Pesquisadores organizam a regulamentação do Biobanco da Ufal
Acervo de amostras biológicas humanas é essencial para a infraestrutura de pesquisa e formação profissional
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A organização de um biobanco em uma universidade é uma tarefa complexa e crucial, pois envolve a coleta, o armazenamento e a gestão de amostras biológicas com o objetivo de apoiar pesquisas científicas e avanços na área da saúde, além da formação qualificada de profissionais. É nessa tarefa que estão envolvidos alguns pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Os professores Olavo Barbosa, Rodrigo Freitas, George Lemos e Célio Rodrigues integram a equipe que lidera a missão de estruturar e regulamentar o Biobanco da Ufal. Está sendo feito o levantamento do acervo de cadáveres, ossos, dentes, fetos e outras informações para fundamentar o projeto que será enviado para o Comitê de Ética da Ufal e depois seguirá para a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS).
O professor Olavo Barbosa ressalta o cenário quantitativo de biobancos no Brasil e no Nordeste, segundo planilha disponibilizada pelo CNS, atualizada em julho deste ano. “São 87 biobancos no Brasil, sendo que a grande maioria se concentra nas regiões Sudeste e Sul. No Nordeste, temos um no Ceará e outro em Pernambuco, e ambos sem número de cadastro nesta planilha, o que dá a entender que não estão oficialmente validados. Em Alagoas, estamos fazendo o primeiro esforço de organizar um biobanco, que talvez venha a ser o primeiro oficializado nesta região”, informou.
A ideia de organizar e oficializar junto ao Conselho Nacional de Saúde o Biobanco da Ufal surgiu quando o professor Olavo estava fazendo o mestrado na Unicamp e observou os procedimentos para esse tipo de equipamento por lá. “Então eu trouxe essa ideia para cá, discutimos em reunião do setor de Anatomia e aprovamos. Após isso, levamos a proposta à direção do ICBS e depois para o Conselho da Unidade Acadêmica, com os documentos já organizados e a proposta de regimento elaborada”, relatou o docente.
Depois de avaliado no Conselho do ICBS, incorporando propostas de adequação feitas pela direção da época, com a professora Iracilda Moura à frente, o equipamento ficou definido como Biobanco de Anatomia do ICBS. “Já temos o regimento aprovado no Conselho da Unidade Acadêmica e estamos fazendo o levantamento do quantitativo de materiais humanos, que é um dos anexos para o projeto tramitar no sistema do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep)”, informou o pesquisador.
Outro momento histórico importante, destacado pelo professor Olavo Barbosa, foi a realização, em setembro do ano passado, em Maceió, do 29º Congresso Brasileiro de Anatomia, 7º Congresso Norte-Nordeste e Centro-Oeste de Anatomia e o 5º Encontro Nacional de Ligas Estudantis de Morfologia. “Eu e o professor George Lemos fomos do comitê científico desses congressos e acompanhamos o debate que definiu regras para as pesquisas com material humano, estabelecendo a necessidade de aprovação do CEP para todos os trabalhos, porque isso não estava bem amarrado nas definições anteriores”, explicou o docente.
Importância do biobanco na pesquisa científica
Um biobanco bem organizado é essencial para garantir a qualidade e a integridade das amostras, bem como para cumprir as regulamentações éticas e legais. Olavo Barbosa destaca que ter um biobanco regulamentado facilita a aprovação de projetos de pesquisa em anatomia humana, porque as propostas já são apresentadas ao Comitê de Ética com um parecer da equipe gestora do biobanco sobre a disponibilidade de material humano para a pesquisa.
O professor Rodrigo Freitas, que vai contribuir na gestão do biobanco, informa que o equipamento vai contar com um site na Universidade: “Vamos disponibilizar nossos contatos, para que os pesquisadores saibam quais os materiais humanos que temos no acervo para utilização nas atividades científicas. Assim, esse material será acessível não só aos grupos de pesquisa da Ufal, mas também de outras instituições”, informou.
A utilização de cadáveres, ou órgãos e tecidos humanos para fins de pesquisa é um tema bastante complexo que engloba aspectos morais e sociais, por isso, a legislação que regulamenta essa atividade exige protocolos rigorosos para a coleta, o processamento e o armazenamento das amostras biológicas. “Pela lei 8.501, apenas as instituições que possuem curso de Medicina podem constituir um biobanco, mas as demais faculdades podem realizar convênios para ter acesso a esses materiais”, explicou o professor Rodrigo Freitas.
O pesquisador ressalta que um biobanco bem gerenciado pode contribuir significativamente para avanços na medicina e na biologia. “Nós percebemos a diferença na formação acadêmica e profissional dos estudantes que têm acesso a aulas práticas com cadáveres e os que utilizam apenas os bonecos, porque esses modelos anatômicos sintéticos não refletem a realidade do órgão na sua totalidade. Cada corpo tem um histórico: são variações anatômicas, doenças pré-existentes, aspectos estruturais e uma variedade de situações que podem ser observadas, que um boneco não apresenta para o estudante”, detalhou.
Rodrigo Freitas é doutor pela Rede Nordeste de Biotecnologia em Saúde (Renorbio) e relata que existem vários artigos científicos publicados investigando a importância da formação do profissional de Saúde utilizando o cadáver humano. “Profissionais com mais qualificação vão contribuir melhor para a sociedade. Não é à toa que os formandos da área de Saúde fazem uma homenagem ao cadáver desconhecido na solenidade de formatura. Quantos profissionais um mesmo cadáver contribuiu para formar?”, refletiu o professor.