Foufal completa 65 anos e comemora com melhoria no atendimento à população
Foi um investimento de quase R$ 1 milhão nas clínicas e em adaptações impostas pela pandemia; tudo isso impulsionou avanços no ensino e nos atendimentos ambulatoriais
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Fundada em 1957, antes mesmo da criação da própria Universidade Federal de Alagoas, a Faculdade de Odontologia (Foufal) completou 65 anos no domingo (24). O curso tem uma importância dupla para a sociedade alagoana: além de formar pesquisadores e profissionais qualificados para cuidar da saúde bucal da população, é também uma referência em tratamentos odontológicos gratuitos no estado. A média de atendimentos mensais, antes da pandemia, chegava a 800, mas o número precisou ser reduzido para manter a segurança dos pacientes, estudantes e funcionários da Ufal durante as aulas práticas.
A nova fase é marcada por uma série de reformas e melhorias na infraestrutura que proporcionam mais qualidade e segurança no ensino e no atendimento da população. Foi realizado um investimento de R$ 934.399,48 nas clínicas com a instalação de um sistema de ar-condicionado central, de barreiras entre as cabines de atendimento e novos compressores. Além disso, uma sala de paramentação foi construída e o expurgo conta agora com cubas ultrassônicas para a limpeza dos instrumentais.
“Foram investimentos que trouxeram um ganho significativo para a proteção dos estudantes, dfos pacientes, dos docentes e dos terceirizados que circulam aqui dentro da Universidade”, avaliou Théo Fortes, professor de cirurgia do curso.
As mudanças impactaram positivamente o atendimento prestado à população pelos ambulatórios do curso. No total, são cinco clínicas integradas, com procedimentos em diversas especialidades como periodontia, cirurgia, dentística restauradora e endodontia, mais conhecida como tratamento de canal. Além disso, também há atendimento especializado para o público infantil, os ambulatórios de semiologia e os laboratórios de prótese dentária.
Os pacientes avaliam positivamente o atendimento prestado pelos alunos. Denise Maria da Silva, moradora da cidade de Capela, veio à capital acompanhar a filha, Maria da Glória, 16, que conseguiu fazer todo o tratamento na Foufal. “Minha filha precisou fazer um canal. Eu não tinha condição de fazer particular e no PSF não tinha esse serviço, né? Fica muito complicado para uma menina nessa idade perder os dois dentes da frente, mas aí a dentista do posto encaminhou pra cá e graças a Deus acaba hoje [semana passada]. O atendimento é muito bom, o dentista que está cuidando dela é atencioso, explica tudo. Às vezes, eu ligo para tirar dúvidas e ele atende. É um cuidado muito humano, muito bom. Inclusive, estou estimulando a minha filha a seguir nessa carreira, que é muito bonita”, avaliou Denise.
De acordo com Théo Fortes, esse encaminhamento é uma prova de como o atendimento na Universidade é uma referência para o Sistema Único de Saúde. “Muitos egressos que passaram por aqui, pegam um caso que não dá pra resolver pela estrutura de onde eles trabalham e já encaminham para o nosso ambulatório ou para o HU. Quando se amplia a complexidade, levamos para lá [HU] porque temos esse suporte”, complementou.
Os ambulatórios também são elogiados pelos estudantes, que podem colocar em prática o aprendizado das aulas teóricas e adquirir experiência clínica, com o auxílio de professores e de monitores. “A experiência de atender é muito gratificante. Você tem o entusiasmo de resolver o problema das pessoas, recuperar a saúde delas, e você tem o receio também porque está ali aprendendo, mas com relação a isso os pacientes costumam ser bem empáticos. Eles sabem que estão sendo ajudados, mas também nos ajudando a adquirir experiência clínica e aprimorar nossos conhecimentos”, explicou Maria Thaylanne Leôncio, estudante do 5º período.
Muitas vezes, os próprios estudantes da Ufal acabam buscando atendimento nos ambulatórios da Faculdade. Foi o caso de Heloisa Alves, caloura do curso, que fez a avaliação inicial e agora aguarda para dar continuidade ao tratamento. “Eu fui avaliada sobre a minha saúde de um modo geral e depois preencheram o odontograma, uma ficha que detalha meu caso e necessidades de intervenção, e uma profilaxia, que é uma espécie de limpeza nos dentes. Tudo com a supervisão de uma professora e de monitores. Foi uma experiência legal fazer o atendimento na clínica porque as pessoas são atenciosas e isso deixa o paciente bem confortável”, avaliou.
“Eu gostaria de dar os parabéns aos docentes, estudantes, técnicos e terceirizados que fazem parte da Faculdade de Odontologia e que trabalham para a melhoria do nosso curso. Sou professora daqui há 40 anos e minha experiência foi a melhor possível. A Universidade só trouxe coisas boas para mim, só trouxe sucesso, só trouxe alegrias e eu desejo a todos que tenham a mesma experiência que eu tive. Fui muito feliz e ainda sou nessa Foufal”, parabenizou Lorena de Menezes, coordenadora do curso.
