade de ainda ocorrer  este ano, mas o mais provável é que ocorra no início de 2023”, explica o diretor do laboratório. 

Segundo o pesquisador, o sequenciador permitirá que sejam feitos alguns tipos diferentes de análise de DNA ou aplicações. Uma das aplicações do equipamento é a análise de DNA, para a identificação humana. “A aquisição do sequenciador de DNA, indispensável para a execução do programa, permitirá que sejam retomadas parcerias com instituições públicas, bem como o estabelecimento de novas parcerias também com instituições públicas ou privadas, para a realização de projetos dentro das linhas de pesquisas científicas propostas”, diz Azevedo. 

Na perspectiva futura de aquisição do equipamento, o coordenador também destacou a importância da retomada do convênio com o Tribunal de Justiça de Alagoas, para a realização dos testes de DNA, que tiveram e continuam tendo reconhecida importância social para Alagoas. No que se refere às ações científicas, Azevedo cita como outra relevante aplicação do equipamento: a identificação molecular de espécies de organismo. A técnica, denominada DNA Barcoding, utilizada para identificação molecular de espécies, requer a análise de DNA em sequenciador. “Por meio dessa técnica, por exemplo, pode-se identificar a cepa de um vírus, a espécie a que pertence uma bactéria e se a espécie do peixe comercializado no supermercado está identificada corretamente”, explica.

Outra importância do sequenciador  é que permitirá o desenvolvimento de pesquisas envolvendo poliformismos do DNA associados a doenças genéticas, tendo, portanto, aplicação na área de diagnóstico molecular. “Além disso, será possível realizar a análise de marcadores genéticos de ancestralidade e sua associação com marcadores para doenças genéticas, o que tem importância médica e histórica”, ressalta o pesquisador. 

Destaque nacional

Ao se reportar à trajetória científica do Laboratório de DNA Forense da Ufal, o fundador Luiz Antônio Ferreira aproveita para destacar que o espaço científico foi criado com o  objetivo de desenvolver pesquisas, formar recursos humanos e criar e aplicar tecnologias do estudo comparativo do DNA na área criminal e civil. 

O laboratório da Ufal foi pioneiro no Brasil no desenvolvimento e aplicação de técnicas de análise comparativa do DNA extraído de restos mortais. Segundo Ferreira, “isso permitiu a identificação de pessoas desaparecidas no Estado de Alagoas e em vários outros estados da federação, o que continua a ser um sério problema que afeta, principalmente, os mais socialmente desfavorecidos”. Assim, o laboratório modelou, desenvolveu e implantou um Banco de Dados de Pessoas Desaparecidas, ferramenta inédita no Brasil. 

“O Brasil hoje possui uma rede de laboratórios de DNA sediados nas perícias estaduais. A implantação desses laboratórios somente foi possível como resultado de uma política nacional de utilização de DNA, implantada pelo Ministério da Justiça com a participação do Laboratório da Ufal. Para viabilizar a implantação dos laboratórios estaduais, foi feito enorme esforço para formação dos peritos, por meio da oferta de cursos de especialização em DNA Forense”, enfatizou Ferreira, que é mestre em Genética e doutor em Biologia Molecular. 

Na trajetória do laboratório, a parceria com o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL), para realização de estudos de DNA para determinação de paternidade, merece destaque, por ser um programa de grande impacto social, uma vez que é direcionado para pessoas carentes, que de outra forma não teriam acesso a essa tecnologia. 

O investimento para a formação de recursos humanos também é citado por Luiz Antônio: “Vários pesquisadores, hoje atuantes na Ufal e em outras instituições, puderam desenvolver ou aprimorar sua formação científica no Laboratório de DNA Forense. Diversas linhas de pesquisa foram implantadas com a participação de pesquisadores de outros laboratórios da Universidade Federal de Alagoas e de outras instituições”. 

Nas parcerias firmadas durante a trajetória para a realização das atividades científicas ou apoio às atividades, o Laboratório contou também com a participação, por meio de projetos de pesquisa, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). 

Outra parceria firmada pela Ufal foi com o Estado e com o Ministério da Justiça, o que proporcionou a criação e a implantação, com abrangência nacional, de uma rede de laboratórios capacitados para utilizar o estudo comparativo do DNA em casos criminais. 

O Laboratório de DNA Forense está atrelado ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Ufal e está instalado no prédio da antiga Faculdade de Odontologia, na Avenida Aristeu de Andrade, no bairro do Farol. 

Estudos científicos e sociais

Mestre em Genética e doutor em Ciências, na área de concentração de Biociências Nucleares, o coordenador Dalmo Azevedo aproveita para destacar algumas pesquisas nas ações do Laboratório de DNA Forense. Uma delas, na área da Genética de Populações, com a análise de marcadores genéticos autossômicos, marcadores do cromossomo Y e do cromossomo X, com aplicação na área de identificação humana e vínculo genético de parentesco. 

A história da formação da população de Alagoas, no que diz respeito à contribuição dada por ameríndios, africanos e europeus, é outro estudo realizado. Nele, obteve-se informações sobre a proporção das linhagens maternas e paternas desses povos ancestrais na população urbana atual, bem como, em comunidades remanescentes de quilombolas. 

Outras pesquisas, segundo Azevedo, envolveram  a detecção e identificação de patógenos como clamídia e HPV. Na área de bioinformática, foi desenvolvido um software para o Banco de Dados de Pessoas Desaparecidas. E uma versão do software foi produzida para o Exército Brasileiro, que a utiliza em seu banco de dados de DNA. 

Quanto à relevância social, o coordenador faz o destaque para a realização de mais de 17 mil casos de paternidade, que beneficiaram, principalmente, pessoas de baixa renda. Além de citar como trabalhos relevantes, a identificação de restos mortais, uma concreta colaboração com a polícia civil na resolução de casos criminais, alguns deles de grande repercussão em Alagoas e de comprovada importância social. A formação de recursos humanos por meio de projetos envolvendo alunos de graduação e pós-graduação,  também é destacada pelo pesquisador. 

A escolha do DNA Forense da Ufal pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), vinculada ao Ministério da Justiça, dentre os laboratórios escolhidos para a oferta de cursos de especialização em Genética Forense destinado a peritos das polícias Civil e Federal, também é citada pelo professor Dalmo, como relevante ação de alcance nacional do espaço científico da Ufal. 

Equipe

Além dos professores  Dalmo Azevedo e Luiz Ferreira,  estão atualmente na equipe do laboratório os pesquisadores Francisco Tovar, Carolinne Marques e o técnico de laboratório Lucas Gomes. O professor Gustavo Reis, da Universidade Mário Jucá (UMJ) também tem colaborado em vários projetos em andamento. 

A aprovação do Programa no âmbito da Ufal e aquisição do sequenciador estão entre as expectativas da equipe do Laboratório, que continua empenhada em diversos estudos científicos, ao tempo em que agradece o apoio institucional de divulgação da importância do Laboratório de DNA Forense e o interesse do deputado federal “Paulão”, por apresentar emenda parlamentar para aquisição de um equipamento determinante para a retomada e otimização das ações empreendidas  em prol da ciência e da sociedade.