Projetos da Ufal no Baixo São Francisco recebem apoio nacional
O reconhecimento das dificuldades e da importância da região alavanca pesquisas e novos projetos
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A região do Baixo São Francisco corresponde a 5,1% da bacia do Rio São Francisco e compreende a área de Paulo Afonso, na Bahia, até a foz entre os Estados de Alagoas e Sergipe. Apesar de pequena em relação às demais regiões (submédio, médio e alto São Francisco), o Baixo apresenta características próprias e merece uma atenção especial por sofrer com as consequências das variações do nível do rio, em virtude do efeito cascata da operação dos reservatórios das barragens, além dos problemas de contaminação da água por efluentes urbanos e industriais.
Nesse sentido, por meio da Expedição Científica do Baixo São Francisco, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e outras 26 instituições têm se esforçado para levar dignidade e assistência à população ribeirinha, além de promover ações de educação ambiental e fornecer dados relativos a 35 áreas de pesquisa. Por meio de publicações, produções audiovisuais e ações práticas no decorrer do ano, a sociedade tem se aproximado da universidade e compreendido o papel da pesquisa, do ensino e da extensão.
Prestação de contas
Pela importância dos trabalhos realizados e competência dos envolvidos, as novas gestões à frente de instituições nacionais, como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), a Agência Nacioal de Águas e Saneamento (ANA), a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e o Ministério da Pesca e Aquicultura, ratificaram o apoio, a participação e os investimentos à Expedição e a outros projetos no Baixo São Francisco.
Os encontros foram realizados em Brasília, com as presenças de gestores da Ufal, do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), do ambientalista Jackson Borges e dos coordenadores da Expedição e também professores da Ufal, Emerson Soares e José Vieira, em janeiro do corrente ano.
Nas agendas intensas, a frase de Confúcio de que “uma imagem vale mais do que mil palavras” fez todo o sentido, por meio da apresentação do documentário ‘Baixo São Francisco: vivências e desafios. Afinal, nada melhor do que ver e ouvir os próprios ribeirinhos testemunharem a relevância e o compromisso das expedições. “Esse documentário reflete o trabalho que vem sendo desenvolvido ao longo dos últimos cinco anos, as parcerias realizadas e o amadurecimento desde a primeira edição. É a resposta da comunidade, mostra que as ações têm feito a diferença no cotidiano dessa população, inclusive na área da saúde, que já foi uma resposta à necessidade deles. Os dados ambientais e os problemas de saúde encontrados estão intrinsecamente relacionados”, explica Soares.
Na oportunidade, Josealdo Tonholo, reitor da Ufal, lembrou do teor da reunião que ele e os demais reitores das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) tiveram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele pediu, e a expedição é exatamente isso, que as universidades saíssem do casulo, do castelo de marfim, e ‘invadissem’ seu território, que participássemos do processo de reconstrução do país. E nossa expedição é um exemplo disso: ela é perene, constante, de redescoberta e reconhecimento do nosso povo”, destacou Tonholo.
Maciel Oliveira, presidente do CBHSF, reforçou que a ação da comunidade científica não tem como foco apenas checar a qualidade da água do São Francisco e propor algum tipo de solução passageira. “O alvo final é a população ribeirinha, principalmente a rural, que sofre com doenças de veiculação hídrica pelo fato de não ter esgotamento sanitário, por exemplo”, diz Oliveira, referindo-se ao projeto das fossas agroecológicas.
Com a Codevasf, a pauta foi a preparação para a 6ª edição da Expedição Científica do Baixo São Francisco, mas foi para além disso. A diretoria sinalizou, por exemplo, ajuda técnica e financeira a um programa chamado Sistemas Individuais de Esgotamento Sanitário. Em toda bacia do São Francisco, pelo menos 12 municípios estão ou serão beneficiados. A prioridade no atendimento será dada a comunidades tradicionais (aldeias indígenas ou quilombolas).
Já no MCTI, a equipe recebeu apoio integral aos projetos, por meio de Sonia da Costa, chefe da Assessoria de Gerenciamento de Recursos, representando, na oportunidade a ministra Luciana Santos. Doações de computadores e laboratórios de informática já estão previstos para as escolas das comunidades visitadas pela Expedição.
E a 6ª Expedição já tem data para acontecer: será de 4 a 13 de novembro de 2023. O itinerário ainda está sendo fechado e será divulgado, em breve.
Reconhecimento
Em consequência dos trabalhos desenvolvidos no Rio São Francisco, o professor da Ufal Emerson Soares, coordenador-geral das expedições científicas, foi designado para compor o Grupo de Assessoramento Técnico (Gat), do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna Aquática do Rio São Francisco (Pan São Francisco), que tem como objetivo nortear as políticas de meio ambiente, quanto a projetos e ações para proteger as espécies ameaçadas e recuperá-las, envolvendo questões ambientais, sociais e econômicas e, ao mesmo tempo, a gestão do ecossistema.
Esta é a primeira vez que o Baixo São Francisco terá um representante no GAT, que é ligado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A equipe foi instituída pela portaria nº 127 do ICMBio, publicada no Diário Oficial da União de 10 de fevereiro de 2023, e conta também com representantes do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Aquática Continental (Cepta/ICMBio), da ANA, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Universidade Federal de Lavras (Ufla), da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), da Colônia de Pescadores e Aquicultores Z-01 de Pirapora-MG, dentre outros que podem ser conferidos no documento em anexo.
“Com a nossa participação, será possível trazer portarias ou instruções normativas de espécies nossas, para protegê-las e melhorar a situação da pesca e da ictiofauna no Baixo, que é muito problemática devido à questão das vazões e das lagoas marginais, que já não existem mais”, explica Soares, professor da Ufal.
E, em decorrência dos trabalhos de biomonitoramento também desenvolvidos na Lagoa Mundaú, o professor Emerson Soares será homenageado com a Comenda Dr. José Ubirajara Coelho de Souza Timm, durante o II Fórum de Ações para o Desenvolvimento Sustentável do Setor Pesqueiro e Aquícola. Organizada pela Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), a premiação reconhece as personalidades que, por meio dos seus conhecimentos em sua vida pessoal, política e profissional, contribuem para o desenvolvimento sustentável da sociedade e da cadeia produtiva da pesca e aquicultura do Brasil.