Professor integra equipe que estuda invasão do peixe-leão em águas brasileiras
Cientistas do Brasil e do exterior publicaram artigo em que descrevem a presença dessa espécie
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As amplas nadadeiras deram ao Pterois spp o nome de peixe-leão. Apesar de belo, a constatação da presença desse animal fora de seu ambiente originário é motivo de grande preocupação. É o que alerta o professor da Unidade Educacional Penedo da Ufal, Cláudio Sampaio, e outros cientistas do Brasil e do exterior que, no início deste mês, publicaram um artigo na revista internacional Frontiers in Marine Science no qual descrevem registros dessa espécie em águas brasileiras. O trabalho está disponível neste link .
“O peixe-leão, além da semelhança das nadadeiras com uma juba, tem apetite de leão”, diz Sampaio. E explica: “São predadores eficientes de peixes, crustáceos e moluscos, muitos de interesse comercial para a pesca ou que desempenham serviços ecológicos importantes nos recifes, como os peixes herbívoros”.
O pesquisador da Ufal relata que a presença dessa espécie “tem reduzido a biodiversidade dos recifes, causando perdas econômicas para a pesca e o turismo, pois as longas nadadeiras possuem espinhos especializados, semelhantes a uma agulha de injeção, que inoculam um veneno doloroso”. O doutor em Zoologia ressalta que essa situação “também pode reduzir o interesse turístico em algumas localidades invadidas pelo peixe-leão”.
No artigo publicado, informa Sampaio, o grupo de pesquisadores descreve o processo de invasão, com registro da espécie em 240 km entre os estados do Ceará e do Piauí. “Esse trabalho destaca os primeiros registros em águas rasas brasileiras, entre um e 16m de profundidade, e o maior número de peixes já encontrados somente em três meses, de março a maio de 2022, quando foram achados 72 indivíduos com diferentes tamanhos”, informa o pesquisador.
A publicação científica, continua, também aborda o “primeiro registro do peixe-leão em estuário com manguezal e bancos de gramas marinhas e o maior número de indivíduos, um total de 58%, em ambientes criados por pescadores artesanais, a exemplo das marambaias, chamadas de caiçaras em Alagoas e comuns nas lagoas Mundaú e Manguaba, e em currais de pesca”, diz.
Ele ressalta que a equipe de pesquisadores que assina o artigo realiza um trabalho constante de monitoramento da espécie. “Contamos com a participação de mergulhadores, pescadores e turistas, a chamada ciência cidadã, quando a sociedade envia informações aos pesquisadores”.
No caso da Ufal, Sampaio conta que a instituição participa de análises do peixe-leão, envolvendo diversos professores do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (PPG-DIBICT), com destaque aos estudos sobre dieta, reprodução, idade e crescimento. “Todas essas informações são preciosas para manejar essa espécie invasora. Lembramos que, juntamente com o Projeto Conservação Recifal (PCR), iniciamos os trabalhos de divulgação da possível invasão do peixe-leão no Nordeste do Brasil ainda em 2015”, relembra.
Gestores públicos precisam agir
O artigo é resultado da articulação de 14 instituições nacionais e internacionais, com destaque para as universidades e institutos federais, Organizações não Governamentais (ONGs) e órgãos ambientais, além de duas instituições de pesquisa internacionais.
“No trabalho, destacamos a necessidade urgente de ação do governo devido aos riscos para biodiversidade nativa, pesca artesanal e atividades turísticas, por causa dos riscos de acidentes com humanos”, reforça Sampaio.
Analisando os potenciais prejuízos, os cientistas apontam algumas ações que poderiam ser realizadas pelos gestores públicos para impedir o avanço da espécie e mitigar os danos de sua presença no litoral brasileiro.
“Devido ao risco de acidentes, a capacitação de pescadores, mergulhadores, aquaristas, turistas e até chefs de cozinha, bem como a divulgação cientifica, são fundamentais para reduzir os possíveis impactos negativos na economia e na biodiversidade nativa”, indica.
Outra ação, cita o docente, seria promover o consumo do peixe. “A pesca seletiva realizada com pessoal capacitado, associado ao desenvolvimento de uma culinária, uma vez que a espécie possui carne de excelente qualidade, pode ajudar a minimizar os prejuízos”, afirma.
Espécie invasora
Nativo dos oceanos Pacífico e Índico, o peixe-leão é considerado uma espécie invasora das águas brasileiras. “O primeiro encontrado no litoral brasileiro foi em 2014, em Arraial do Cabo, Rio de Janeiro. Esse peixe era um adulto e, possivelmente, foi solto por algum aquarista pouco informado sobre os riscos da bioinvasão”, relata o pesquisador da Ufal. Que destaca: “A bioinvasão é uma das mais sérias ameaças à conservação da biodiversidade no mundo”.
Ele informa que ainda não há registros da espécie no litoral alagoano, mas que é preciso ficar alerta. “Outras espécies invasoras foram recentemente encontradas em Alagoas, como o coral sol (Tubastraea spp.) e o ofiúro laranja (Ophiotela mirabilis). Uma rede de parceiros, composta por mergulhadores, pescadores, operadoras de mergulho, ONGs, universidades e gestores públicos, é constantemente estimulada para compartilhar informações e articular ações de manejo e divulgação científica voltada para as espécies exóticas e invasoras”, informa.
O professor conta que o peixe possui esse nome “devido às longas nadadeiras peitorais e dorsal que lembram a juba de um leão e que há cerca de 12 espécies conhecidas”. Ele reforça a necessidade de cuidados em relação à espécie.
“O peixe-leão é chamado de peçonhento, pois possui estruturas especializadas, os espinhos, para inocular o veneno, mas isso só acontece quando manipulado ou quando, acidentalmente, tocamos ou pisamos”, avisa.
No caso de acidentes, o pesquisador orienta que “o local atingido deve ser colocado em água quente e a pessoa encaminhada a um centro de saúde”. E alerta: “Crianças e idosos são mais sensíveis ao veneno que pode causar dor intensa, febre, náuseas, tonturas e dificuldade para respirar”.