Neabis de Alagoas realizam primeiro encontro na Serra da Barriga
Atividade aconteceu no último dia 18 de novembro e fez parte do evento "Vamos Subir a Serra"
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A Serra da Barriga, em União dos Palmares, foi palco do primeiro encontro dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabis) do estado, nesta segunda-feira (18). A programação fez parte do evento "Vamos Subir a Serra" e contou com a presença do músico, poeta, produtor e professor Tiganá Santana, baiano de Salvador, especialista em línguas africanas, e do professor Vagner Bijagó, bissau-guineense, do Campus do Sertão da Ufal, pesquisador dos estados africanos e das relações Brasil-África.
O encontro ocorreu à tarde no Parque Memorial Quilombo dos Palmares e encerrou com o pôr do sol cultural no mirante Acaiene, em uma vista espetacular das terras palmarinas ao som da banda Natividade e da Orquestra de Tambores. A proposta teve como objetivo fortalecer a rede alagoana de Neabs e Neabis, formada pelas instituições de ensino superior estaduais e federais (Uneal, Uncisal, Ufal e Ifal), e estreitar os laços com organizações da sociedade civil e instituições estatais que tratam das questões de raça e etnia, parceiras dos núcleos.
O evento marcou o início das comemorações desta semana, que vai até o sábado 23 e que tem como auge o dia 20 de novembro. Este ano reconhecido nacionalmente como Dia de Zumbi, um dos maiores heróis negros nacionais, e Dia da Consciência Negra, sendo feriado em todo o Brasil, ato aprovado pela Câmara dos Deputados em novembro de 2023, tendo como relatora a deputada negra Reginete Bispo (PT), e sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro do mesmo ano.
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O 20 de novembro é fruto da luta contínua do Movimento Negro, da sua vontade incessante de levar os feitos e personalidades negras ao patamar dos feitos e personalidades que representam a comunidade, a história e a cultura brasileiras. A inserção da data no calendário dos feriados que têm vigência em todo território tornou esta conquista ainda mais significativa, visto que agora integra a lista das comemorações genuinamente não brancas reconhecidas como celebrações nacionais, reforçando ainda mais a participação de negras e negros na história oficial da fundação do Brasil - e isso é realmente um fato importante quando lembramos que até hoje a Lei 10.639/2003, que inclui no currículo oficial da educação básica a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira, encontra vários entraves para sua aplicação, lembrou a professora Rosa Correia, integrante do Neabi-Ufal.
“Essa data, que também é preciso que se lembre, é fortemente pensada por Oliveira Silveira, um poeta e militante histórico do movimento negro no Brasil, do Rio Grande do Sul. É uma data que lembra, não a morte, mas a vida de Zumbi. E a partir da qual também se pode pensar, ressignificar, colocar de novo no centro das nossas vidas a luta pela permanência digna em todas as camadas e instâncias as presenças negras no Brasil”, disse o poeta e cantor Tiganá Santana.
Além de relembrar a importância do 20 de novembro, o primeiro encontro de Neabs e Neabis de Alagoas teve como tema central a Cosmovisão Bantu no Brasil, discutindo como a cultura africana constituiu, em grande medida, a cultura brasileira. O professor e pesquisador Vagner Bijagó criticou o silenciamento da cultura bantu na atualidade: “A gente fica pensando como é que nós temos essa presença constante da cultura africana e da cultura bantu na língua do Brasil e em Alagoas, e esse fenômeno cultural, esse agenciamento, não é tratado na escola e na sociedade. Momentos como esse são de fundamental importância para a gente olhar para nós mesmos (...) para que possamos espalhar essa cultura e cobrar do Estado a sua observância nas escolas e na sociedade”.
A roda de conversa realizada no local onde foi a sede do antigo Quilombo dos Palmares representou, acima de tudo, a luta pelo alargamento da participação da cultura africana e da história do povo negro na educação e memória deste país, ponto importante da luta de combate ao racismo, pela promoção da equidade racial e para a ampliação das políticas públicas de ações afirmativas no estado de Alagoas e no Brasil.