Ufal e Fundação Palmares discutem requalificação da Serra da Barriga
Momentos aconteceram na Serra da Barriga, na Casa Jorge de Lima e no Campus A.C. Simões com visitas, reuniões e debates
De 23 a 25 de maio, a universidade federal de Alagoas, por meio do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Fundação Cultural Palmares, realizaram uma série de reuniões para debater a requalificação da Serra Barriga.
os momentos aconteceram na Serra da Barriga e na Casa Jorge de Lima, em União dos Palmares e no Campus A.C. Simões, em Maceió, com visitas técnicas, reuniões, debates e lançamentos, com a presença de representantes dos ministérios, governo, universidade e sociedade civil.
Sobre o trabalho a ser desenvolvido para a requalificação da Serra da Barriga, o reitor Josealdo Tonholo explicou como esse é um projeto que envolve muitas esferas da sociedade: “A gente não está trabalhando só uma questão de terreno. A gente está trabalhando uma questão de cultura, de história, de educação, uma questão de dar retorno. Isso passa pelo envolvimento de todos os setores que estão ligados de alguma forma: educação, turismo, cultura, história do estado”, explicou.
Na visita técnica ao casarão colonial, que foi a primeira sede do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas, foi vista em detalhes a reforma que está sendo feita pelo Iphan, já pensando sobre projetos para a sua reinauguração. Durante a visita, Zezito Araújo, professor aposentado da Ufal e ativista do movimento negro, que trabalha na Serra da Barriga desde a década de 80, falou sobre a requalificação e colocou a ideia de liberdade como elemento central a ser considerado para a região.
"Diante dessa nova realidade que nós estamos vivendo agora, eu acredito que o fio condutor seja a ideia de liberdade. Tudo que criamos aqui deve ter como eixo fundamental a ideia de liberdade, pois foi essa mesma ideia que fundamentou a criação do Quilombo dos Palmares. Com isso, você consegue dialogar todos os conflitos permanentes que existiram entre os quilombolas e os colonizadores, que não fica só no passado, mas você traz também essa ideia de liberdade para o presente, pra relação com a população negra e não negra aqui no Brasil”, afirmou o professor.
Em Maceió, na sala do Conselho Universitário, no prédio da Reitoria, uma reunião com a presença do reitor Josealdo Tonholo, de representantes do Neabi, Fundação Palmares e da secretaria Estadual de Cultura, onde foi definida a organização dos comitês para debater e acompanhar o projeto de requalificação da Serra. A ideia era que desta reunião fosse retirado o documento com encaminhamentos iniciais para o trabalho colaborativo com as entidades e ativistas interessados na causa da Serra. A vice coordenadora do Neabi Ufal, professora Rosa Correia, que pesquisa sobre a Serra falou um pouco sobre a importância desse momento: “Essa ideia de requalificação da Serra hoje é de rever todas as dimensões, não só a de exemplo da república brasileira, mas também tem a ver com a redemocratização do Brasil, tem a ver com questões de gênero, e tantas outras questões. Estamos felizes com essa reunião envolvendo tantos órgãos. E a gente revive o que já aconteceu há mais de 40 anos. A Serra já é patrimônio e nós queremos que ela tenha outras dimensões simbólicas, outros significados e realmente se apresente como um território importante para a identidade negra e principalmente para a alagoanidade.”
Na ocasião, o presidente da Fundação Cultural Palmares, João Jorge Rodrigues, falou um pouco sobre o envolvimento da fundação na requalificação e a importância da Serra para o movimento negro no Brasil: “Se eu tiver que traduzir o que vamos fazer daqui pra frente, eu falarei de duas coisas: a pedagogia da memória e a estrutura e o caminho da liberdade. Nós precisamos mais do que requalificar, nós precisamos rememorar que aquela terra é a terra prometida. Queremos entregar mais do que a formação acadêmica, nós queremos entregar a emoção. Por mais que a Palmares cresça, o lugar de investimento e prioridade da Palmares precisa ser a Serra da Barriga.” afirmou João Jorge.
No sábado, 25 de maio, representantes da ufal, Fundação Palmares, secretaria de cultura, prefeitura de União dos Palmares e sociedade civil estiveram mais uma vez na Serra da Barriga para a entrega da modernização realizada, em parceria com o Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, o Projeto Vamos Subir a Serra e o Tik Tok. Na solenidade, que contou com a presença também da ministra da cultura Margareth Menezes, foram entregues novas placas de sinalização que estão colocadas por toda a Serra e a restauração das placas de áudio, que contam com a narração e mensagens de ativistas e artistas importantes como Leci Brandão, Djavan, Chica Xavier, entre outros. Também foi lançado o aplicativo da Serra da Barriga.
O projeto de requalificação agora passa para o processo de divisão de comitês e reuniões e debates para a organização de como tudo irá acontecer, para que, segundo o reitor Josealdo Tonholo, em 2026 possa ser entregue uma Serra requalificada e modernizada para a população alagoana.