Projeto Academia e Futebol é destaque em eventos internacionais

Pesquisa e documentário, desenvolvidos durante a Expedição Científica do Baixo São Francisco, analisam o impacto do futebol na vida de meninas ribeirinhas

Por Iara Melo e Rose Ferreira - jornalistas
Pesquisa e documentário, desenvolvidos durante a Expedição Científica do Baixo São Francisco, analisam o impacto do futebol na vida de meninas ribeirinhas
Pesquisa e documentário, desenvolvidos durante a Expedição Científica do Baixo São Francisco, analisam o impacto do futebol na vida de meninas ribeirinhas

O projeto guarda-chuva Academia e Futebol, do Instituto de Educação Física e Esporte(Iefe) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), em parceria com o grupo de pesquisa Observatório de Mídias e Tecnologias Digitais (Remix), apresentou resultados de pesquisa e sua produção audiovisual em três eventos de destaque, durante os meses de agosto e setembro: o Seminário Internacional Fazendo Gênero 13, através da 9ª Mostra Audiovisual Competitiva, em Florianópolis-SC; o Simpósio Nacional do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Estudos do Futebol Brasileiro, também em Florianópolis; e o Congresso Latino-Americano de Estudos Socioculturais do Esporte (Alesde), realizado em La Plata, na Argentina.

A pesquisa "Meninas ribeirinhas e ídolos do futebol brasileiro: um mergulho imagético no Baixo Rio São Francisco" foi conduzida pelos professores Silvan Menezes, Leonéa Santiago e Gustavo Araújo, e pelos estudantes José Pereira e Rose Tavares, e investigou a relação de meninas ribeirinhas com ídolos do futebol brasileiro, como Neymar Júnior e Marta. Das 196 meninas ribeirinhas entrevistadas, ao longo das sete cidades alagoanas visitadas pela Expedição em 2022, 84,69% delas reconheceram Neymar e apenas 41,32% reconheceram Marta.

Mas, curiosamente, muitas delas não reconheceram nem Neymar nem Marta, o que, segundo o professor Silvan, é um reflexo da proteção de contextos populares em relação à mercadorização do esporte. “Percebemos aí um pouco uma ambiguidade, porque a mesma cultura popular que, de algum modo, isola-se do espetáculo esportivo; por outro lado, fracassa, do ponto de vista midiático e educativo, por não valorizar a Marta, enquanto mulher alagoana que atravessou uma série de barreiras e promoveu o empoderamento feminino no futebol”, avalia Menezes.

Assim, um dos pontos centrais da crítica do projeto é a falta de visibilidade e empoderamento das mulheres no futebol, especialmente em regiões isoladas. Para o graduando José Pereira, essa realidade é uma crítica ao processo de inclusão no esporte e aponta para a necessidade de maior investimento na educação física e na promoção do futebol feminino.

Produção audiovisual

Além do artigo expandido, o grupo também produziu um mini documentário intitulado “Umas meninas, um velho, uma rainha”. A ideia de criar o documentário surgiu de maneira espontânea. A equipe percebeu que os achados da pesquisa não poderiam se limitar a um documento textual, era preciso explorar aquelas imagens, aquela estética. Assim, a linguagem audiovisual foi escolhida como uma forma mais profunda de apresentar a realidade das meninas ribeirinhas e suas relações com o futebol.

Durante a apresentação do documentário nos eventos internacionais, o contraste entre a riqueza cultural e a precariedade das condições de vida gerou grande curiosidade. “Foi a primeira vez que exibimos o documentário fora do Brasil e a resposta foi muito interessante. A região foge do estereótipo de litoral brasileiro de mar e sol, oferecendo uma estética ribeirinha única”, destacou o professor Silvan.

Os trabalhos desenvolvidos abriram caminho para futuras colaborações com pesquisadores interessados em conhecer a realidade das comunidades ribeirinhas. De acordo com o docente, o próximo passo será, com financiamento adequado, exibir o documentário em escolas e comunidades para promover uma reflexão mais profunda sobre o futebol feminino e seu papel na construção de novas narrativas sociais.

Essas ações fazem parte de um esforço contínuo da Ufal para unir esporte, ciência e inclusão social, destacando a relevância da universidade na promoção de pesquisas que dialogam diretamente com as realidades alagoana e brasileira.

Experiências valiosas

Para os estudantes de Educação Física e expedicionários Rose Tavares e José Pereira, a Expedição é uma “aventura científica”, afinal são dez dias navegando com a equipe em um barco e proporcionando atividades desportivas e doações de materiais para a continuidade da prática esportiva nas comunidades visitadas.

A aluna destacou o papel fundamental do projeto Academia e Futebol na promoção do empoderamento feminino, especialmente ao proporcionar às meninas ribeirinhas uma oportunidade de reflexão sobre seu espaço na sociedade. “Foi uma oportunidade de contribuir para o desenvolvimento delas não só na prática esportiva, mas também na construção de um espaço de fala e luta pelos direitos das mulheres”, refletiu Rose Tavares, que também destaca que a participação na expedição trouxe frutos pessoais e profissionais.

Para José Pereira, a vida foi transformada depois do ingresso na universidade. Apesar das dificuldades com leitura e escrita, desde a infância, os desafios acadêmicos têm o impulsionado a seguir em frente. "Hoje, vou a lugares que nunca tinha nem sequer pesquisado no mapa. Minha vida deu uma reviravolta absurda desde que entrei na Ufal, e agora eu sonho com o mestrado e o doutorado", celebra Pereira.

A Expedição Científica do Baixo São Francisco, que abrigou tanto a pesquisa quanto a produção do documentário, faz parte de um amplo esforço da Ufal para promover saúde, educação ambiental e pesquisa nas comunidades ribeirinhas. Atualmente, é o maior programa de biomonitoramento ambiental em águas continentais brasileiras, percorrendo 250km do baixo curso do rio, entre os estados de Alagoas e Sergipe. Para conhecer melhor o projeto Academia e Futebol, acompanhe o perfil @academiaefutebolal no Instagram; e para saber mais sobre o trabalho das Expedições Científicas, clique aqui.