Política Cultural da Ufal é aprovada pelo Consuni e vai nortear ações institucionais
Princípios e objetivos foram incluídos no documento que passou por vários debates e contribuição da sociedade
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A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) tem mais de seis décadas marcando a história na formação superior do Estado. É a maior e mais importante instituição pública de Educação. Há também unanimidade sobre a Ufal ser uma gigante impulsionadora da cultura alagoana. Mas só agora está oficialmente registrado e publicado o compromisso da instituição com isso, porque depois de muito debate e participação coletiva, conseguiu aprovar sua Política Cultural. É mais um capítulo importante para a história da Universidade.
“A Política Cultural hoje consolidada, aprovada, instituída pelo Conselho Universitário, vem formalizar e explicitar o que que ela pensa sobre seu papel em relação às ações culturais do Estado. É bom lembrar que quando a gente fala de ações culturais a gente pensa isso para além das ações das expressões artísticas. A Universidade é, em si, uma instituição cultural potente do estado de Alagoas, uma das mais importantes”, enfatizou o coordenador de Assuntos Culturais da Ufal, Sérgio Onofre.
A aprovação do Consuni aconteceu em assembleia especial, de forma emblemática, durante a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, realizada pela Ufal e considerada o maior evento literário e cultural do Estado. A votação foi feita ali, mas para chegar ao texto final houve uma extensa discussão com participação de muitos setores.
“Acredito que em toda a história da Ufal nunca tivemos um processo de elaboração de um normativo com a amplitude de discussão que tivemos com a nossa Política Cultural. E realmente podemos falar ‘nossa’ porque a Política foi discutida e amadurecida dentro das nossas unidades acadêmicas, unidades de ensino, campi fora de sede, propiciando as diversas contribuições a partir das diversidades que temos na nossa Universidade. Mas também tivemos a oportunidade de refletir e debater a política de forma coletiva para além das nossas unidades e campi, na Consulta Pública. Ao mesmo tempo, percebendo a importância que a Ufal tem na dimensão cultural do estado de Alagoas, a Política Cultural também esteve aberta para contribuições da sociedade através da consulta pela Plataforma Participa Mais Brasil”, destacou o pró-reitor da agora Pró-reitoria de Extensão e Cultura, Cézar Nonato.
Passar por todas essas instâncias foi tão necessário quanto importante para todos que iniciaram a luta pela institucionalização da cultura na Ufal. As inquietações da equipe foram acolhidas pelo reitor Josealdo Tonholo, que em 2020 implantou um comitê específico para fazer as ideias circularem. “Há pelo menos 20 anos, a necessidade de haver uma política cultural na Ufal já vem sendo pensada pelo corpo técnico-administrativo fazedor de cultura e docentes. Nos últimos três anos, as ideias se tornaram mais fortes, e uma comissão foi instituída para elaborar minuta de documento a ser apresentada para que o restante da comunidade acadêmica e a sociedade pudessem contribuir com as propostas incluídas nesse texto”, explicou o produtor cultural Jorge André sobre o embrião que iniciou todo o processo que hoje é comemorado.
“Ficamos felizes demais e animados com a perspectiva de que a partir da aprovação da Politica Cultural, a Universidade possa avançar cada vez mais na organização da cultura e fortalecer as ações de estudantes, técnicos e professores. A gente percebe a importância de ter esse documento norteador, mas ao mesmo tempo entende que é um passo que a gente tem que seguir na materialização desses princípios”, completou a produtora cultural Nicolle Freire.
O documento final
A Política Cultural da Ufal é o instrumento oficial que vai ser utilizado para organizar a dinâmica cultural. O documento reúne princípios, diretrizes e objetivos de ações, com metas e estratégias para direcionar a atuação da Ufal na área cultural, tendo como maior objetivo o fortalecimento das atividades culturais da Universidade.
Depois de inserir todas as contribuições do Comitê Assessor de Extensão, Fórum de Diretores, unidades acadêmicas, pró-reitorias, Conselho Municipal de Política Cultural de Maceió e da plataforma Participa Mais Brasil o texto final contém 13 princípios, dos quais estão descritos: Liberdade de expressão, criação e fruição; diversidade cultural; respeito aos direitos humanos; direito à arte e à cultura; direito à informação, à comunicação e à crítica cultural; e direito à memória e às tradições, entre outros que podem ser conferidos na íntegra clicando aqui.
“Considerando a importância de todos os princípios elencados, sem distinção, destaco o do Inciso IX, que trata da democratização das instâncias de formulação da política cultural, visando à participação e controle social na formulação e acompanhamento dos seus instrumentos de execução. Porque entendo que uma norma, qualquer que seja, precisa ser constantemente debatida e aprimorada por aquelas pessoas que possam vir a fazer uso dela, sob risco de se tornar apenas um documento frio e sem sentido para a comunidade. Com o texto colocado em pauta pelos segmentos universitários e para além dos muros da Ufal, ele de fato pode se instalar na cultura das pessoas”, salientou Jorge.