Curso tem conceito 5 e ex-alunos se destacam
Na última avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enade), realizada em 2019, o curso de Odontologia obteve a nota 5, conceito máximo. Esse resultado é um grande reflexo do currículo do curso, a qualidade do corpo docente e a formação oferecida ao estudante.
De acordo com o professor Theo Fortes, o treinamento e o ensino de qualidade garantem bons resultados na vida acadêmica dos alunos, mesmo depois que eles deixam a Foufal. “A maior parte dos estudantes que opta por seguir na carreira acadêmica é aprovada em editais concorridos de mestrado e doutorado. Muitos se qualificam fora do estado e temos o prazer de recebê-los de volta como colegas, assumindo o cargo em concursos da Universidade”, ressaltou.
Alguns estudantes conseguem, inclusive, alçar uma carreira de destaque no exterior, como é o caso de Rafael Correia. O aluno, que sempre teve um excelente desempenho dentro da Foufal, participou do Programa Ciências sem Fronteiras, o que abriu as portas para a carreira como pesquisador. Rafael foi selecionado recentemente para cursar o PhD em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade de Yale, uma das instituições de ensino mais renomadas do mundo.
“Tenho muito orgulho em ter feito parte da grandiosa Foufal. Sempre reafirmo que o corpo docente de lá me inspirou, desde os meus primeiros passos na profissão, até hoje! Muitas histórias vividas e muitas saudades! Parabéns, Foufal! E não somente por resistir a tempos difíceis, mas também por inspirar, acreditar e aprimorar a qualidade dos alunos que por aí passaram! Feliz 65 anos!”, parabenizou Rafael.
Os desafios da covid-19
Com a pandemia de covid-19 paralisando as atividades presenciais na Universidade, a Foufal enfrentou um de seus maiores desafios: como manter funcionando de maneira remota um curso cuja carga horária prática corresponde a 70% do total de aulas? Segundo a coordenadora Lorena de Menezes, foi necessário ampliar a Comissão de Biossegurança para discutir uma volta segura.
O grupo, composto pelos professores Priscylla Marcelos, Marcos Bomfim, Alexandre Penteado, Lorena de Menezes, Silvia Girlane, Izabel Novaes, Camila Beder, Cristine D'almeida e Larissa Fragoso também contou com a colaboração da enfermeira do setor técnico-administrativo da Foufal, Fabiana Ramos, e de um representante discente, Kenneth Correia. De acordo com Priscylla Marcelos, a participação do diretor da Foufal, Jorge Gonçalves, e do professor Théo Fortes também foi fundamental na articulação das ações da comissão.
“Na verdade, já tínhamos a necessidade de orientação quanto à biossegurança dentro da Foufal para diminuir o risco de acidente de trabalho por parte dos alunos. Quando a pandemia chegou, essa necessidade se tornou na verdade uma obrigação para que pudéssemos retornar o atendimento clínico garantindo a proteção de todos os atores desse ambiente”, explicou Priscylla.
O protocolo criado pelo grupo serviu de base para a elaboração de manuais de outros departamentos da Universidade. A partir dele, também foi lançado um e-book em parceria com a Edufal. “Naquele momento, não se sabia ao certo como proteger a comunidade acadêmica. Então, a Cbio participou de várias reuniões nacionais na Abeno [Associação Brasileira de Ensino em Odontologia], atualizamos todos os artigos publicados com o tema e acompanhamos todas as orientações do CDC. Com isso, montamos um material com reuniões semanais”, complementou.
Marcos Bomfim, professor do curso e membro da Cbio, avalia: “No início, as faculdades de odontologia de todo o Brasil não sabiam exatamente como proceder porque era uma situação nova, mas fomos participando de reuniões e delineando nossas ações com respaldo na literatura científica.”
A comissão também submeteu um projeto para o edital do MEC, a partir do qual o curso recebeu um crédito extraordinário de combate à Covid-19. O recurso foi aplicado em melhorias na clínica, que foi reaberta ainda em 2021, antes de a Ufal retomar todas as suas atividades presenciais. Os professores comemoram o sucesso das ações, uma vez que não foram detectados surtos durante o retorno.
“Os pacientes passavam por uma triagem por meio do telefone antes de comparecerem para os atendimentos. A professora Raphaela Rodrigues participou desse monitoramento e, hoje, temos um projeto de iniciação científica acontecendo para verificar se as barreiras estão sendo efetivas”, explicou Bomfim.
“Todos os membros da Foufal estão de parabéns porque conseguimos superar esse desafio imposto pela covid-19. Estamos saindo dessa situação cada vez mais unidos em nome de um bem comum: a saúde da população e a educação dos nossos estudantes”, comemorou o diretor Jorge Gonçalves, decano da Ufal.