Pesquisadores registram branqueamento de corais na costa alagoana
Eles agora avaliam os impactos deste fenômeno sobre os peixes nos recifes
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O que foi previsto e alertado há alguns meses atrás agora se confirmou: os corais alagoanos estão sofrendo com o fenômeno de branqueamento, correndo sério risco de morte, o que pode ter consequências graves para todo o ecossistema recifal e para o ser humano.
Em março, os pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação no Antropoceno (Ecoa) e de outros laboratórios parceiros associados ao PPG em Diversidade Biológica e Conservação dos Trópicos realizaram expedições de campo e detectaram o fenômeno nos recifes de norte a sul da costa como a APA Costa dos Corais, Maceió e Resex Lagoa de Jequiá, em Jequiá da Praia.
O projeto vem monitorando a saúde das comunidades marinhas e as condições oceanográficas de Alagoas desde o ano passado, e agora confirma a elevação da temperatura da água do mar que já atingiu 34°C em março de 2024. Isso foi suficiente para causar o branqueamento em cerca de 90% dos corais observados, onde todas as espécies mostraram algum sinal do fenômeno, como o coral-de-fogo (Millepora alcicornis) umas das espécies mais vulneráveis.
O Branqueamento dos corais é um dos principais fatores responsáveis pela mortalidade de corais e declínio dos recifes em todo mundo, e vem causando aumento da morte de corais dos recifes alagoanos nos últimos quatro anos. Diversas espécies dependem dos corais para sobreviver como peixes, polvos e lagostas, que são importantes fontes de alimento para o ser humano.
O projeto avalia agora se os corais vão morrer ou se recuperar desse fenômeno e como isso pode afetar as espécies de peixes que vivem associadas a esses corais. Essa avaliação é feita analisando os corais no ambiente com fotografia subaquática de alta resolução analisando a intensidade do branqueamento (forte e fraco) em cada espécie de coral, estimando e mapeando a estrutura tridimensional que o coral constrói no solo marinho e identificando e quantificando as espécies de peixes que vivem associadas a esses corais. Essa avaliação está sendo feita desde antes da elevação da temperatura da água em Setembro de 2023,segue agora no pico da elevação (março e abril de 2024) até o final do inverno de 2024 quando as temperaturas reduzem.
O fenômeno de branqueamento dos corais ocorre quando as altas temperaturas da água faz com que o animal expulse da sua pele as pequenas algas coloridas (chamadas zooxantelas) que vivem ali associadas, e seu tecido agora transparente, mostra a cor branca do seu esqueleto, daí o nome “branqueamento”.
Em condições normais da água, as "zooxantelas" vivem no tecido do coral fornecendo os nutrientes necessários para sua sobrevivência, em troca de abrigo em uma relação benéfica aos dois. Mas quando a água esquenta muito as "zooxantelas" produzem substância tóxicas e o coral as expulsa. Nesta condição sem a presença dessas algas nos seus tecidos, os corais ficam vulneráveis e podem morrer parcial ou completamente, mas também podem se recuperar completamente, caso a temperatura da água não permaneça aquecida por muito tempo e retorne ao normal.
O fenômeno foi previsto para o verão deste ano (2023/2024) e está ocorrendo em escala global atingindo diversos recifes ao redor do mundo, inclusive outros locais no Brasil e em toda costa alagoana, como consequências do aquecimento global.
O projeto
Este projeto é coordenado pelos professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Robson Santos e Ricardo Miranda, e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e CNPq e conta com a parceria do professor Claudio Sampaio do Laboratório de Ictiologia e Conservação (LIC) e a professora Taciana Kramer do Laboratório de Ecologia Bentônica (LEB) ambos da Ufal Penedo, todos integrantes do PELD Costa dos Corais.
Além disso, o projeto contribui para uma iniciativa de monitoramento nacional do branqueamento liderado pelo Projeto Coral Vivo e apoiado pelo Ministério de Meio Ambiente do governo federal.