Pesquisadoras promovem mesa-redonda sobre a multiplicidade africana
Encontro trouxe os olhares literários das Áfricas presentes nas obras de Mia Couto, Chimamanda Ngozi Adichie e Alain Mabanckou
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As Áfricas são muitas, mas todas caminham para uma unidade. Inspirada nesta frase de Antonio Olinto, escritor e antigo diplomata brasileiro, a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas promoveu, na última sexta-feira (18), a mesa-redonda Muitas são as Áfricas, com as docentes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Maria Gabriela Costa, Rosária Ribeiro e Izabel Brandão. O debate foi moderado por Alice Guedes e Clara Freire, do Programa de Educação Tutorial dos cursos de Letras da Ufal.
A mesa trouxe olhares literários contemporâneos para debater a África presente nas obras do moçambicano Mia Couto, em língua portuguesa; da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em língua inglesa; e do congolês Alain Mabanckou, de língua francesa.
As moderadoras explicaram que as nações africanas procuram a sua unidade, tanto em cada território quanto no continente, em um processo que busca o resgate da história cortado pelo colonialismo; uma reafricanização. As obras discutidas na mesa trazem questões sociológicas plurais dos países africanos e como a visão vai mudando a depender das vivências e compreensões dos leitores, surgem muitas “Áfricas”.
Debates
As obras do moçambicano Mia Couto foram apresentadas por Gabriela Costa, professora aposentada da Faculdade de Letras – Português, da Ufal. Bacharela em Filologia Românica pela Universidade de Luanda, com ênfase em Língua e Literatura Francesas, mestre em Literatura Brasileira pela Ufal e doutora em Tecnologia de Concentração em Literatura, ela foi criada na Angola, veio ao Brasil para fugir da guerra.
Essa fuga acabou por aproximá-la das obras de Mia, uma vez que algumas de suas obras trazem a representação da 1ª Guerra Colônia, contra Portugal. “A maior parte dos contos, e alguns momentos como os relacionados, têm como cenário a guerra. Embora eu veja a guerra, ele escreve sobre a guerra poeticamente, sem falar de sangue e de morte, uma maneira muito interessante de falar dessa guerra”, analisou.
De acordo com a docente, Couto é um escritor que, embora escreva em português, traz a marca de sua africanidade. “No universo de Mia, surge o fantástico, o realismo mágico, surge a dúvida. Outras vezes, coisas são contadas de forma natural”, falou a estudiosa, ao citar uma passagem da obra O dia em que explodiu Mabata-Bata, que faz analogia às minas plantadas em solos africanos durante a guerra.
Com o tema Olhando o mundo com os olhos da Nigéria, Izabel Brandão, professora aposentada da Faculdade de Letras – Inglês, da Ufal, falou sobre a obra de Chimamanda Ngozi Adichie. Em sua visão, a escritora reescreve a história da Nigéria e, de antemão, faz um ativismo feminista. “Cada vez mais parece que ela tem realmente uma missão muito grande para estar nesse contexto: ser uma africana, feminista, negra e estar aí falando todas as coisas que ela continua falando”, disse a pesquisadora ao falar sobre a entrevista da autora concedida ao jornal britânico The Guardian.
Eleita em 2021 pela BBC como uma das 100 mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo, Chimamanda Adichie já ganhou incontáveis prêmios, dentre eles doutorados honorários. Com obras traduzidas para 50 países, lançou recentemente seu primeiro livro infantil, dedicado à sua filha.
“Quem a leu sabe que o que ela escreve tem uma força muito grande, um peso muito grande porque está tratando de temas como violência e, por incrível que pareça, ela consegue falar de um tema tão difícil com delicadeza. São coisas significativas”, analisou Izabel Brandão, que também é pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Apresentando a sua visão sobre a obra do congolês Alain Mabanckou, Rosária Costa, professora da Faculdade de Letras – Francês, da Ufal, ressaltou que o premiado autor é criticado pela aproximação com o mercado editorial francês. Porém, em sua análise, ele se aproveita deste mercado para levar a África mais longe.
“Apesar de ser criticado por alguns por tentar se aproximar demasiado do mercado editorial francês e não questionar a centralidade de Paris nesse processo, Alain Mabanckou dança o jogo do mercado para poder, exatamente, levar essa voz o mais longe que ele pode ao apresentar questões contemporâneas, buscando o universal através do local, sem deixar de tratar das questões pós-coloniais”, enfatizou Rosária.
As fotos oficiais do evento podem ser vistas pelo perfil do Flickr.