Ufal debate implantação de Política de Igualdade, Equidade e Diversidade
Proposta será apresentada pelas pró-reitorias de Extensão e de Pesquisa e Pós-graduação e considera diversos fatores para combater a violência de gênero dentro da Instituição
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Um espaço de debates, ideais e pluralidade dá um importante passo numa luta antiga. A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) está construindo sua Política de Igualdade, Equidade e Diversidade de Gênero de forma participativa com toda a comunidade universitária. A proposta, coordenada pelo professor Walter Matias junto com a equipe da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propep), está alinhada aos debates internacionais sobre o tema.
“O documento está sendo enviado para as unidades acadêmicas para apreciação e sugestões da comunidade e posterior apreciação do Conselho Universitário. Espera-se que a comunidade da Ufal tenha mais uma conquista política em prol dos direitos humanos em nossa sociedade”, destacou Matias.
Pautada na compreensão de que a violência de gênero é um problema social historicamente sustentado no machismo e no patriarcalismo, a Política terá grande relevância acadêmica e social. “A Universidade tem o dever de institucionalizar políticas de combate à violência de gênero e, especialmente, de promover ações de formação para a comunidade acadêmica, de modo a deslocar esse pensamento machista de superioridade masculina e de modo a conscientizar a comunidade sobre o direito à diversidade, à igualdade e à equidade em todas as instâncias institucionais, fomentando ações de educação e de respeito”, comentou a professora Débora Massmann, que já deu suas contribuições na minuta apresentada.
Ela completa: “A referida proposta dá visibilidade às reflexões em torno do tema na Ufal, colocando em pauta as potencialidades, as fragilidades e os desafios da instituição no que se refere à promoção da igualdade e da equidade de gênero e à criação de ações para o acolhimento das pessoas em situação de violência de gênero, vinculadas à instituição”.
De acordo com a equipe que elaborou a proposta, o documento considera a interseccionalidade que envolve as questões de gênero, raça e classe social, regionalização, cultura, entre outros aspectos. Para implantar a Política, a Ufal vai passar pelo processo de escuta e diálogo com os diferentes segmentos.
O peso do gênero
O patriarcado e a discriminação das mulheres na ciência é uma discussão mundial que busca problematizar o impacto negativo na vida das cientistas sob os aspectos econômico, social e emocional.
“É preciso garantir não só a participação plena e efetiva das mulheres na Ciência, mas manter a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis de tomada de decisão na esfera pública, em suas dimensões política, cultural e econômica, considerando a interseccionalidade com raça, etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião, gênero e nacionalidade, em especial para as mulheres do campo, da floresta, das águas e das periferias urbanas”, reforçou a pró-reitora da Propep, Iraildes Assunção.
Segundo dados do CNPq, as mulheres constituem 43,7% dos pesquisadores científicos no Brasil, mas em nível mundial, esse valor é de apenas 30%, segundo a ONU. No CNPq, a curva é otimista e aponta que o número de pesquisadoras vai superar o de pesquisadores do gênero masculino dentro de uma década. Porém, o mesmo não acontece em cargos de liderança no âmbito da pesquisa científica. Menos de 10% dos membros da Academia Brasileira de Ciências são mulheres.
Também há desigualdade quando os dados revelam as citações de trabalhos publicados. Elas conseguem fazer parte de publicações como colaboradoras, mas muito pouco como tutoras intelectuais nesses trabalhos. Apesar dos dados serem desanimadores, pesquisas mostram que, no Brasil, as mulheres já são responsáveis pela produção de metade dos artigos científicos que são produzidos no país. Na área de saúde, as mulheres são responsáveis por um em cada quatro estudos publicados, mas é nas ciências exatas que a realidade muda: publicações desta área possuem mais de 75% de homens em sua autoria.
“Sem muitas referências femininas na ciência e com o preconceito ainda existente na sociedade, as mulheres se sentem pouco motivadas a buscarem uma carreira na área científica, especialmente nas exatas e tecnológicas. É preciso mudar comportamentos e dogmas, incentivando meninas a se tornarem mulheres cientistas, e é o primeiro passo para que tenhamos cada vez mais referências femininas em todas as áreas do conhecimento”, considerou a professora Magna Suzana, coordenadora de Pesquisa da Propep.
Inspirações que viram luta
Na Propep, a gestão da professora Iraildes tem sido consistente nas ações para mudar esse cenário de desigualdades. “Tivemos a oportunidade de instituir ações inéditas em editais de premiação, com a missão de combater o racismo e promover a equidade de gênero no ambiente científico, valorizando a produção acadêmica de pessoas negras e das mulheres. Com isso, cada categoria no edital teve premiação para negros e mulheres”, lembrou.
A pró-reitora ratifica que esse tipo de política institucional deve ser implantada na Universidade, não só para atender aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 5) da agenda 2030 da ONU, mas para estabelecer a igualdade e a equidade de concorrência e de representatividade.
Um projeto apresentado pela Ufal em parceria com mais duas universidades brasileiras foi aprovado no edital Mulheres na Ciência: Chamada para Parcerias de Igualdade de Gênero Brasil-Reino Unido 2022. “O objetivo da chamada é influenciar o desenvolvimento de políticas e práticas institucionais que permitam o estabelecimento da equidade de gênero na ciência e tecnologia em instituições de ensino superior e pesquisa no Brasil”, destacou a apresentação da British Council.
A Universidade britânica que vai desenvolver o projeto que a Ufal integra é a University of Wolverhampton-UK. A coordenação é da professora Magna Suzana Alexandre Moreira, que coordena o Laboratório de Farmacologia e Imunidade (Lafi) e é a coordenadora de Pesquisa da Propep. Outras pesquisadoras compõem a equipe na Ufal, como a professora Aline Cavalcanti de Queiroz (Campus Arapiraca), a pós-doutoranda Letícia Lopes, que capitaneou a colaboração com o Reino Unido, e, mais recentemente, a doutoranda do Instituto de Ciência Biológicas e da Saúde da UFal, Nayara Rodrigues, que desenvolverá sua tese na temática da relação da saúde, igualdade e equidade de gênero, sob orientação de Magna Moreira
“Essa parceria é importante para estreitar os laços entre o Reino Unido e a Ufal, podendo abrir caminhos para novas parcerias e através do presente projeto, estimular a igualdade e a equidade de gênero nas pesquisas científicas, principalmente nas áreas STEM [sigla em inglês que significa Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática], as quais possuem maioria de seus representantes homens. Temos visto que esse projeto provocou uma discussão que pode contribuir para acelerar as mudanças necessárias e nos engajarmos nas discussões e cumprimentos dos critérios ESG [Environmental, Social and Governance], que estão totalmente relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pelo Pacto Global, iniciativa mundial que envolve a ONU e várias entidades internacionais. Além disso, considerando que as instituições público-privadas precisam alinhar-se com os critérios ESG, há que se cumprir uma jornada de transformação envolvendo a construção de um mundo inclusivo, ético e ambientalmente sustentável, que garanta a qualidade de vida igualmente para todos, independe de gênero, raça ou nível social”, reforçou a professora Magna.