Artigo indica falta de planejamento na vacinação de crianças no Brasil
Professora do ICS da Ufal, Luciana Santana, é uma das autoras do trabalho que avalia como a ausência de políticas públicas afetaram as crianças durante pandemia de covid-19
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Após ações para informar sobre a segurança e a importância de vacinar a população adulta contra a covid-19, a atenção de pesquisadores do Brasil agora se volta para promover a vacinação de crianças. No artigo Government inaction on covid-19 vaccines contributes to the persistence of childism in Brazil, publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, cientistas ressaltam “a preocupação com a inação do governo federal brasileiro em relação à vacinação de crianças contra o novo coronavírus”.
“Chamamos a atenção para o ‘childism’ no Brasil e como a ausência de políticas sistemáticas afetaram negativamente crianças durante a pandemia da covid-19”, afirmou a pesquisadora Luciana Santana, professora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), umas das autoras do artigo que também é assinado por pesquisadoras e pesquisadores de outras instituições brasileiras. E ressalta: “A falta de planejamento na proteção de crianças com políticas públicas é sistemática no país desde o início da pandemia. As políticas governamentais negam proteção e estão aumentando a hesitação vacinal e resultando em altas taxas de hospitalização e mortalidade”.
Ela lembra que, no dia 13 de julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu aprovação para uso emergencial da vacina Coronavac para proteger o público infantil na faixa etária de 3 a 5 anos, mas que a falta de uma atuação coordenada pelo Ministério da Saúde tem dificultado o avanço da vacinação. “No trabalho publicado, argumentamos a falta de protagonismo por parte do Ministério da Saúde em elaborar um plano para garantir doses necessárias à proteção das 8,3 milhões de crianças nessa faixa etária”, destacou a professora.
De acordo com o estudo, as taxas de hospitalização de crianças de 3 a 5 anos ainda se mantêm em um patamar elevado, enquanto nas outras faixas, já contempladas com a vacinação, foi registrada a diminuição. “Comparamos as taxas de hospitalizações e óbitos por covid-19 em 2020 [antes das vacinas e fechamento de escolas], em 2021 [com vacinas para adolescentes e reabertura das escolas] e em 2022 [com atraso na implementação da vacina] nas primeiras 22 semanas epidemiológicas e os dados (figuras 1 e 2) reforçam a gravidade da situação que afeta as crianças”, alertou.
A pesquisadora reafirma a importância da vacinação e destaca que “os dados mostram a diminuição das taxas de mortalidade por hospitalização quando a cobertura vacinal aumenta nessas faixas etárias”. Ela argumenta que outros países que fazem uso da Coronavac em crianças de 3 a 5 anos já estão administrando um reforço. “Estimamos um déficit de 15 milhões de doses no momento da aprovação, uma vez que o Ministério da Saúde do Brasil comprou 117 milhões de doses de Coronavac e quase 110 milhões foram administradas até 13 de julho”, afirmou.
Luciana Santana acredita que o Brasil já poderia ter vacinado a totalidade das crianças se as vacinas tivessem sido compradas a tempo. Outro aspecto também apontado pela pesquisadora é a baixa procura das famílias pela vacina. Ela argumenta que, além de não comprar a quantidade suficiente de doses, o Ministério também erra pela ausência das grandes campanhas nacionais, tais quais os brasileiros já estavam acostumados, que informam sobre a importância e estimulam a vacinação.
Para consultar o artigo, acesse aqui.