Mulheres que superaram o câncer de mama contam com apoio da Ufal

Grupos mostram que os efeitos das atividades físicas vão além das métricas de prevenção

Por Manuella Soares - jornalista
Muitas histórias são transformadas quando as mulheres decidem colocar o corpo em movimento
Muitas histórias são transformadas quando as mulheres decidem colocar o corpo em movimento

São muitos motivos para criar o hábito de fazer atividade física. E quando a prática está aliada à prevenção de câncer de mama o estímulo vem junto com a esperança. No mês colorido de rosa para chamar atenção sobre a doença, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) se engajou em diversas ações. Entre elas, atividades de projetos onde muitas histórias foram transformadas quando as mulheres decidiram colocar o corpo em movimento.

Ajudadas pelo projeto Com Ação, do Instituto de Educação Física e Esporte (Iefe) em parceria com a Santa Casa de Maceió, 35 mulheres cultivaram o bem-estar fora do ambiente hospitalar e foram ao encontro da natureza. Uma trilha organizada pelo grupo celebrou o Outubro Rosa durante uma caminhada no Zoo Parque Pedro Nardelli, na Utinga, como parte de uma proposta que tem tudo a ver com a forma com que elas se sentiram nessa atividade: dispostas e felizes!

Desde 2020 a Ufal vai ao setor de oncologia da Santa Casa para acompanhar sobreviventes do tipo mais comum de câncer entre as mulheres no Brasil. O projeto Com Ação, coordenado pelo professor Jean Toscano, propõe um modelo de intervenção de exercícios físicos realizados num ciclo de 12 semanas.

As pacientes frequentam o espaço duas vezes por semana e realizam diferentes atividades que combinam caminhada e sessões de exercícios cronometrados em cada estação montada, totalizando 45 minutos. Os estudantes do Iefe colaboram no projeto com o monitoramento dos parâmetros das mulheres antes e após a execução das atividades, e os resultados têm sido animadores.

Ao aferir diariamente as pressões arteriais Sistólica (PAS) e Diastólica (PAD), indicadores de saúde que afetam o tratamento do câncer, as participantes obtiveram respostas bastante positivas: “Observou-se, com exceção da quarta e sexta sessões, que os níveis de PAS diminuíram em todas as sessões após o exercício. Para a PAD, somente houve diminuição significativa após o exercício nas três primeiras sessões. [As mulheres] que aderiram ao programa de exercício físico apresentaram redução aguda e crônica da PAS e da PAD”, cita o trabalho publicado da Revista Brasileira de Cancerologia.

Além da pressão arterial, todas as pacientes recebem acompanhamento nos ciclos para avaliar os efeitos dos exercícios em aspectos como depressão, fadiga, dor, qualidade de vida, sono, pressão arterial, força muscular, resistência cardiorrespiratória, composição corporal e flexibilidade.

“Nosso projeto já pode produzir evidências científicas. Em novembro serão apresentados trabalhos em um evento internacional que aponta os benefícios do projeto em dois indicadores bastante frequentes em sobreviventes de câncer de mama: depressão e fadiga. Em ambos, pode ser observada melhora significativa num período de 12 semanas de intervenção”, destacou o professor Jean Toscano anunciando também que esse modelo será levado para a Universidade de Coimbra, em Portugal, durante um pós-doutorado.

Nos braços do mar

Quem já passou pelo tratamento do câncer e precisou retirar parte ou toda a mama tem algumas restrições no braço do lado afetado. Mas a ciência já mostrou alternativas que melhoram as condições de saúde dessas mulheres. É o caso da professora Elizabeth de Souza, da Escola de Enfermagem (Eenf/Ufal), que foi diagnosticada com a doença em 2021, enfrentou todos os sintomas colaterais do tratamento e encontrou ânimo no mar.

Ao receber um convite inusitado de uma amiga e ser liberada pelos médicos que a acompanhavam, a professora disse sim para uma nova experiência: a canoagem. “Remar nunca passou na minha cabeça. Mas a canoagem mudou a minha vida. Eu sou mais alegre, mais feliz, eu espero chegar o sábado só pra ir remar!”, contou.

A modalidade apresentada à Elizabeth não foi por acaso. A treinadora do grupo Remadoras Rosas, Vanessa Viana, explica que estudos do médico canadense Don Mckenzie, mostram impactos significativos no tratamento de linfedema associados ao movimento de remada. A doença é comum em pacientes submetidas às cirurgias na mama porque causa inchaço nos membros superiores, já que os vasos linfáticos ficam bloqueados ou lesionados, impedindo que a linfa seja drenada.

“A remada é uma forma de reduzir esse inchaço, e alivia a dor. A remada também trabalha o corpo inteiro, todos os movimentos do corpo, alguns músculos como costa, perna, glúteo, barriga e braço. Então, fortalece, trabalha a mobilidade, traz vários benefícios como a circulação do sangue e o fortalecimento lombar”, ressalta Vanessa.

Todos esses benefícios foram sentidos pela professora Elizabeth. Ela relata que a melhora acontece, especialmente de dentro pra fora. “O grupo me acolheu, é um grupo que traz vida, tem mulheres mastectomizadas, que sofreram muito, que tiveram recidiva de câncer e estão lá. Todas remam com garra, com amor. Eu hoje sou uma pessoa muito mais positiva, eu quero viver, curtir a vida e meus netos”, enfatizou a professora que, nesse Outubro Rosa, deu as mãos a todas as remadoras formando um laço humano para lembrar sobre a prevenção.

Mais do isso, foi um convite para encontrar na canoagem a motivação para o enfrentamento da doença. “O benefício maior que existe é a conexão com o mar, a natureza. A remada traz uma reflexão de leveza. Para elas que estão abaladas não só com a doença, mas também fisicamente, é uma forma de terapia. Agente chama de ‘marterapia’, ‘remoterapia’”, expressou Vanessa.

Aliada a qualquer receita medicamentosa, essas mulheres estão experimentando uma fórmula poderosa, que trazem estampada no peito durante as atividades: “Me amar + remar = cura”.