Ufal investiga relação de fatores genéticos com a hanseníase
Em Alagoas, taxa de detecção é considerada de média a alta endemicidade e diagnóstico tardio da doença pode levar a incapacidades e a deformidades físicas
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Para avaliar a situação epidemiológica da hanseníase nas regiões do estado de Alagoas, investigar o envolvimento dos fatores genéticos associados com a doença e correlacionar com a resposta imunológica dos pacientes, está em andamento na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) o projeto Fatores de susceptibilidade à hanseníase em Alagoas: aspectos epidemiológicos, genéticos e imuno-inflamatórios.
No Brasil, no ano de 2021, foram registrados 18.318 novos casos de hanseníase, com uma taxa de detecção de 8,58 por 100 mil habitantes, colocando o país no ranking de segundo maior em número de casos registrados por hanseníase, perdendo apenas para a Índia. Enquanto o estado de Alagoas, no mesmo ano, notificou 264 casos novos da doença, que representa uma taxa de detecção de 7,84 por 100 mil habitantes, considerada de média a alta endemicidade.
A vertente epidemiológica da pesquisa realizada na Ufal busca caracterizar os principais indicadores da hanseníase nas microrregiões de saúde e municípios de Alagoas, onde a doença vem se apresentando de forma heterogênea. Reconhecer os fatores de risco relacionados com a hanseníase nos municípios ou regiões hiperendêmicas contribuirá para guiar ações de combate à doença, visando um diagnóstico mais precoce e a quebra da cadeia de transmissão.
O projeto tem a coordenação da professora Carolinne de Sales Marques, do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), unidade acadêmica do Campus A.C. Simões, e, no aspecto genético, o estudo busca entender por que algumas pessoas adoecem e outras não e qual seria o papel da genética nesse processo
“A realização de estudos de investigação de marcadores genéticos relacionados com a doença na população de Alagoas, irá auxiliar no conhecimento da fisiopatologia e da genética da hanseníase em estratégias de controle e prevenção de quadros mais graves como por exemplo, as incapacidades físicas”, destacou a pesquisadora, mestre, doutora e pós-doutora em Biologia Celular e Molecular pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com estágio de desenvolvimento no doutorado sanduíche em McGill University Health Center/Human Genetics, em Montreal (Canadá).
No ICBS, Carolinne ministra as disciplinas Genética Molecular e Genética Geral nos cursos de Ciências Biológicas bacharelado e licenciatura. Desde 2022 também integra a equipe do Laboratório de DNA Forense da Ufal, no setor de Genética.
A doença
A hanseníase é uma doença infecciosa, contagiosa e crônica, de caráter milenar, cuja origem é apresentada em relatos históricos que remontam a milênios, sendo uma das doenças mais antigas que acomete o homem. É causada pela bactéria bacilo Mycobacterium leprae e a transmissão se dá, principalmente, por contato direto e prolongado por meio das vias aéreas entre a pessoa infectada e a sem a infecção, sendo o ser humano o reservatório principal da infecção.
As áreas mais afetadas de pacientes diagnosticados com hanseníase são os macrófagos da pele e o sistema nervoso periférico, com comprometimento sensorial, ou seja, alterações de sensibilidade nas lesões da pele. Quando diagnosticada tardiamente a doença pode levar a incapacidades e a deformidades físicas. Dentre os sinais e sintomas, pode-se destacar: manchas na pele, alteração da sensibilidade nas regiões com manchas, fraqueza nas mãos, pés e pálpebras, deformidade da mão em garra, inchaços ou caroços no rosto ou orelhas ou nariz e feridas indolores nas mãos e pés.
O tratamento atualmente vigente para a hanseníase se dá por poliquimioterapia, que consiste nos medicamentos antimicrobianos rifampicina, dapsona e clofazimina, por um período de 12 a 18 meses.
Ações científicas
A pesquisadora Carolinne Marques revela que o projeto desenvolvido na Ufal também inclui o desenvolvimento de produtos tecnológicos voltados para educação em saúde no contexto da hanseníase. Dentre eles destacam-se o aplicativo móvel para auxílio aos profissionais de saúde, o Diaghans, que está em fase de desenvolvimento, e a criação de um podcast sobre o tema, o Hanscast, o qual já está disponível nas principais plataformas de áudio. “Esses produtos visam disseminar o conhecimento sobre a hanseníase, bem como fortalecer e capacitar os profissionais de saúde, tendo em vista que a doença ainda é negligenciada e cercada de estigmas”, enfatizou.
O projeto conta com apoio de fomento obtido pelo edital PPSUS/Fapeal Nº 06/2020, o qual tem prazo para encerramento da vigência em maio deste ano. Segundo Carolinne, no entanto, o projeto está em constante desenvolvimento, buscando responder a perguntas referentes aos aspectos epidemiológicos, genéticos e imunológicos da doença. Também conta com fomento da Ufal, da Fapeal e do CNPq, que fornecem suporte e os auxílios com as bolsas dos alunos, tanto de iniciação científica quanto de mestrado.
“A etapa da abordagem epidemiológica encontra-se em fase final de desenvolvimento, onde já estamos confeccionando os artigos científicos. No âmbito da genética, estamos ampliando as populações de estudo, com o intuito de abranger ao máximo a população de Alagoas, e incluir outras populações de Pernambuco e do Rio de Janeiro. Além disso, estamos buscando contribuir com um painel de marcadores genéticos que possam estar associados com a doença, o que será de grande contribuição para o entendimento da doença na população de Alagoas e do Brasil”, revelou.
Carolinne informou que resultados parciais do projeto já vêm sendo apresentados em eventos científicos, assim como foram iniciadas a escrita e a submissão de artigos em revistas científicas nacionais e internacionais.
Parcerias
O projeto envolve vários laboratórios da Ufal: Laboratório de DNA Forense e Laboratório de Biologia Celular (LBC); Laboratório de Computação Científica e Análise Numérica (Laccan), do Centro de Pesquisas em Matemática Computacional (CPMAT), do Instituto de Matemática (IM), Laboratório de Biologia Molecular e Expressão Gênica (Labmeg) do Complexo de Ciências Médicas e Enfermagem do Campus Arapiraca. Conta também com a parceria do Laboratório de Hanseníase da Fiocruz do Rio de Janeiro e da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf).
São pesquisadores parceiros: Emiliano Barreto (ICBS Ufal), Fabiane Queiroz (Laccan Ufal), Mikael Machado (Campus Arapira Ufal), Carlos Dornels e Rodrigo Feliciano (Univasf) e Roberta Olmo (Fiocruz-RJ). Conta com os colaboradores Walcélia Oliveira e Karlisson Valeriano.
A equipe do projeto também contempla alunos e alunas da pós-graduação e da graduação. Da graduação são quatro de Iniciação Científica (Pibic), três de Iniciação Tecnológica (Pibiti) e mais dois voluntários: Kamila Pereira, Nathalí Araújo, Gleyce Kelly Marques, Jennyfer Pereira, Samilla Cristina, Vitória Cardoso, Ayara Lima, Livia Neves e Daniel Ferreira. Do mestrado são Heloísa Freitas, Karla Nogueira, Mikael Nikson e Kássia dos Anjos.