Além de incluir a valorização das diferentes manifestações culturais, a responsabilidade dos agentes públicos, a garantia da autonomia universitária e o estímulo à inovação e à criatividade, a Política Cultural da Ufal tem como um dos princípios a responsabilidade socioambiental alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) desenvolvidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), e demais agendas socioambientais.
Para Jorge André, a cultura precisa ser mobilizada em sintonia com as transformações do Planeta: “A causa ambiental está na pauta do dia. O mundo não aguenta mais que se produza desenfreadamente, visando apenas ao lucro e esgotamento da Terra. Assim, a cultura, através de suas produções, pode auxiliar e muito a difundir e fomentar valores associados à responsabilidade socioambiental como vetor do desenvolvimento sustentável”.
Ele comentou também sobre a importância de ter a cultura fomentada por agentes públicos e privados para o desenvolvimento da economia da criativa. “Na prática, ter uma disciplina normativa sobre recursos e fontes de financiamento ajuda a retirar de certo limbo administrativo uma série de iniciativas que possam servir para que a cultura na Universidade passe a dispor de rubrica específica, bem como auxiliar aos equipamentos culturais a arrecadarem valores a fim de ajudar na manutenção e aperfeiçoamento desses espaços, em sintonia com a Política Cultural da Ufal”, observou.
Um passo para um grande legado
A consolidação dos princípios e objetivos descritos na política aprovada vai além do que a Ufal pretende com seus equipamentos culturais, quais sejam os museus Theo Brandão, de História Natural e Pinacoteca, Usina Ciência, Orquestra Sinfônica, Corufal, Corpo Cênico, Orquestra Pedagógica, Núcleo de Percussão, Casas de Cultura e o grupo Abí Axé Egbé. A aprovação da política pode ampliar o entendimento coletivo sobre a cultura e valorizar o que a Ufal investe na área para a sociedade.
“Apesar das constatações que a gente faz, desta ação explícita da Universidade no campo das artes, da cultura, das ações, expressões e projetos, a gente ainda tem uma certa hierarquização de áreas de conhecimento que é muito forte. O setor cultural é, infelizmente, ainda é visto por algumas pessoas da própria academia como uma área de menor valor. Essa é uma batalha titânica que nós travamos internamente, no sentido de que é preciso tá o tempo todo afirmando e reafirmando que o setor artístico e cultural não é só espetáculo, mas é também uma área de produção de novos saberes, de produção de conhecimento, de produção de pesquisa e de formação de profissionais que vão atuar no mercado da economia criativa”, reforçou Sérgio Onofre.
O Pró-reitor Cézar Nonato corrobora com essa fala e acrescenta: “É importante destacar que a política cultural traz em seu escopo um caráter ampliado do fenômeno da Cultura procurando assim dialogar com as diversas expressões culturais que temos em nossa instituição de forma a estimular e aprofundar a presença da cultura nas diversas áreas do conhecimento”.
Eles levantam essa questão porque o passo natural a partir da formatação da Política é o desenvolvimento de um Plano de Cultura. Mas, segundo Onofre, é preciso realizar antes uma etapa fundamental para que o plano seja sólido e eficaz: o mapeamento do que a Universidade produz.
“Precisamos, efetivamente, saber quais são as ações, iniciativas, projetos, atividades desenvolvidas por diferentes unidades acadêmicas e espaços que a Universidade cria e oferta pra sociedade. A gente precisa ter todas essas ações mapeadas, organizadas para, inclusive, dar suporte. Elaborar um Plano de Cultura que atenda a todas as necessidades da instituição e que possa ofertar o máximo de ações pra sociedade. Então, eu acredito que os próximos passos a serem dados a partir da CAC [Coordenação de Ações Culturais], são ações que precisam ser construídas com uma ampla e completa participação da comunidade acadêmica e envolver os usuários”, adiantou Sérgio Onofre.
O caminho está traçado e a equipe da Ufal já está pronta para dar continuidade. O futuro breve vai ser planejado, mas por hora, a instituição comemora o marco histórico para a cultura de Alagoas. “Nossa celebração, enquanto fazedoras e fazedores de cultura a partir de contexto de Instituição Pública de Ensino Superior, se dá no sentido de enxergarmos aí a valorização da cultura enquanto eixo estruturante do ensino, pesquisa e extensão. Essa luta, no entanto, é contínua; que venha a elaboração do Plano de Cultura!”, finalizou Jorge André.