Centro de Inovação transforma Ufal em polo de tecnologia e capta R$ 100 mi

Edge conta hoje com cerca de 250 pesquisadores, que desenvolvem ou desenvolveram projetos para empresas como Dell, Sony, Lenovo, Intelbras e Petrobras

Por Eduardo Almeida - jornalista
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Mário Hozano, professor e pesquisador da Ufal e integrante do Centro de Inovação Edge
Mário Hozano, professor e pesquisador da Ufal e integrante do Centro de Inovação Edge

Com a proposta de entregar resultados e impulsionar pessoas, o Centro de Inovação vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem levado o nome do estado para o mundo. Num período de sete anos, o Edge - programa ligado ao Instituto de Computação (IC) - transformou Alagoas em polo regional de tecnologia e conseguiu captar mais de R$ 100 milhões em investimentos com empresas de diversas áreas.

Se no início, entre os anos de 2015 e 2016, o Centro de Inovação contava com um quantitativo reduzido de colaboradores, atualmente esse número passa de 250. Além de professores e universitários, ex-alunos da Ufal e profissionais liberais desenvolvem ou desenvolveram projetos para empresas como Dell, Sony, Lenovo, Intelbras e Petrobras. Os resultados registrados pelo grupo apontam para um futuro promissor. “A iniciativa de criar um programa para o desenvolvimento de um polo regional de tecnologia surgiu a partir dos professores Rodrigo de Barros Paes e Willy Carvalho Tiengo, que se uniram a um grupo de outros cinco pesquisadores. Assim nasceu o Edge, que hoje atende a gigantes da tecnologia e desenvolve projetos de altíssimo impacto”, explicou Mário Hozano Lucas de Souza, professor e pesquisador da Universidade e integrante do Centro de Inovação Edge.

Para se ter uma ideia do crescimento do Edge, atualmente, o grupo ocupa salas em dois prédios do Campus A.C. Simões e espaços no Polo de Inovação, no bairro de Jaraguá, em Maceió. Os integrantes do programa discutem uma nova forma de organização, visto que esses locais não são suficientes para abrigar todos os profissionais envolvidos nas atividades.

“O desenvolvimento da computação é uma tendência. Há uma grande demanda por profissionais dessa área. E esse trabalho pode acontecer de forma remota. Não é preciso um local específico para desenvolver um software, por exemplo. Basta ter um computador. Então, estamos repensando nosso modelo de trabalho. A falta de espaço não será um problema”, acrescentou o professor e pesquisador do Instituto de Computação da Ufal, Mário Hozano.

Aplicativo Pixsee

O Centro de Inovação Edge atua na área de Computação Industrial, de forma mais específica com aplicações de inteligência artificial, de automação e de dispositivos de computação embarcada. Atualmente, são desenvolvidos de forma simultânea aproximadamente 20 projetos. Nos últimos sete anos, foram mais de cem.

“Um dos nossos projetos mais recentes foi o desenvolvimento do aplicativo Pixsee, que funciona como uma babá eletrônica inteligente, com capacidade para detectar situações de perigo, como sufocamentos, por exemplo. O aplicativo consegue captar ainda a temperatura e a umidade do ambiente, além de produzir fotos do bebê remotamente. Para nós, uma grande conquista”, ressaltou o professor Mário Hozano.

Inclusive, essa babá eletrônica inteligente – uma câmera de monitoramento para bebês – que usa tecnologia produzida na Universidade Federal de Alagoas, foi premiada nos Estados Unidos. Foi no evento de tecnologia considerado o mais influente do mundo, o Consumer Electronics Show (CES) 2023, realizado no início de janeiro deste ano, em Las Vesgas (EUA).

O trabalho desenvolvido no Centro de Inovação Edge, no entanto, vai além do desenvolvimento de softwares. A ideia do grupo é entregar soluções viáveis para as empresas parceiras, o que nem sempre acaba chegando ao grande público. Em muitos casos, as soluções de tecnologia ficam restritas às indústrias demandantes.

“Nós atuamos fortemente em soluções para as próprias fábricas, porque a maioria dos parceiros são indústrias. Produzimos protótipos valiosos, que diminuem custos, aumentam faturamento e diminuem a margem de erro. São produtos extremamente variados, que vão desde a produção de cabos ópticos a sistemas para smartphones, passando, claro, pelos projetos desenvolvidos com a Petrobras”, completou Mário Hozano.

Captação de recursos

Um dado que chama a atenção é o grande volume de recursos captados pelo Centro de Inovação Edge nos últimos anos. Os pesquisadores estimam que, desde 2015, foram investidos cerca de R$ 100 milhões em ações que garantiram não só o desenvolvimento científico do estado como apresentaram soluções para problemas enfrentados por grandes empresas ao redor de todo o mundo.

“Um levantamento recente, ao qual nós tivemos acesso, mostra que a Universidade Federal de Alagaos está entre as oito universidades que mais captaram recursos dentro da Lei de Informática. Esses dados são muito significativos, porque mostram o impacto do trabalho que temos realizado na Universidade. Os alagoanos estão conduzindo projetos de altíssima inovação, o que não acontecia na minha época de graduação, por exemplo”, destacou Mário Hozano, professor e pesquisador da Ufal.

No entanto, apesar do elevado nível de investimento privado, o desenvolvimento das pesquisas também foi afetado pelos sucessivos cortes de recursos federais ocorridos ao longo dos últimos anos. “É preciso entender que a Universidade vai muito além dos projetos desenvolvidos em parceria com empresas. Há uma cadeia de serviços que precisa funcionar bem para que o trabalho dos pesquisadores produza resultados”, complementou.

Para Mário Hozano, o Edge deve assinalar um crescimento ainda maior ao longo dos próximos anos. “Nós registramos um crescimento muito acelerado nos últimos anos, especialmente nos últimos dois anos, mas acreditamos que vamos crescer ainda mais no futuro próximo. Precisamos parar, nos organizar internamente e criar uma estrutura para avançar ainda mais, sobretudo com captações que vão além da Lei de Informática”.