Pesquisa da Ufal conta com apoio da população para monitorar área costeira

Projeto integra iniciativa internacional e base de monitoramento cidadã foi instalada na Praia de Jatiúca

Por Thâmara Gonzaga - jornalista
- Atualizado em
Base de monitoramento instalada na Praia de Jatiúca | nothing
Base de monitoramento instalada na Praia de Jatiúca

Calor acima da média e por períodos mais longos. Chuvas cada vez mais intensas ocasionando fortes enchentes. Aumento do nível do mar. As alterações climáticas, assunto há muito tempo alertado por cientistas, estão se tornando cada vez mais evidentes. E no processo de compreensão destas alterações sobre as praias, o engajamento da sociedade é crucial.

Em maio deste ano, o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Henrique Ravi Almeida, iniciou a pesquisa CoastSnapAL, um projeto de ciência cidadã criado na Austrália, que vai contar com a participação do público no monitoramento da região costeira de Alagoas. E a população pode ajudar nesta iniciativa fotografando o mar.

Neste primeiro momento, foi instalada uma base piloto do projeto na Praia de Jatiúca, que fica próxima ao hotel Maceió Atlantic Suites. O pesquisador descreve que a base CoastSnapAL é composta por um "toco" de eucalipto e, no topo, conta com um suporte de metal para posicionamento dos smarthphones e obtenção das fotografias. No local, há duas placas fixadas, sendo uma informativa e outra orientativa. Nesta última, está estampado um código QR que, ao ser escaneado, direciona o usuário à página do Whatsapp do projeto, sendo este o espaço para onde deve ser enviada a foto capturada.

Lembrando que só vale fotos tiradas desse local da praia e do suporte disponibilizado pelo projeto, uma vez que é preciso garantir o padrão no monitoramento. Pede-se, ainda, a gentileza e o cuidado ao manusear o suporte a fim de garantir a vida útil do equipamento.

“De forma ininterrupta, haverá monitoramento das imagens obtidas e enviadas pelos frequentadores de nossas praias, sejam eles moradores da comunidade local, turistas ou próprios pesquisadores vinculados ao projeto. O projeto não tem prazo para terminar, enquanto houver envio das imagens através da base CoastSnapAL, haverá monitoramento da dinâmica posicional da linha de costa”, informa o pesquisador.

Professor Henrique explica que a escolha por esse local se deu pelo fato de atender a critérios técnicos e logísticos exigidos pelos idealizadores do Projeto CoastSnap Austrália, vinculados a University of New South Wales (UNSW) (Universidade de Nova Gales do Sul, Sydney). “Dentre estes critérios, podemos citar alguns, tais como: a altitude da linha de costa, desenvolvimento longitudinal da praia, existência de pontos de controle, exposição ao público e capacidade técnica para levantamento de dados oceanográficos e morfodinâmicos do litoral”, diz.

A expectativa, informa ele, é expandir para mais pontos do litoral alagoano, mas fica condicionada à aprovação dos projetos de pesquisa submetidos a editais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

“A implantação deste novo projeto no litoral de Alagoas busca construir um nítido alinhamento entre a percepção cada vez maior dos efeitos das mudanças climáticas com a ciência cidadã. Esperamos que a parceria entre moradores, usuários e cientistas possibilite atingir um único objetivo: o bem-estar e a segurança das comunidades litorâneas, especialmente, daquelas localizadas em áreas de risco costeiro”, destaca o pesquisador.

Análise dos dados

As imagens enviadas pela população serão recebidas pelos pesquisadores do Grupo de Estudos Integrados ao Gerenciamento Costeiro (Geigerco), liderado pelo professor Henrique Ravi Almeida, sendo armazenadas em um banco de dados para análise qualitativa e processamento computacional, por meio de algoritmos próprios para avaliação temporal da dinâmica posicional da linha de costa.

Por meio de tais procedimentos, o pesquisador detalha que “será possível inferir sobre a tendência posicional do litoral, bem como confeccionar produtos, como vídeos time-lapse [técnica que apresenta fotos ou vídeos em modo acelerado] do período avaliado, gráficos e mapas relacionados à posição temporal da linha de costa. Além do mais, o projeto, secundariamente, permite inferir sobre o nível de poluição da face praial, visto ser possível identificar elementos depositados, como por exemplo, plásticos e objetos não pertencentes ao litoral”, afirma.

Ao explicar a relevância do monitoramento das áreas costeiras, professor Henrique esclarece que a linha de costa é uma feição naturalmente móvel, sendo as ondas, marés, agentes climáticos e variações no nível do mar os principais agentes modeladores. Ele informa que, atualmente, os avanços tecnológicos em instrumentos de pesquisa e métodos de análise possibilitam uma diversificação no monitoramento da praia.

“Os dados coletados serão avaliados em uma perspectiva local, visto que o nível do mar e o comportamento das marés são únicos para um determinado local posicionado ao longo do planeta. Assim, será possível conhecer e compreender como os efeitos das mudanças climáticas estão agindo sobre trechos do litoral de Alagoas. Com a implantação de outras bases, será possível também inter-relacionar os dados e resultados de diferentes locais para compreender o comportamento dinâmico da linha de costa ao longo do tempo”, informa Henrique.

Mais sobre o CoastSnap

Professor Henrique relata que o projeto CoastSnap  foi criado na Austrália, em 2017, pelo pesquisador Mitchell Harley e colaboradores do Water Research Laboratory, University of New South Wales (UNSW) (Laboratório de Pesquisa de Água da Universidade de Nova Gales do Sul), Sydney, Austrália. O projeto tem como direcionamento a ciência cidadã, a qual consiste na união entre pesquisadores e população para coleta de dados a serem utilizadas em pesquisas científicas.

“A iniciativa compreende uma rede mundial de monitoramento costeiro participativo e de baixo custo, que conta com mais de 200 bases distribuídas em 21 países, em que as fotos obtidas pela comunidade, por meio de smartphones posicionados sobre as bases do projeto, são utilizadas para avaliar a dinâmica temporal da linha de costa local”, explica o pesquisador da Ufal.

No Brasil, as bases do projeto estão distribuídas em nove estados litorâneos, sendo a maioria liderada por docentes de universidades públicas federais. Além da Ufal, por meio Geigerco em conjunto com a Gerência de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade (Geclim) do Instituto do meio Ambiente de Alagoas (IMA), as universidades federais do Maranhão (UFMA), do Ceará (UFC), de Pernambuco (UFPE), de Sergipe (UFS), da Bahia (UFBA), do Rio de Janeiro (UFRJ), Fluminense (UFF), de Santa Catarina (UFSC), do Rio Grande do Sul (UFRGS) são algumas das instituições com bases do CoastSnap.

Para saber mais, acesse:

Instagram do CoastSnapAL. Vídeo explicativo do CoastSnap. 

Página do CoastSnap Australiano